3- Você precisa ser salva

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Eu sentia pontadas fortes na minha cabeça. Fiz careta e levei meus dedos até ela, massageando com o próprio. Abri meus olhos esperando encontrar o meu quarto, mas não, não era o meu quarto, era um quarto todo personalizado de criança e parecia ser menina.

Onde eu estava?

No mesmo instante passou um flash na minha mente. Eu no bar com a Emilly. Eu bebendo. Eu encontrando Justin. Eu beijando Justin.

Ah não, eu beijei o médico.

Torci a boca.

Então tudo continuou: eu brigando com ele por algum motivo que eu não sabia. Eu bebendo mais. Eu passando mal. Eu sendo carregada por ele. Mais nada.

Ótimo, eu havia esquecido de quase tudo.

Droga!

Virei de lado e senti o meu corpo todo doer. Quando olhei para o outro lado da cama, levei um susto enorme quando vi um pouco distante dali uma garotinha sentada em uma poltrona branca. Ela era linda.

- Você acordou. - Ela disse. - Você está dodói?

- A minha cabeça dói. - Murmurei, fazendo careta em seguida. - Onde eu estou?

Ela fez uma cara de não ter entendido muito bem.

- Na minha casa.

- E onde fica a sua casa?

- Ai, eu não sei te explicar direito. - Ela disse toda delicada, agora se levantando da poltrona e vindo na minha direção. - Eu vou chamar o meu pai.

Arregalei meus olhos. Senhor. Ela é filha do Justin.

Ela deu as costas e foi até a porta, abrindo a própria e saindo correndo do quarto. Me virei de barriga pra cima e fitei o teto.

Antes que eu pudesse pensar em qualquer outra coisa, eu senti a presença de alguém no quarto e olhei pra porta, vendo Justin ali.

Ele vestia uma calça jeans clara e uma camiseta azul escuro. Notei que no seu braço havia algumas tatuagens, coisa que eu não havia percebido quando ele me atendeu e muito menos ontem.

- Filha, você pode nos deixar a sós? - Ele perguntou de um jeito calmo e doce.

Ela assentiu e me olhou, logo, dando um beijo no seu pai e saindo do quarto.

Me curvei pra me sentar na cama e senti mais uma pontada forte na minha cabeça, gemendo um pouco de dor. Me sentei na cama e senti a minha boca seca. Ressaca!

- Como você está? - Ele perguntou.

- O que aconteceu ontem?

Um riso fraco escapou dos seus lábios.

- Você bebeu, Katharine.

- Ah vá? - Disse ironicamente.

- É, exatamente, e esse não é o momento de sarcasmo. Você sabe do seu diagnóstico...

- Olha, eu não preciso que você fique me lembrando a cada segundo que eu estou prestes a morrer. Eu só quero curtir a minha vida, você não está enxergando isso? Eu só quero curtir o pouco que me sobra.

Ele fechou a cara e pareceu decepcionado pelo modo que eu disse. Engoli seco. Então, ele começou a vir na minha direção e se agachou na minha frente, colocando uma de suas mãos na minha perna.

- Eu não posso te forçar a nada, mas eu não queria que você entregasse os pontos.

- Como assim?

- Seria uma boa escolha se você fizesse o tratamento.

- Eu não quero, doutor. Me desculpe, mas pra que fazer essa bosta? Pra eu ficar dias e noites deitada em uma cama imobilizada, sentindo enjoos e tonturas, com a pior fisionimia do mundo onde quer que eu passe e as pessoas sentem dó de mim? Sem contar que esses tratamentos nunca são uma certeza de que eu vou sobreviver. Eu prefiro morrer a cada dia sem eles, naturalmente, tendo eles ou não eu vou partir uma hora ou outra, não adianta ficar adiando.

Flatline // J.B Onde histórias criam vida. Descubra agora