Aonde você está?

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(Por Orm)

- Como ela pôde fazer isso conosco? Comigo? – Abracei a minha mãe desesperada – Como ela tem a capacidade de dizer que me ama e me abandonar assim?
- Ela não te falou os motivos dela? – Minha mãe perguntou enquanto me fazia deitar em seu colo.
- Ela disse que estava indo pra Tailândia, mas não explicou muita coisa.
- Eu acho que ela explicou tudo com isso!
- Como assim mamãe? – Encarei a minha mãe e esperei que ela falasse.
- Na família da Lingling só tem criminosos e se ela precisa voltar é porque está sendo forçada a isso, meu amor... Se eu não tivesse visto a imensidão dos sentimentos dela por você talvez eu pensasse de outra maneira, mas não é esse o caso.
- Mas mamãe... – Ela me interrompeu.
- Se não está confiante no que ela sente, então vai atrás dela e resolva.
- Eu não vou suportar se ela me desprezar – Confessei.
- Você vai sim e dará a volta por cima – Ela respondeu orgulhosa.
Consegui dormir depois de revirar na cama, acredito que já havia passado das três da manhã e quando o dia começou, corri para a empresa e soube por um dos seguranças que a senhora Michell havia sido demitida, a notícia me deixou sem saber o que fazer.
Perguntei se a Lingling ainda se encontrava no prédio e o mesmo segurança afirmou que sim, passei pela catraca de acesso e segui para os elevadores, o coração a mil.
Quando a porta se abriu dei de cara com a senhora Michell que me olhou espantada, eu a cumprimentei e fui entrando, contudo ela segurou em meu braço e pediu que a seguisse, eu queria subir e falar com a Lingling, mas ela não permitiu.
Então fui com a mulher até uma cafeteria, enquanto aguardávamos a atendente trazer os nossos cafés, a senhora Michell ficou me encarando:
- O que tanto a senhora está olhando? – Perguntei curiosa.
- Não é à toa que a senhorita Sirilak é perdidamente apaixonada por você – Ela soltou direto – Você é uma das melhores pessoas que eu conheci nesta vida.
- Eu não sou tão boa assim – Falei dando de ombros.
- Você é e talvez seja por isso que eu esteja me sentindo muito mal por ter apressado as coisas.
- O que a senhora está me dizendo? – Observei a mulher tirar os óculos e limpá-los, depois recolocá-los no rosto, nesse segundo o nosso café chegou e ela tomou um gole de sua xícara.
- Eu trabalho para o pai da senhorita Sirilak e passei pra ele todas as informações que obtive esses anos todos, sendo secretária dela era muito fácil ter acesso a tudo, podia manipular a agenda dela quando era conveniente e podia escutar algumas conversas que ela tinha na sala.
- A senhora a espionou todo esse tempo?
- Sim, mas uma coisa eu evitei passar pra ele... – Ela hesitou – Só disse quando eu percebi o quão longe vocês duas haviam chegado.
- E porque isso?
- Eu gosto da senhorita Sirilak e aprecio você, quando vi vocês duas juntas eu percebi o quão bem você fazia a pequena – Ela admitiu – A senhorita Sirilak já teve alguns casos com outras mulheres, mas nada desse tipo, nada que envolvesse amor.
- Não importa mais, ela está me deixando, então que “amor” é esse?
- Ela não está te deixando Orm – A senhora Michell terminou o café e se levantou – Ela está salvando a sua vida e acabando com a dela.
- Senhora Michell – Foi a minha vez de segurá-la – Me explica o que está acontecendo – Implorei.
- Eu já falei mais do que eu deveria Orm, se eu continuar falando posso não sobreviver nos próximos dias, sinto muito – Ela lamentou soltando-se da minha mão – Só te aconselho uma coisa, deixe essa história pra lá, não queira saber mais do que o necessário e se você ama a senhorita Sirilak de verdade, deixe-a ir, pois eu tenho certeza que ela encontrará um jeito de voltar pra você, basta você saber esperar.
A senhora Michell saiu e eu voltei a me sentar vendo-a se afastar cada vez mais, ela conhecia a Lingling há muitos anos, estudou a personalidade da minha noiva... Ex...
Que droga!
Eu me perguntei como deveria tratá-la daquele dia em diante.
Terminei o café e voltei para a empresa, mas lá fui informada que a Lingling havia ido embora, não tinha cabeça pra trabalhar, eu queria conversar com ela e esclarecer as coisas entre nós.
Decidi ir a sua casa pensando que certamente ela voltou pra lá, mas acabei encontrando apenas a Eclair que após tentar fugir de algumas perguntas que eu fiz informou que a Lingling havia saído pela manhã e não retornara.
Perguntei se teria problema se eu esperasse na casa, mas não a deixei responder e fui entrando, me surpreendi com os móveis tampados por lençóis claros e os quadros que ficavam pendurados nas paredes haviam sido removidos.
Andei pelo corredor com a Eclair atrás de mim me implorando para que eu saísse, mas a ignorei, pelo menos até ver o quarto que ela mantinha trancado naquele momento escancarado, eu entrei lá e percebi que o mesmo estava completamente vazio.
Não vi os móveis, nem os brinquedos, nem as roupas... Nem as cores nas paredes eram iguais.
Eu busquei o ar tentando me controlar e fui andando até o quarto principal, a arrumação estava impecável, mas o closet estava quase todo vazio.
Ela tinha me deixado... Admiti pra mim mesma.
Sentei no chão e chorei enquanto Eclair me abraçou firme.
Quando tentei levantar, senti as minhas pernas vacilarem e quase caí, porém a Eclair me acudiu e me arrastou até a cama:
- Assim que você melhorar será bom ir embora – Ela me expulsou gentilmente.
- Ela não vai mais volta? – Perguntei curiosa.
- Você acredita nisso? – Ela rebateu.
- Não sei mais no que ou em quem acreditar, ultimamente ela tem escondido coisas e mentido pra mim, ela sempre fala que é apaixonada por mim, mas nunca disse que me ama.
- E você acha que ela não te ama!? – Não sabia se aquilo foi uma pergunta ou uma resposta.
- Porque ela não me deixou ajudá-la? – Lamentei, as lágrimas voltando a cair.
- Porque você não tem como fazer isso – E essa foi a única resposta direta que ela me deu.
Quando ia saindo da casa de Lingling, Eclair me chamou de volta a porta e estendeu a chave do Porsche colocando-a em minha mão, eu olhei para aquilo e fiz menção em devolvê-la, mas a mulher se negou a pegar:
- A Lingling pediu que eu te entregasse isso.
- Eu não entendo, pra quê?
- Ela quer que você fique com o carro dela – Quando permaneci em silêncio ainda em dúvida se deveria ou não pegar o carro, Eclair prosseguiu, porém sussurrando dessa vez, como que evitando que outras pessoas pudesse nos escutar, mesmo nós duas estando sozinhas – Essa é apenas uma garantia que ela voltará pra nós, então cuide bem do carro e de você!
- Mas...
- Fica bem! – Eclair fechou a porta e eu fiquei com a chave na mão, “uma garantia” refleti.
Caminhei até o Porsche e entrei, coloquei a chave na ignição, alisei o volante enquanto lembrava de alguns momentos que compartilhei com a Lingling naquele carro, ela adorava-o, suspirei.
Decidi que pararia de chorar, era inútil este desespero, se Lingling voltasse eu devolveria o seu pertence, caso isso não acontecesse, ao menos teria algo que me lembraria dela, mas uma coisa era certa... Eu seguiria em frente!
Saí de lá completamente exausta e voltei pra minha casa, mamãe não estava, então me recolhi em meu quarto, não demorou muito pra que eu dormisse.
...

