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Sexta-feira, 27 de fevereiro


"M: Você se sente bem para falar daquele dia?

H: Acho que sim... Eu preciso tentar.

M: Fico feliz. Bem, como tudo aconteceu?

H: Não sei como começar.

M: Relaxe um pouco, tudo no seu tempo.

H: Tudo começou depois que eu me despedi do Baji e do Chifuyu. Eu fui para o shopping para passar um tempo sozinha. Comprei algumas coisas, tomei um café no Starbucks e depois passei no mercado. Foi um dia comum, até então.

M: E o que aconteceu quando você estava voltando para casa?

H: Eu estava voltando para casa, era um pouco tarde e a rua estava mais escura do que o normal. Havia poucos carros e quase ninguém por perto. Eu estava carregando as sacolas de compras e me sentia... um pouco cansada, mas nada que me preocupasse.

M: O que aconteceu a seguir?

H: Dois homens começaram a me seguir, eu achei que era impressão minha, uma paranoia. Então comecei a andar mais rápido, e eles andaram mais rápido também... Eu não consigo me lembrar de todos os detalhes, eu sinto muito.

M: Não se preocupe com isso, ok? Me conte o que você lembra.

H: Certo, lembro que, eu não conseguia entender o que estava acontecendo, mas o medo tomou conta de mim. Antes que eu pudesse reagir, ele me puxou para um beco. 

M: E o que aconteceu no beco?

H: Ele começou a me bater. Eu tentei me defender, mas estava tão assustada e desorientada que não consegui fazer nada. Lembro de sentir as sacolas de compras caírem no meu pé. Eu me senti completamente impotente.

M: Sinto muito que você tenha passado por isso. Você se lembra de quanto tempo isso durou?

H: Não, o tempo parecia se arrastar. Eu só me lembro de sentir uma dor imensa e de querer que tudo acabasse. Era como se o mundo tivesse se tornado um lugar muito escuro e solitário.

M: É compreensível que essa lembrança seja muito dolorosa. Você está fazendo um grande esforço ao compartilhar isso. E o que aconteceu depois que ele parou?

H: Eu perdi a consciência. Eu simplesmente... caí no chão. Quando acordei, eu sentia muita dor, estava frio e um pouco escuro. A sensação de estar sozinha foi esmagadora. Eu tentei me levantar, mas estava fraca e desorientada.

M: Deve ter sido uma experiência terrível. Como você conseguiu sair dali?

H: Eu não sei exatamente como, mas de alguma forma, consegui me arrastar, fui mancando, e segurando em tudo até chegar em casa. Era madrugada, não tinha ninguém na rua. A solidão que eu sentia, era horrível, a única coisa que eu queria era estar em casa.

M: Entendo, deve ter sido um esforço imenso. Quando você finalmente chegou em casa, o que aconteceu?

H: Eu estava tão exausta e com tanta dor que mal conseguia me mover. Eu escorreguei pela porta e me arrastei com dificuldade até o sofá. Meu corpo estava em um estado de choque, e eu estava apavorada, sem saber o que fazer.

M: Isso deve ter sido realmente difícil. Como você conseguiu lidar com a situação naquele momento?

H: Eu deitei no sofá e tentei me acalmar. A dor era intensa, e eu tinha dificuldade para respirar. Mas depois, acho que estava tão cansada, que apaguei.

M: Deve ter sido um momento muito angustiante para você. E quando acordou, como estava?

H: Eu acordei com a ligação de Baji, eu estava ainda mais cansada e com a dor muito pior. Eu estava com dificuldade para me mover e a sensação de frio parecia que não ia embora.

M: Você pediu ajuda? Qualquer tipo?

H: Não... eu não poderia, não queria preocupar meus amigos, meus avós, acho que meu estado seria prejudicial para várias pessoas, então decidi lidar sozinha. 

M: Entendo. É compreensível que você não quisesse preocupar seus amigos e familiares, mas é importante lembrar que aceitar ajuda não é um sinal de fraqueza. Como você conseguiu lidar com a situação por conta própria?

H: Eu só ignorei, mesmo que fosse difícil. Eu fiz o que pude para tratar os ferimentos em casa, e apesar da dor e do desconforto, mas eu tentei. Mas a solidão e a sensação de estar sozinha foram esmagadoras. Às vezes, eu me perguntava se conseguiria superar tudo isso.

M: Parece que você enfrentou um desafio enorme sozinha. O que a motivou a continuar?

H: Eu não sei... Minha família e meus amigos eu acho, sempre estava pensando neles.

M: Pensar neles te dava forças, certo?

H: Sim... Eu não queria que eles soubessem o que aconteceu e se sentissem culpados por não estarem lá. Eles já tinham suas próprias lutas, e eu não queria ser mais um peso. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que, se soubessem, fariam qualquer coisa para me ajudar. Essa dualidade de querer proteger os outros, mas ao mesmo tempo, precisar de apoio... foi confuso.

M: Isso mostra o quanto você valoriza seus relacionamentos e o bem-estar deles. Mas, ao mesmo tempo, é importante lembrar que você também merece ser cuidada. Como você se sente agora, refletindo sobre o que passou?

H: Acho que percebo o quanto tentei ser forte sozinha, mas foi uma força solitária. Agora, consigo ver que não preciso carregar tudo sozinha, sabe? E talvez tenha sido um erro tentar esconder isso de todo mundo.

M: É natural sentir que quer proteger os outros, mas também é importante reconhecer que você não precisa passar por isso sozinha. Às vezes, compartilhar o peso pode tornar tudo mais suportável. Você já falou com seus amigos sobre o que aconteceu?

H: Não... Ainda não tive coragem. Acho que tenho medo da reação deles. Não quero que sintam culpa ou raiva por não estarem lá.

M: Entendo. Pode ser assustador abrir essa parte de você, especialmente para aqueles que você ama. Mas, pelo que descreveu, seus amigos se importam muito com você, e acredito que vão querer estar ao seu lado, não importa o que tenha acontecido.

H: Eles sempre me apoiaram, mesmo quando eu não pedi. Acho que... preciso confiar mais nisso. Confiar que posso ser vulnerável com eles.

M: Exatamente. Vulnerabilidade não é fraqueza, é força. Ao se abrir, você pode começar a curar de verdade, com o apoio daqueles que te amam.

H: Eu sei... Só que é difícil aceitar isso às vezes. Eu sempre fui a pessoa que tentava ser forte por todo mundo, que não deixava transparecer as coisas. Mas agora... depois de tudo que aconteceu... eu me sinto tão... frágil.

M: Não há problema em se sentir assim. O importante é como você vai lidar com essa fragilidade. Permitir-se ser cuidada e apoiada é uma parte importante da sua recuperação. Você não precisa carregar esse fardo sozinha.

H: Eu sei. Acho que preciso de tempo para aceitar isso. Não vai ser fácil contar tudo, mas, no fundo, sei que eles vão me entender. Eles sempre entenderam.

M: Isso mesmo. E quando estiver pronta, você pode dar o próximo passo. O processo de cura é longo, mas você não precisa apressá-lo. Você está fazendo progresso simplesmente por estar aqui e por compartilhar essa parte tão dolorosa da sua história.

H: Obrigada. Acho que... falar sobre isso me ajudou a enxergar as coisas com mais clareza. Talvez eu realmente esteja pronta para contar aos outros e superar isso."

Tudo O Que Eu Queria · Ken RyugujiOnde histórias criam vida. Descubra agora