capítulo 81- Gray Day

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POV. Katharine Moore

Fazia em média de 40 minutos que eu havia acordado e notei que dessa vez, como todos os dias em que eu acordei naquela cama de hospital, não era Justin que estava ao meu lado. Mamãe ocupava o lugar de Justin na poltrona enquanto lia alguma revista qualquer, sem perceber que eu já estava de olhos abertos e sentia um gosto amargo na boca.

Estalei a língua com o céu da boca, fazendo um pequeno barulho que logo chamou a atenção da minha mãe que rapidamente me fitou. Ela sorriu de canto, se levantando da poltrona e andando até eu.

- Querida, bom dia! – Ela disse com um sorriso nos lábios. – Como se sente?

- Péssima! – Murmurei, mordendo meus próprios lábios. Imediatamente, o sorriso que tinha nos lábios da minha mãe desmanchou. – Cadê Justin?

- Ele... ele está em casa. – Ela disse e eu lhe fitei confusa. – Foi salvar Mandy.

- Salvar Mandy? – Perguntei, franzindo a testa. – O que aconteceu?

- Ela chorou a noite toda, mal consegui dormir e ficava pedindo pelo Justin, mas não quis incomoda-lo durante a noite e hoje pela manhã lhe telefonei, ele está lá até agora com ela...

- Deus, espero que ela esteja bem. – Murmurei, mais pra mim do que pra minha mãe, mas pude notar que ela assentiu como se desejasse o mesmo.

- Aconteceu alguma coisa, Katharine? – Minha mãe perguntou, franzindo a testa e passando seus olhos por todo o meu corpo que estava jogado naquela cama.

A minha barriga estava enorme, eu não conseguia mais andar sem ajuda de Justin ou de alguma enfermeira. As minhas costas doíam, aliás, o meu corpo todo estava dolorido, parecia que um caminhão havia passado por ele e eu achava que melhoraria a cada dia, mas não, a cada dia piorava. Eu não aguentava mais ficar deitada naquela cama.

- Não mãe. – Menti. – Por que?

- Parece que você não dormiu tão bem, ou... – Ela parou pra pensar. – Ah, deixa quieto.

- É a doença. – Falei, abrindo um sorriso falso.

Tudo era a doença, mesmo. Dores no corpo: é o câncer. Dor na cabeça: é o câncer. Enjoo: é o câncer. Vontade de ficar o dia todo deitada: é o câncer. Vontade de sumir: é o câncer. Chorar desesperadamente e sem motivo: é o câncer. Talvez se eu não estivesse com essa maldita doença, poderia ser a gravidez ou até a minha TPM, mas desde que eu cheguei nesse hospital, tudo o que eu respiro é o câncer. Eu sou movida por ele, basicamente.

- Hum... – Minha mãe murmurou, mas algo me dizia que ela não acreditava muito naquilo, e talvez não quisesse se aprofundar ao assunto, não comigo.

Antes que qualquer outra pergunta saísse da sua boca, a porta do quarto se abriu. Corri meus olhos por ele, vendo Justin adentrar de cabeça baixa e em silêncio. Ele vestia um jeans branco, um tênis preto e uma camiseta azul, o seu cabelo não estava tão arrumado quanto antes, mas eu preferia todos os seus fios bagunçados. Assim que ele levantou a sua cabeça e eu pude olhar para os seus olhos, senti meu coração se apertar, se apertar e se apertar com tanta intensidade que eu podia jurar que eu ia despedaçar. Justin estava um caco. Os seus olhos vermelhos que eu podia jurar que ele havia chorado horrores, misturado com o cansaço de parecer que ele não dormia a semanas. Os seus lábios pálidos e feitos por um pequeno fio, sua boca entreaberta, e que, imediatamente, nasceu um sorriso ali.

Mas por que diabos eu não era capaz de acreditar que aquele sorriso era verdadeiro?

- Você acordou! – Ele disse, andando até a cama e imediatamente segurando as minhas mãos.

Flatline // J.B Onde histórias criam vida. Descubra agora