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Gustavo estava no carro, inquieto, com a mente acelerada. A cada sinal vermelho que ele parava, a ansiedade crescia. Fazia dois dias que não via Ana Flávia. Parecia pouco, mas a saudade era sufocante. Ele tentava se distrair com o rádio, mas nenhuma música conseguia afastar a imagem dela da cabeça. A cada curva, a cada esquina, ele revivia os momentos dos últimos dias, as risadas, os olhares trocados, as conversas até tarde. E agora, ali, ele só conseguia pensar em uma coisa: vê-la de novo.

Enquanto dirigia pelas ruas já tão familiares, Gustavo murmurava para si mesmo:

— São cinco quilômetros até lá... sete sinais, vinte esquinas, dois hospitais... — Ele repetia como um mantra, acelerando um pouco mais cada vez que o tráfego permitia. Ele já conhecia esse caminho de cor, quase como se estivesse programado a chegar até ela.

Finalmente, ele chegou ao prédio. Sete andares o separavam de Ana Flávia. Entrou no elevador e apertou o botão com uma pressa silenciosa, o coração batendo forte no peito. As portas se abriram no andar dela, e ele deu os últimos passos apressados até a porta que já conhecia tão bem. Respirou fundo e tocou a campainha.

A porta se abriu, e lá estava ela. Ana Flávia, descalça, com uma expressão surpresa no rosto, mas os olhos brilhando de saudade. Gustavo sorriu de lado, aquele sorriso que ele sabia que a fazia fraquejar.

— Dois dias... dois dias sem te ver, e parece uma eternidade — ele disse, entrando e fechando a porta atrás de si.

Ela riu, baixinho, como se soubesse o quanto ele havia sofrido com a espera. Mas antes que pudesse responder, Gustavo já estava perto demais, segurando sua cintura e a puxando para si.

— Não precisa de desculpas hoje — ele murmurou. — Eu vim porque não aguentava mais ficar longe.

Ela suspirou, se deixando envolver pelos braços dele. Gustavo olhou ao redor, a luz do abajur ainda ligada no quarto semi-escuro.

— Desliga esse abajur... — ele sussurrou perto do ouvido dela, com uma voz rouca de desejo. — O show não precisa de luz.

Ana Flávia riu de novo, baixinho, mas fez o que ele pediu, desligando a luz suave. A escuridão os envolveu de forma íntima e confortável. Era como se o mundo lá fora tivesse parado, e agora só existisse aquele momento entre eles.

— E agora, o que vai ser? — ela perguntou, com uma provocação leve no tom de voz. — Ação, romance ou suspense?

Gustavo sorriu, roçando os lábios no pescoço dela.

— A escolha é sua. — Sua voz carregava um tom brincalhão, mas a urgência nos gestos entregava o quanto ele sentia falta dela.

Eles se aconchegaram no sofá, com um filme qualquer passando na TV, mas ambos sabiam que não era sobre o filme. Era uma desculpa, uma desculpa para ficarem juntos, para sentirem o calor um do outro, para que o toque falasse mais alto do que qualquer palavra.

Os minutos passaram, mas o filme mal avançava. Eles pausavam, voltavam e continuavam a se beijar, se abraçar, como se o tempo não tivesse pressa de andar.

Em um momento de silêncio, apenas o som suave da TV ao fundo, Ana Flávia o encarou, com um olhar que misturava carinho e provocação.

— Eu estava esperando por isso também... — ela confessou, deitando a cabeça no peito dele.

— Eu sabia — Gustavo respondeu, acariciando os cabelos dela com carinho.

A noite seguiu assim, envolta em toques suaves, risadas abafadas e palavras sussurradas no escuro. Até que, de repente, Ana Flávia levantou de um salto, correndo para o banheiro.

Gustavo a seguiu, preocupado, e a encontrou vomitando.

— Ei, você está bem? — ele perguntou, segurando seu cabelo e afastando-o do rosto dela.

Ela respirou fundo, tentando se recompor, e acenou com a cabeça, ainda ofegante.

— Acho que exagerei na comida — disse, rindo fraca.

Gustavo a ajudou a se levantar, enxugando o rosto dela com uma toalha molhada.

— Vem, vou cuidar de você — ele disse, levando-a de volta para o quarto.

E assim, a noite que começou com urgência e desejo terminou com Gustavo cuidando de Ana Flávia, certificando-se de que ela estava confortável e bem.

Enquanto ela adormecia em seus braços, ele sussurrou:

— A gente pausa, volta e continua, sempre. Porque eu não vou a lugar nenhum sem você.

Ana Flávia sorriu no escuro, sentindo-se segura. E assim, os dois se entregaram ao sono, sabendo que a saudade que os consumia antes agora era só um detalhe, uma desculpa para se reencontrarem sempre.

Conflito de Paixões • Miotela Onde histórias criam vida. Descubra agora