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Quarta-feira, 02 de fevereiro


— Obrigada por me trazerem até aqui.

— Que menina chata. Para de agradecer, a gente faz isso todo dia. — Baji disse, revirando os olhos com um sorriso.

— Tchau, Harumaki, até amanhã! — Chifuyu falou acenando.

Acenei de volta, já me despedindo, enquanto eles se afastavam. Ao entrar em casa, senti o peso do dia se instalar de novo nos meus ombros. Eu precisava de um banho. Talvez a água quente pudesse lavar não só a sujeira do corpo, mas um pouco da confusão e da dor que ainda me acompanhavam.

Fechei a porta e me encaminhei direto para o banheiro, tentando deixar os pensamentos turbulentos para trás, pelo menos por alguns minutos.

Liguei o chuveiro e esperei a água aquecer enquanto me olhava no espelho. Os hematomas já estavam ali há três semanas, e, embora tivessem começado a desbotar, ainda eram visíveis o suficiente para me lembrar de tudo que tinha acontecido. Passei a mão suavemente sobre um deles, agora com um tom amarelado e esverdeado, resquícios da violência que meu corpo havia sofrido. Eu não conseguia esquecer, mesmo que tentasse. O tempo passava, mas as marcas, tanto no corpo quanto na alma, insistiam em permanecer.

Entrei na água, deixando o calor envolver meu corpo. Por um momento, fechei os olhos e tentei não pensar em nada, só sentir. Mas, inevitavelmente, as memórias começaram a voltar: o beco, os olhares ameaçadores, a sensação de impotência. Mesmo com o carinho dos meus amigos, ainda parecia que eu estava carregando o mundo sozinha.

Tentava frequentemente me lembrar de como era me sentir segura, como era não ter medo. 

Terminei o banho e fui para o quarto me trocar. O vapor quente ainda envolvia meu corpo, mas minha mente estava a mil. Olhei para o espelho novamente, eu praticamente não me conhecia, estava com olheiras enormes; o que geralmente dava para disfarçar com corretivo, tinha emagrecido também, e estava toda machucada. Suspirei, tentando afastar os pensamentos, enquanto colocava uma roupa confortável.

Eu estava com uma vontade repentina de beber vitamina de morango. E além disso, precisava, desesperadamente, tentar estudar. As provas e o vestibular estavam se aproximando, e minha mente não conseguia se concentrar em nada há semanas. Cada vez que me sentava para estudar, era como se uma parede invisível me impedisse de focar.

Cheguei na cozinha e comecei a pegar os ingredientes para a vitamina de morango. Abri a geladeira, peguei os morangos frescos, leite e o açúcar. O som do liquidificador começou a preencher o ambiente, e por um momento, minha mente se focou apenas nisso.

Despejei a vitamina no copo e me sentei à mesa, saboreando o gosto doce e refrescante. Tentei ignorar a dor física e emocional que ainda estava presente, mas a verdade é que ela estava sempre lá, nas sombras.

Depois de terminar, coloquei o copo na pia e fui em direção ao meu material de estudo. O monte de livros e cadernos sobre a mesa parecia me encarar com uma pressão invisível, mas me forcei a sentar. "Só mais uma vez", pensei. "Eu só preciso começar."

Abri o caderno de matemática, mas os números começavam a se embaralhar na minha mente. Tudo o que eu queria era fugir daquilo, mas sabia que não podia adiar para sempre.



Eram 19h17, e eu mal tinha conseguido estudar. Meu foco sempre voltava para tudo o que tinha acontecido nas últimas semanas. Tudo parecia um emaranhado confuso de pensamentos e sentimentos. Suspirei, fechando o caderno de matemática com um pouco de frustração.

Tudo O Que Eu Queria · Ken RyugujiOnde histórias criam vida. Descubra agora