capítulo 63- U Smile, I Smile

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Capítulo 63 - U Smile, I Smile

Mandy ficou quieta por alguns segundos que pareciam anos. Olhei pra Justin esperando que ele fizesse alguma coisa, mas o seu olhar também estava na pequena garotinha de olhos claros e marejados na nossa frente. Ela olhou pra minha barriga, logo após pro meu rosto e por fim, para Justin. Seu semblante de confusão era nítido, sua testa franzida e seus lábios trêmulos.

- Tudo bem. – Ela sussurrou, soltando um suspiro. – O Gabe da minha escola teve uma irmãzinha, ele diz que ela chora muito... – Ela deu uma pausa, engolindo o choro no mesmo instante. – Mas a mamãe dele não morreu, então, a Kath também não vai morrer. – Mandy usava o exemplo do seu colega do colégio, mas o que me fez ter vontade de perguntar era: ‘’a mãe de Gabe tinha câncer?’’ Porque obviamente são raros os casos de mulheres que morrem em parto por morrerem, sem nenhuma doença ou risco, porém o meu caso é exclusivo: havia algo a mais do que um parto, de um bebê, de uma gravidez. Mas nada saia da minha boca. Nenhuma palavra, até Mandy continuar: - Eu acho que posso cuidar do... – Ela deu uma pausa, olhando para Justin: - Ele é meu irmão, papai?

Meu irmão.

Ele é meu irmão.

- Si... Sim! – Justin respondeu gaguejando. – Ele é seu irmão, querida.

Coloquei a mão na boca pra abafar o choro e imediatamente Mandy me fitou. Ela ficou me olhando por longos segundos, até se aproximar da cama e subir na mesma, se sentando do meu lado.

- Você está bem, Kath? Está doendo? - Ela perguntou preocupada.

- Eu estou bem... – Falei, abrindo um sorriso no meio das lágrimas.

- Mandy... – Justin a chamou, fazendo com que ela o fitasse. – Nem sempre quando choramos é de tristeza. Algumas vezes são lágrimas de felicidade, e agora a Kath chora de felicidade.

Sim, era de felicidade. Eu não sabia se Mandy chorava minutos atrás de felicidade ao descobrir o sexo do bebê, mas o fato dela não ter gritado ou negado mais uma vez a gravidez foi um motivo de mais uma vez eu deixar as lágrimas de felicidade inundarem o meu rosto.

Não importa se ela havia aceitado, mas ela deu um espaço pra que com o tempo eu pudesse convencê-la que nada está tão ruim assim. E ela terá um irmãozinho.

Eu esqueci totalmente da minha mãe, até ouvir um soluço ao meu lado esquerdo e fita-la. Ela limpava suas lágrimas com um lencinho e assim que todos nós notamos sua presença, ela riu fraco.

- Me desculpe, mas eu nunca imaginei que veria essa cena tão rápido. – Ela confessou e eu ri, balançando a cabeça positivamente.

Nem eu imaginava.

- Acho melhor vocês pararem de chorar. – Mandy resmungou, ainda sentada ao meu lado. – Papai diz que é choro de felicidade mas ainda é triste ver vocês chorando.

Ri fraco, engolindo qualquer vestígios de choro e sorrindo. Peguei na mãozinha da Mandy e ela me olhou atenta:

- Obrigada por isso, Mandy! – Falei, por fim. – Eu amo muito você.

- Eu também te amo! – Ela sorriu timidamente, quase se jogando em cima de mim. Assim que ela deu o impulso pra se jogar, Justin ia impedir que ela fizesse o tal ato mas eu disse no mesmo instante:

- Deixe, Justin!

Ele se reprimiu, me obedecendo e não fazendo nada mais. Mandy me abraçou e eu correspondi.

- Eu também te amo, mamãe! – Ela disse baixinho, mas foi o suficiente pra que todos nós pudéssemos escutar. Fechei os meus olhos e deixei que mais algumas lágrimas caíssem, logo, Mandy me soltou e me fitou, passando seu dedo indicador nas lágrimas pra limpa-las.

- Huh, ok. – Justin disse, soltando um suspiro forte. – Acho melhor deixarmos Kath descansar um pouco, o que acham?