(Por Lingling)

O meu primeiro impulso ao ver a Orm na frente da minha casa foi abrir a porta e abraça-la e me render ao que estava sentindo, mas Eclair que já sabia de tudo me segurou, ela nem queria receber a Orm, mas eu disse que ficaria trancada no escritório.
Eu sabia que ela iria me procurar mesmo com a minha empregada dizendo que eu não estava, eu entendia que ver os móveis cobertos e quase nada dos meus itens pessoais a quebraria, mas era necessário.
Dizer adeus para aquela mulher era impossível pra mim, não pela segunda vez, a minha mente estava me punindo com os nossos momentos e eu precisei ser forte.
Abracei o meu próprio corpo enquanto me recolhia a outra sala, Eclair falou com a minha noiva e por fim a deixou passar.
Demorou bem mais do que o previsto, mas ouvi quando a Orm saiu, pedi a Eclair que lhe desse a chave do carro, pois ela precisaria para a nova função, não era um presente e sim um empréstimo, eu voltaria por ela... Voltaria por nós... Eu voltaria por mim!
Quando ela ligou o carro e saiu, eu pedi silenciosamente que ela me esperasse, mas se ela seguisse a diante eu entenderia, os meus pais nunca me deram nada além de bens materiais e estavam me tirando a chance de viver um amor de verdade.
Esperei a Eclair sair e só então eu destranquei a porta, o vôo estava marcado para às 22 horas, o que me forneceu duas horas pra fazer a algo útil.
Liguei para o Lacuna e avisei pra ele não tentar contato comigo pelo celular, que em breve eu o faria de outro modo e ele assentiu, chamei o meu funcionário e pedi que redobrasse a atenção a Orm e a mãe dela.
Era o momento de me despedir daquela cidade que mesmo fria e imperfeita me garantiu boa fortuna e realizações, foi em Londres que eu conheci o amor da minha vida e era ali que eu iria reconquistar tudo que a minha família estava roubando de mim.

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