Tudo O Que Eu Queria · Ken Ryuguji

28.

Sábado, 12 de fevereiro

Ela encarava um ponto específico, totalmente inexpressiva. Atendeu à porta e não falou uma palavra, depois entrou e a seguimos. Desde então, estávamos sentados na sala, em silêncio. Eu observava a Maki; ela parecia mais magra, com enormes olheiras e a boca bem seca. A angústia me envolvia, e eu estava sentindo uma imensa vontade de chorar.

O ambiente estava pesado. Eu sabia que precisava falar, fazer algo para quebrar aquele silêncio opressivo, mas as palavras não vinham. Olhei para os outros, todos igualmente desconfortáveis, sem saber como abordar a situação.

Finalmente, foi Maki quem quebrou o silêncio, com a voz tão baixa que mal pude ouvir.

— Por que vocês estão aqui? 

A pergunta dela era uma mistura de confusão e cansaço, e seu olhar era de completa desorientação. Eu sabia que precisava ser honesto, mas também sensível.

— Maki, nós sabemos que você está passando por um momento difícil. — comecei, tentando encontrar as palavras certas.

— Eu estou bem, Draken. 

Todos arregalaram os olhos, inclusive eu. Ela nunca tinha me chamado de Draken antes, desde que nós nos conhecemos. Algo estava muito errado e eu não tinha palavras.

Eu vi a tristeza e o desgaste no olhar dela, mesmo quando tentou demonstrar que estava tudo bem. O desejo dela de não incomodar era claro, mas também era evidente que ela estava lutando com algo muito maior.

— Maki, a gente se preocupa com você. — Mitsuya falou tentando manter a voz calma e reconfortante. 

— Não precisa passar por isso sozinha. — Angry disse, sentando um pouco mais perto dela. 

— Às vezes, falar sobre o que estamos sentindo pode ajudar, mesmo que seja só um pouco. — Dessa vez foi Baji, foi a primeira vez que eu vi ele assim, tão preocupado.

Maki levantou-se abruptamente do sofá, seu corpo tenso e sua expressão agora carregada de frustração. Ela começou a andar de um lado para o outro, com os punhos cerrados e a respiração acelerada.

— Vocês não entendem! — ela exclamou, a voz embargada pela raiva e pelo desespero. — Não sabem o que é estar preso nesse ciclo, tentando manter tudo sob controle, mesmo quando tudo está desmoronando. 

Ela parou de repente e se virou para nós, os olhos brilhando com uma mistura de lágrimas e raiva.

— Eu não preciso de ninguém me dizendo o que fazer ou como me sentir! Eu só quero que todos vocês saiam e me deixem em paz!

O choque era visível nos rostos dos outros. Baji tentou se aproximar, mas hesitou ao ver a intensidade da reação de Maki.

— Maki, a gente só quer ajudar. — disse ele, com uma voz suave. — Entendemos que você está passando por um momento difícil, e isso não é fácil.

— Não! — Maki gritou, sua voz ecoando pela sala. — Vocês não entendem! Estão todos tentando consertar algo que talvez nem tenha conserto. Não é só sobre o que aconteceu com mim, é sobre tudo!

Ela afundou as mãos na cabeça, seu corpo tremendo com a força das emoções. O ambiente estava carregado de uma tensão palpável, e todos nós estávamos à espera, sem saber como reagir à súbita explosão dela.

Maki estava visivelmente em um estado de desespero crescente. Seus movimentos eram erráticos e sua respiração cada vez mais acelerada. Ela começou a dar socos leves nas almofadas do sofá e a chutar objetos aleatórios pela sala, como se tentasse materializar toda sua frustração através de ações físicas.