- Ah pai... – Mandy reclamou e imediatamente Justin arregalou os olhos.

- Do que você me chamou?

- De papai. – Ela disse, corrigindo e engolindo a seco.

- Não Mandy! – Ele quase gritou. – Não foi depapai.

- Justin, já chega! – Falei, revirando os olhos. – Deixa a menina te chamar do jeito que ela quiser.

- Katharine, eu sou o papai dela. – Ele disse ofendido, dando enfase no ''papai'' e me fitando.

- E o que tem ela te chamar de pai?

- Significa que... – Ele deu uma pausa, engolindo a seco. – Ela não é mais tão neném.

- Mas ela já é uma mocinha. – Falei, dando os ombros.

- É pai, eu sou mocinha.

Justin a fitou, metralhando a coitada da menina com os olhos. Comecei a rir, balançando a cabeça negativamente.

- É melhor irmos embora mesmo. – Minha mãe deu sinal de vida, dando a volta pela cama e pegando Mandy no colo. – Justin... – Ela o chamou. – Podemos trocar uma palavrinha lá fora?

- O que é? – Falei. – Por que não pode ser aqui dentro?

Minha mãe me fitou e riu, se aproximando de mim. Uma de suas mãos segurava Mandy e a outra ela esticou em direção ao meu rosto, acariciando o mesmo.

- Nada de curiosidades, querida. – Ela sorriu calmamente. – Não é sobre você.

- Eu duvido! – Falei, mordendo meus lábios.

- Não duvide de mim. – Ela disse.

- Então jura pra mim que não é sobre eu.

- Katharine... – Ela resmungou.

- Eu sabia! – Falei entre os dentes.

Porém, minha mãe ignorou totalmente a minha curiosidade, ela sabia o quão eu odiava ficar sem saber das coisas. Ela fitou Justin e sorriu, falando em seguida:

- Podemos ir?

Justin assentiu, me dando um último olhar reconfortante, mas eu apenas ignorei. Notei todos eles saindo do quarto e Mandy dizer antes de passar pela porta:

- Tchau Kath! – Ela disse.

- Diga tchau ao bebê também, querida! – Justin lhe falou, mas Mandy olhou confusa pra ele.

- Deixa ela, Justin. – Falei, olhando pra ele que logo assentiu. - Tchau Mandy! – Respondi enfim, abrindo um sorriso e acenando pra ela, vendo-a logo sumir da minha vista e Justin fechar a porta.

Eu sabia que mesmo Mandy não tendo a reação que eu imaginava e que seria sem dúvidas algo terrível, ela estava em uma luta com ela mesma sobre o bebê. Tudo era novo pra ela e até demais. A confusão estava presente em cada olhar e gesto. Ela lutava pra não gritar e dizer o que sentia porque, o quão esperta ela era ao saber que aquilo me magoaria, e Mandy nunca teve a intenção disso.

Ela é o ser humano mais puro que eu já conheci.

Mas eu estava feliz! Eu estava realmente feliz por fim, ela ter tido uma reação melhor do que eu esperava. Tudo bem que sim, eu sentia uma pontada de preocupação ao lembrar da sua comparação entre eu e a mãe de Gabe, o que sem dúvidas havia uma grande diferença. Mas isso seria um lembrete a mais que eu teria que fazer pra que Mandy pudesse entender a diferença entre vidas de uma forma mais simples e menos dolorosa.

Minutos depois Justin voltou para o quarto e eu me lembrei onde ele estava e o seu segredo com a minha mãe, logo, fechei a cara. Ele riu, fechando a porta e se aproximando da cama.

- Uh baby. – Ele disse. – Vai ficar de bico?

- Você não vai me contar o que vocês conversaram?

- Katharine, seja menos curiosa!

- É impossível! – Falei, batendo o meu braço na cama.

- Tudo é possível, amor. – Ele sorriu. – Até mesmo Mandy aceitar da sua melhor maneira o que apostávamos que ela negaria.

- Isso eu posso concordar. – Falei, abrindo um sorriso.

- Isso! – Ele disse, se aproximando ainda mais de mim e colocando a sua mão no meu queixo, logo, puxando o mesmo e colando os nossos lábios. – Eu amo quando você sorri.

Flatline // J.B Onde histórias criam vida. Descubra agora