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Era um início de manhã sereno na casa de Ana Flávia e Gustavo, mas essa serenidade só existia por breves momentos. A casa, que antes era um refúgio de tranquilidade para o casal, agora se preenchia de novos sons – o choro suave de Aurora, que trazia uma mistura de urgência e doçura. Aurora estava com apenas algumas semanas de vida, e o ritmo de seus dias e noites tinha mudado completamente desde que ela chegou.

Gustavo foi o primeiro a acordar. Já acostumado a esse novo ritmo, ele se levantava automaticamente ao ouvir os primeiros resmungos de Aurora. Ele olhou para o lado e viu Ana Flávia ainda adormecida, o cansaço evidente no rosto dela. Decidiu deixá-la descansar mais um pouco. Ela estava exausta das noites seguidas de amamentação, e ele sabia o quanto esses pequenos momentos de sono eram preciosos para ela.

Com cuidado, Gustavo pegou Aurora do berço ao lado da cama e a embalou em seus braços. "Oi, princesinha", sussurrou, beijando sua testa enquanto caminhava lentamente em direção à sala. Aurora, com seus olhos ainda se acostumando ao mundo ao redor, se aninhou no peito do pai. Ela tinha o mesmo olhar intenso da mãe, e Gustavo se pegava pensando nisso constantemente – como Aurora era o perfeito reflexo de Ana Flávia em tamanho miniatura.

Ele colocou Aurora no pequeno moisés ao lado da cozinha, onde poderia observá-la enquanto preparava algo para o café da manhã. Enquanto o café passava, Gustavo falava baixinho para Aurora, que o ouvia com curiosidade. "Você sabe o quanto sua mãe é incrível, né? Ela cuidou de você aqui dentro por meses, e agora está cuidando de você com tanto amor... Você deu trabalho, hein, mas valeu cada segundo. Eu e ela vamos proteger você de tudo." O bebê não entendia as palavras, mas o tom de voz tranquilo do pai parecia acalmá-la.

De repente, Gustavo ouviu um som vindo do quarto. Ana Flávia estava acordando. Ele sorriu, sabendo que ela provavelmente escutara parte de sua conversa com Aurora. Momentos depois, ela apareceu na porta, os cabelos levemente bagunçados e um sorriso preguiçoso nos lábios.

"Eu ouvi o que você disse", comentou, se aproximando dele e dando um beijo leve em sua bochecha. "E você é o pai mais fofo do mundo." Ela olhou para Aurora, que agora parecia um pouco mais desperta, movendo os bracinhos e soltando pequenos resmungos.

Ana Flávia se aproximou e pegou Aurora no colo, sentindo o calor do corpinho da filha. Era como se cada vez que segurasse Aurora, a realidade de ser mãe ficasse mais tangível. Os olhos da bebê procuraram o rosto dela, e Ana Flávia riu, sabendo que já era a hora da mamada. "Hora do café da manhã, né, mocinha?", ela sussurrou.

Enquanto Ana Flávia amamentava Aurora no sofá, Gustavo voltou à cozinha para terminar o café da manhã. Ele preparou torradas e frutas, arrumando tudo na mesa com cuidado. Mesmo com toda a correria dos cuidados com a filha, eles sempre tentavam manter alguns pequenos momentos para si como casal – e o café da manhã juntos era um desses rituais.

Minutos depois, com Aurora já satisfeita e adormecida novamente, Ana Flávia a colocou suavemente no moisés. "Ela parece um anjo quando dorme", comentou, sentando-se à mesa e pegando uma xícara de café.

Gustavo, sentado à frente dela, concordou. "Sim, mas quando chora... bem, aí parece um furacão." Eles riram juntos, sabendo que essa era a mais pura verdade.

O dia continuou em uma rotina nova e desafiadora. Depois do café, Gustavo cuidava de pequenos detalhes da empresa de casa, enquanto Ana Flávia monitorava Aurora. Havia sempre algo novo a aprender – seja uma forma diferente de acalmá-la, ou como entender melhor seus choros. Aurora, apesar de ser uma bebê tranquila na maioria das vezes, tinha seus momentos de cólica ou de noites mais agitadas. E nessas horas, Ana Flávia e Gustavo se revezavam, cada um tentando encontrar a melhor maneira de acalmar a pequena.

Em um momento, Gustavo estava em uma videoconferência rápida com seus sócios, quando Aurora começou a chorar mais alto. Ele tentou continuar a conversa, mas o som era inconfundível. "Desculpem, preciso interromper. Deveres de pai", disse com um sorriso, encerrando a chamada. Ele correu até o quarto e encontrou Ana Flávia tentando acalmar Aurora, que se debatia no colo dela.

"Ela está com cólica de novo", disse Ana Flávia com um suspiro cansado. Gustavo imediatamente tomou a filha nos braços, começando a caminhar pela sala enquanto fazia movimentos suaves para tentar acalmá-la. "Vai ficar tudo bem, pequena. Papai está aqui", ele repetia, em um tom que transmitia tranquilidade. Aos poucos, os soluços diminuíram e Aurora se acalmou, até finalmente adormecer.

Mais tarde, naquela mesma noite, enquanto o silêncio tomava conta da casa e Aurora dormia profundamente no berço ao lado da cama deles, Ana Flávia e Gustavo se aconchegaram no sofá da sala. "Eu não sabia que seria tão difícil, mas ao mesmo tempo, tão incrível", confessou Ana Flávia, encostando a cabeça no ombro dele.

Gustavo passou o braço ao redor dela, apertando-a de leve. "Eu também não imaginava. Mas quando eu vejo Aurora, vejo você nela, e isso faz tudo valer a pena. Somos uma equipe. E estamos aprendendo juntos."

Ela sorriu, fechando os olhos, sentindo-se em paz naquele momento. Estavam longe de ter todas as respostas, mas tinham um ao outro – e agora tinham Aurora, que era a maior prova do amor deles.

E enquanto a noite avançava, entre mamadas, choros e momentos tranquilos, o amor entre eles apenas crescia. Estavam construindo algo mais forte do que nunca, uma família unida pelo carinho, pela paciência e pelos pequenos momentos de alegria que Aurora trazia para suas vidas.

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