2-Take care of u

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Você nunca sabe como se comportar quando você espera uma coisa e a vida te dá outra. Eu esperava uma simples dor de cabeça que eu pudesse tomar um remédio forte, mas, que isso melhoraria em duas semanas, não um câncer cerebral onde a única solução seria fazer radioterapia ou tomar aqueles milhões de remédios fortes que te fizesse tão mal ao ponto de você não conseguir sair da cama, e ainda assim não ter certeza de que você iria ter a cura em mãos.

A minha vida estava contada, os meus dias de validade estavam chegando e eu soube disso tão tarde.

Agora eu dirigia a sentido da minha casa, mas eu mal conseguia enxergar um palmo a frente do meu rosto por conta das lágrimas que insistiam em cair.

Parei o carro no acostamento e desliguei o próprio, afundando o meu rosto no volante e chorando. Era só o soluço que propagava no ar, era só aquele barulho irritante de eu fungando que entrava pelos meus ouvidos. Eu não ouvia nem se quer a música baixa que tocava na rádio ou os automóveis passando do lado do meu.

Eu queria sumir. O que eu fiz pra merecer uma coisa dessas? Por que isso foi acontecer bem comigo?

Antes que eu pudesse pensar em mais coisas, eu ouvi o toque irritante do meu celular tocar no banco do meu lado, do passageiro. Peguei o próprio já com a vontade de arremessar, mas logo parei quando avistei o nome da Emilly, minha melhor amiga. Ótimo, o que ela queria agora?

Respirei fundo e tentei falar qualquer coisa pra ver como a minha voz estava. Péssima, de choro.

- Alô? - Atendi antes de a ligação cair.

- Kath, você sumiu. Que voz é essa?

- Eu estava no hospital. - Falei.

- O que aconteceu?

- A minha dor de cabeça lá.

- E o que deu?

- Nada, como sempre. - Menti. - Mas aconteceu alguma coisa?

- Então, vamos sair hoje? - Ela disse animada. - Não quero ficar em casa.

- Tudo bem... - Eu disse. - Seria uma boa. - Sorri de lado. - Pra onde?

- Pra algum barzinho, a gente decide na hora.

- Uhum. - Murmurei. - Você passa em casa?

- Sim, as 22h.

- Estarei esperando.

- Ok. E arrume essa voz de choro, quero você linda hoje.

- Ok. - Disse, revirando os olhos e finalizando a ligação.

Seria bom se ela soubesse que ela estava com câncer, ai teria motivo de ela falar pra eu arrumar essa voz maldita. Mas, não, ela não podia saber que eu estava com câncer, não agora.

O que eu menos queria nos últimos meses da minha vida era as pessoas sentindo dó de mim.

E sim, eu iria sair hoje. E iria beber como nunca bebi na minha vida. Eu iria me divertir nos últimos meses da minha vida. E não, eu não iria fazer quimioterapia, radioterapia e nenhum tratamento, eu quero morrer naturalmente, mesmo com olheiras e magra, mas com cabelo.

[...]

Eu havia colocado um vestido preto de renda com a manga até o cotovelo e um sapato de salto alto. No meu rosto não havia nem se quer um vestígio de olheira ou noites mal dormidas. Eu usava uma maquiagem forte e um batom claro, e havia acabado de passar um dos meus melhores perfumes.

Quem me via assim não diria que eu tinha câncer, e era desse modo que eu queria ser vista.

Nada contra quem tem câncer, eu já fui a muitas constituições de câncer e doei roupas, até cabelo, mas eu não queria que ninguém sentisse por mim o que eu sentia por aquelas crianças: dó.

Flatline // J.B Onde histórias criam vida. Descubra agora