Tudo O Que Eu Queria · Ken Ryuguji

14.

Quinta-feira, 20 de janeiro

A dor costumava ser mais intensa antes, tanto que eu mal conseguia me mover. Ainda não consigo totalmente, mas já me sinto melhor. Alguns lugares estavam mais inchados e sensíveis ao toque, mas percebo que a dor está diminuindo. Não é mais como antes, quando parecia que minha alma saía do corpo a cada movimento. Os hematomas também estão mudando de cor; não são mais roxos, agora alguns estão azuis e outros esverdeados. Tomei banho apenas ontem, depois de tanto tempo. A última vez tinha sido quando os meninos disseram que viriam aqui, logo após tudo ter acontecido. Acredito que só consegui por pura adrenalina, porque depois disso, mal conseguia ficar em pé. Então, comecei a usar lenços umedecidos. E, para piorar toda a minha situação, estou menstruada e com cólica.

— Você faltou à escola a semana inteira, praticamente. O que tá rolando, hein?

— Não é nada, Baji. Não se preocupe — tentei desconversar, mas pude ouvir sua gargalhada do outro lado da linha.

— Quer mentir para mentiroso? Você acha que a gente é fraco, por acaso?

— O quê?

— Acha que a gente não pode proteger você, e por isso fica trancada em casa. Não nos subestime, ok? — Ele disse, e mesmo sabendo que ele não podia ver, eu sorri. — Eu meto a porrada em qualquer um, vou colocar as técnicas que seu avô me ensinou em prática.

— Não é isso.

— Então o que é?

— Deve ser aqueles problemas femininos — ouvi Chifuyu sussurrar ao fundo. — Não faça essa cara de confuso, você é burro ou o quê?

— De qualquer forma, liguei para perguntar se você vai para a festa do Tetta Kisaki. Acho que seria uma boa maneira de se distrair. São 16h agora, a festa é às 20h. Se você se sentir bem, me avisa. — Baji disse, desligando a ligação antes que eu pudesse responder.

Baji me conhecia bem, sabia que eu iria recusar de imediato. Desligar antes de eu responder me dava tempo para pensar se deveria ir ou não.

Eu tinha tomado remédio para cólica, e a dor não era tão forte como no primeiro dia. Ontem estava insuportável. Consigo andar melhor, mas ainda me movo devagar. Esconder os hematomas não seria um problema, já que meu rosto estava livre deles, e os pequenos ferimentos no meu pescoço já haviam sumido. Mesmo assim, não tinha certeza se era uma boa ideia ir à festa.

Ainda tinha a teoria de que poderia existir um traidor tentando manipular a Toman. Não conheço todos os membros, e não me lembro de todos a quem fui apresentada. Conheço os que estão no topo da hierarquia por serem mais próximos do Mikey, mas será que há alguém próximo que eu não conheça? Ou pode ser alguém que eu já conheço... Hakkai, Mucho, e Kisaki, que está substituindo o Pa-Chin.

Substituição. Talvez seja alguém que já foi membro da Toman e agora busca vingança. Mas isso complicaria ainda mais. Mal conheço os membros atuais, quem dirá os antigos. E mesmo se eu fosse à festa do Kisaki, será que saberia identificar alguém agindo de forma suspeita?

— Estou pensando demais nisso. Talvez não tenha traidor nenhum — murmurei para mim mesma, enquanto pegava minha garrafa de água na geladeira.

Sabia que havia algo errado. Ele não aceitaria um "não" como resposta tão facilmente, especialmente sem saber dos hematomas e da situação atual do meu corpo. Baji apareceu na minha casa às 19h35, mesmo depois de eu ter mandado uma mensagem dizendo que não iria. Ele simplesmente disse: "Vou esperar você se trocar."