capi 68- Feeling

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POV. Justin Bieber

Enquanto eu fazia o caminho de volta para o hospital, pude ver bem distante, quase no fim daquela imensa avenida de Nova York o sol se pondo. A cada segundo, a cada acelerada, a cada freada que eu dava ele abaixava um pouco mais, eu só faltava ver os seus braços dizendo adeus, mas, que voltaria amanhã logo pela manhã.

Eu podia escutar Mandy cantarolar algo no banco de trás. A olhei pelo retrovisor e ela tinha seus olhos grudados no vidro ao seu lado enquanto segurava uma boneca em mãos.

A vida nos surpreende da sua maneira, não importa se pra nós é da melhor ou da pior, mas a cada dia é uma nova surpresa. Como o nascer e o pôr do sol. Deveríamos comemorar cada vez que ele nasce e se põe, por mais que levamos conosco a certeza de que amanhã ele estará de volta, mas e se por acaso você não estar mais aqui? E se foi o último nascer e pôr do sol que você foi capaz de presenciar nessa vida mas não deu importância?

Deveríamos sim nos dar importância a tudo, ou simplesmente não? Pra falar a verdade, talvez nesse meu caminho de volta ao hospital – e sendo um lugar que honestamente eu sinto meu estomago se revirar só de imaginar – eu pude enxergar algumas coisas boas nesse mar de sofrimento. Eu estou tendo a oportunidade de salvar alguém, estou tendo a oportunidade de novamente compartilhar a minha vida com alguém, de seguir em frente com a minha filha, e mesmo que eu acorde todos os dias já reclamando por ver Katharine naquela cama de hospital, por querer dormir uma noite inteira na minha cama sem preocupação, por levar e trazer Mandy da escola sem me preocupar com o horário que eu teria que voltar ao hospital, Deus, hoje eu estou agradecendo por todas as coisas boas que vem me acontecendo.

Daqui uma semana eu vou me casar. Eu me dei mais uma chance mesmo sabendo que a chance de eu perder mais uma pessoa é grande, eu me dei mais uma chance sabendo de todos os riscos que eu correria me relacionando com alguém que está em uma fase terrível de câncer. Mas eu me dei mais uma chance.... E isso não é tudo?

Sim, isso é tudo. Mas só nesse caminho que eu fiz eu tive a oportunidade de notar que isso é tudo. Eu poderia estar reclamando, soltando suspiros irritados ou olhando pro relógio no meu pulso prestes a buzinar pro carro da frente pra que ele fosse logo que Katharine me esperava no hospital, mas não, eu preferi nesse caminho todo respirar fundo e ver que tudo tem o seu tempo. Por mais que não seja o nosso tempo, por mais que sim, a alguns meses atrás eu queria que Tasha estivesse aqui, que sim, eu queria que Katharine estivesse agora me esperando em casa e que não houvesse droga nenhuma de câncer, e por mais que seja terrível saber que o nosso tempo não é o tempo de Deus, o tempo real das coisas, mas eu posso sentir que tudo acontece da sua maneira.

- Papai. – Ouvi Mandy me chamar assim que eu estacionei o carro no estacionamento do hospital. Destravei os cintos e as portas, abrindo a porta e saindo do automóvel. Andei até a porta de Mandy e abri pra ela.

- Oi querida. – Respondi.

- Abaixa aqui! – Ela disse, balançando as mãozinhas.

Olhei confuso, franzindo a testa. Então ela repetiu:

- Abaixa, papai!

Assenti, me abaixando na sua frente. Assim que eu fiquei pertinho de Mandy, notei os seus olhos. Eram claros assim como o meu, o seu cabelo liso e loiro, o seu sorriso em lábios e uma de suas mãos soltas, enquanto a outra segurava a sua boneca. Pela primeira vez depois que Tasha morreu, eu não a enxerguei ali, eu nem se quer a enxerguei no movimento dos lábios de Mandy, pela primeira vez eu me enxerguei ali. Eu vi um pouco de mim naquela criança, um vi um pedaço de mim em cada gesto que ela fazia.

- Eu te amo, papai! – Mandy disse, me puxando pra um abraço.

Sorri, afundando o meu rosto em seu ombrinho. Passei a mão no seu cabelo, segurando-a com a minha outra mão nas costas e a levantando.

Flatline // J.B Onde histórias criam vida. Descubra agora