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Domingo, 06 de fevereiro


Senti algo bater no meu braço. Era uma almofada.

— Tá pensando em quê, hein? Tô te chamando há um tempão, preciso que você conserte o aquecedor.

— Foi mal, vou ver. — Disse, me levantando.

— O que tá acontecendo? Cê tá mais pensativo que o normal. — Yuko parou na minha frente, me encarando.

— Nada. — Falei, já andando em direção à saída do quarto, mas ela segurou meu pulso.

— Pode confiar em mim. Aliás, sou ótima em conselhos. Como você acha que as meninas não enlouqueceram ainda? — Ela se sentou na cama e deu pequenos tapinhas para que eu me sentasse ao seu lado.

Obedeci e dei um longo suspiro.

— Me sinto meio perdido.

— Em relação a quê?

— Lembra da Emma? Uma vez você nos encontrou no mercado.

— Aquela por quem você era apaixonado e chorou a noite toda porque foi embora?

— É...

— E o que tem?

— Ela voltou.

— Ah, então você tá perdido em relação aos seus sentimentos por ela, depois de tanto tempo?

— Sim.

— E como você se sente quando está com a Emma, Ken?

Senti o peso da pergunta de Yuko enquanto ela me olhava atentamente. Fiquei em silêncio por um momento, tentando organizar meus pensamentos.

— É complicado. — Respondi, com um suspiro. — Quando a Emma foi embora, eu achei que nunca mais ia ver ela, sabe? Passei tanto tempo tentando superar isso, tentando esquecer... Mas agora que ela voltou, parece que tudo o que eu senti na época tá voltando de uma vez só.

Yuko assentiu, me encorajando a continuar.

— Fico nervoso, confuso. Quando estou perto dela, sinto como se o tempo parasse. Mas também sinto uma pressão, não sei bem explicar.

— Pressão, tipo se sentir sufocado? Como se fosse obrigado a gostar dela?

Fiquei em silêncio, não sabendo como responder.

— Entendi. — Yuko murmurou.

— Eu gosto muito dela, e a última coisa que quero é magoá-la. — Suspirei. — Fomos à lanchonete outro dia, e ela disse que o plano era voltar daqui a três anos, mas que sentia falta do Mikey, do avô e, principalmente, de mim. Ela disse que tinha medo de me perder. A Emma foi a primeira pessoa por quem me apaixonei, e fico feliz com a presença dela. Mas, ao mesmo tempo, parece... estranho.

— O Mitsuya sempre falava sobre uma garota, uma amiga de vocês. Quem era mesmo?

A olhei, surpreso com a mudança repentina de assunto.

— Por que você tá mencionando ela do nada?

— Porque você sempre ficava sem graça toda vez que ouvia o nome dela. Igual tá agora.

Desviei o olhar para a saída do quarto, sem saber o que responder.

— Já entendi o que tá acontecendo. — Ela disse, se levantando.

— E o que tá acontecendo?

— Você vai ter que descobrir sozinho, porque é só uma suposição minha. Se eu te contar, nunca vai saber de fato o que sente. Mas olha, Ken, coloca seus sentimentos em primeiro lugar. Sei que você é cavalheiro o bastante pra não querer partir o coração de uma mulher. Mas o que você sente e o que você realmente quer também importa.

— Como é? — Perguntei.

— Vai logo concertar o aquecedor.


Era 18h46, estava ha 4minutos do Santuário Musashi, ainda estava preso nos meus pensamentos. Sentia que algo estava faltando, e isso me deixava inquieto.

— Tá tranquilo? — Mitsuya apareceu ao meu lado.

Olhei para ele, tentando esboçar um sorriso, mas provavelmente não convenci.

— É, acho que sim. — Respondi, meio sem jeito.

Mitsuya estreitou os olhos, claramente não acreditando. — Você tá sempre com esse olhar distante quando algo tá te incomodando. Quer falar sobre isso?

Suspirei, colocando as mãos nos bolsos enquanto caminhávamos.

— Não sei se é algo que eu consiga explicar... — Comecei, tentando encontrar as palavras. — Parece que tudo ao meu redor tá se movendo rápido demais, e eu tô ficando pra trás. Como se algo importante estivesse escapando de mim.

Mitsuya ficou em silêncio por um momento, refletindo sobre o que eu disse. Ele sempre foi bom em ouvir sem julgar, o que tornava mais fácil desabafar.

— Draken, acho que você sabe o que quer e o que precisa. Só não quer aceitar. Na verdade, o seu lado que reflete suas ações agora e o lado da sua verdadeira vontade estão em conflito, e isso te deixa confuso. Mas não se preocupe — ele me olhou sorrindo — é só uma questão de tempo.

— Para o quê? — Perguntei.

— Para um desses lados vencer.

O santuário Musashi já estava lotado quando eu cheguei. Membros da Toman estavam espalhados, conversando em pequenos grupos, mas a tensão no ar era palpável. Sabíamos que a reunião daquela noite não era uma simples conversa. A Moebius tinha nos empurrado para um limite que não podíamos mais ignorar.

Enquanto subia à escadaria, vi Mikey sentado no topo dela, comendo algum tipo de doce como se fosse um dia qualquer. Ele sempre foi assim, um mestre em esconder a pressão até o último momento. Eu já o conhecia bem demais para me enganar com essa calma.

Me encostei em uma das pilastras do santuário, observando os outros chegarem. Baji, Takemichi, Chifuyu... todos com olhares sérios, conscientes do que estava por vir. A última coisa que eu queria era guerra, mas com a Moebius agindo como agiu, não havia como fugir dessa briga.

Eu olhei de novo para Mikey, e o vi me encarando de volta. Era um daqueles momentos em que ele não precisava dizer nada. Apenas levantou o queixo, como quem diz: 'Vai começar.'

Me afastei da pilastra e fui até ele.

— Tá na hora, Mikey. 

Ele apenas assentiu, se levantando com calma, como se tudo estivesse sob controle. Mas eu conhecia o peso que ele carregava, e sabia que, havia uma raiva que, uma vez solta, seria difícil de controlar.

— Vamos começar. — Eu disse, alto o suficiente para que todos ouvissem, mas sem a agressividade que eu esperava.

Todos se aproximaram. 

— A Moebius tá passando dos limites. — Ele começou, a voz firme. — E eles tão achando que podem fazer o que quiserem com a gente.

Eu cruzei os braços, tentando me preparar para o que estava por vir.

— Precisamos acabar com isso de uma vez por todas. Não vamos deixar barato. — Ele continuou, a seriedade em sua voz prendendo a atenção de todos.

O silêncio que se seguiu foi pesado. Eu sabia o que todos ali estavam pensando. A guerra estava chegando, e ninguém estava realmente preparado para o que isso significava.

— Eles querem acabar com a Toman a qualquer custo.

Tudo O Que Eu Queria · Ken RyugujiOnde histórias criam vida. Descubra agora