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Ana Flávia estava em casa, envolta pelo silêncio que só a dúvida sabia trazer. Havia algo que a incomodava nos últimos dias, e não era apenas o cansaço ou os enjoos frequentes. O atraso na menstruação, tão pontual quanto o relógio, acendeu um alerta silencioso em sua mente. Os dias haviam passado com uma estranha sensação de expectativa, como se seu corpo estivesse tentando lhe contar algo que sua cabeça ainda resistia em aceitar.

Era uma tarde comum, Gustavo estava na empresa e ela decidira tirar o dia para si mesma, alegando cansaço. A verdade, porém, era outra. Ana Flávia já tinha ido ao médico naquela manhã e, nas mãos, carregava um envelope que continha uma resposta que poderia mudar tudo. Aquele exame de sangue, aquele simples pedaço de papel, tinha o poder de virar sua vida de cabeça para baixo.

Ela sentou-se no sofá, a respiração pesada, as mãos trêmulas enquanto segurava o envelope fechado. Ainda não era a hora de abrir. **Será mesmo?** O pensamento ecoava em sua mente. O que aconteceria se fosse verdade? Se estivesse grávida, como seria o começo do casamento deles? Ela acariciou de leve o abdômen, sentindo um misto de carinho e incerteza. Gustavo sempre falou que queria filhos, mas e agora, tão cedo? Será que ele estava realmente preparado?

Ana Flávia fechou os olhos, revivendo as últimas semanas. O casamento, a lua de mel, a nova casa. Tudo parecia estar caminhando em direção ao sonho perfeito, mas uma gravidez? Agora? Ela suspirou, abriu o envelope devagar, sentindo o papel áspero entre os dedos. Suas mãos continuavam trêmulas enquanto desdobrava o documento. Os olhos passaram rapidamente pelas linhas, até que encontrou o que tanto temia – positivo.

O mundo parou por um segundo. Era verdade. Ela estava grávida.

Um sorriso tímido surgiu em seus lábios, mas logo deu lugar à apreensão. E agora? Como contar para Gustavo? Ele sempre dizia que sonhava em ser pai, mas agora que o sonho se tornava real, ela não sabia como ele reagiria. Havia tanto que ainda queriam fazer, tanto para construir antes de dar esse passo. E se ele achasse que era cedo demais? A mente de Ana Flávia corria em círculos, jogando-a de volta às suas inseguranças.

Levantou-se do sofá, começou a andar pela sala, sem saber como lidar com o turbilhão de emoções. Precisava contar a ele, mas ao mesmo tempo queria proteger o momento, encontrar as palavras certas. Sentiu o peso da responsabilidade crescendo em seus ombros.

Passou o resto da tarde perdida em pensamentos, tentando imaginar diferentes cenários. E se ele ficasse chateado? E se ele dissesse que não era o momento? Mas, ao mesmo tempo, ela sabia que Gustavo era amoroso, um companheiro que sempre esteve ao seu lado, em todos os momentos difíceis.

Quando Gustavo chegou em casa, ele a encontrou sentada na poltrona, olhando pela janela. Ele percebeu a quietude incomum, um brilho diferente nos olhos dela, mas não fez perguntas de imediato. Aproximou-se devagar, beijou sua cabeça e sentou ao lado dela, observando o silêncio.

— Você está bem, amor? — ele perguntou, a voz suave, mas com uma pitada de preocupação.

Ana Flávia desviou o olhar para ele, tentando esconder o nervosismo. Ela o amava tanto, mas como poderia explicar o que estava sentindo? Ainda não estava pronta. Não naquele momento.

— Só estou cansada, vida — ela respondeu, tentando sorrir.

Ele percebeu que havia mais do que o cansaço por trás daquele olhar, mas decidiu respeitar o espaço dela. Puxou-a para mais perto, deixando que ela descansasse a cabeça em seu ombro. E naquele abraço, Ana Flávia se sentiu um pouco mais tranquila, como se, mesmo sem palavras, Gustavo conseguisse lhe passar a segurança de que tudo ficaria bem.

O segredo ainda estava ali, entre os dois, como uma sombra silenciosa, mas Ana Flávia sabia que, cedo ou tarde, teria que contar a ele. A dúvida, no entanto, continuava a martelar em sua mente. Será que agora era o momento certo?

Ela adormeceu naquela noite com uma mistura de ansiedade e expectativa, sabendo que, em breve, a vida que conheciam iria mudar para sempre.

Conflito de Paixões • Miotela Onde histórias criam vida. Descubra agora