12- Percas

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Capítulo 12 - Percas

''Eu estou morrendo aos poucos e a única coisa que eu queria era te salvar.''

Fazia quase uma semana que eu não tinha noticias do Justin. Desde o dia em que eu decidi deixa-lo pra trás após saber de uma verdade dolorosa da sua vida, eu tenho me trancado no quarto. De vez em quando coloco uma cadeira com a minha tela de pintar quadros na varanda e desenho a paisagem do dia, sendo uma velhinha atravessando a rua, ou uma criança brincando na praça.

Eu não sei se é por conta do ''nosso fim'' ter chegado tão rápido e eu ter colocado um ponto final em tudo, não ter deixado a vida fazer isso por mim, mas aquilo estava doendo tanto. Não sei também se é porque agora eu tinha que me manter longe do Justin, mas eu sentia saudade dele todos os dias.

Quando acordo pela manhã e vejo que não foi dessa vez que eu tive a oportunidade de morrer dormindo, eu sinto vontade de chorar. Eu já havia preparado tudo pra esperar o dia da minha morte, já que eu não sabia se era hoje, amanhã, daqui 1 mês ou 1 ano. Mas tudo estava preparado: eu havia me afastado de pessoas que eu amo pra não sofrerem tanto quando eu fosse partir.

Literalmente, eu havia me afastado de todos. Tirando a minha mãe, claro. Mas até Emilly não apareceu em casa desde o dia em que ela descobriu a doença.

É, talvez estar morrendo aos poucos e sozinha é uma das piores coisas que possa existir na vida de um ser humano.

- Kath... - Ouvi a minha mãe me chamar e levei um susto, colocando a mão no peito em seguida. - O que está fazendo aí?

- Pintando. - Falei, voltando a olhar pra tela onde havia algumas arvores desenhada.

- Tem visita pra você.

Me virei e a fitei, franzindo a testa.

- Não tem ninguém que possa vir me visitar.

- É a Emilly. - Minha mãe disse e eu sorri de lado.

- Diga a ela que eu sai. - Respondi, voltando a dar as costas pra minha mãe e pegando no pincel novamente.

- Katharine, você não pode ficar aqui até o final da sua...

- Da minha vida? - Perguntei, enquanto a cortava de terminar a frase.

Minha mãe arregalou os olhos e engoliu seco, provavelmente se arrependendo de ter falado aquilo.

- Eu posso como vou. O mundo não tem mais nada pra oferecer pra mim. Diga a Emilly que eu não estou.

Minha mãe abaixou a cabeça e assentiu, abrindo a porta de vidro e saindo da varanda em direção ao meu quarto. Curvei o meu corpo enquanto a olhava fechar a porta do quarto e assim que ela fechou, voltei a dar toda a minha atenção a tela de pintura.

Eu senti algumas lágrimas escorrendo pela minha bochecha. Eu não sei se é por conta de ter falado tudo aquilo ao Justin, mas desde aquele dia o meu emocional havia ido para o saco e eu chorava por qualquer coisa. Eu precisava procurar outro médico e perguntar se chorar muito é um dos sintomas do câncer.

Quando eu pensei em levantar pra poder tomar um banho pra relaxar, ouvi um estrondo vindo do meu quarto e dei um pulo da cadeira, vendo Emilly entrar correndo e vindo na minha direção:

- POR QUE VOCÊ NÃO ATENDE AS MINHAS LIGAÇÕES? POR QUE VOCÊ ESTÁ NEGANDO ME VER? KATHARINE, CARALHO! - Ela gritava e eu tampei o meu ouvido com as mãos.

Emilly se aproximou e tirou as minhas mãos do meu ouvido e eu a fitei.

- Você pode ir embora? Por favor... - Pedi.

Flatline // J.B Onde histórias criam vida. Descubra agora