Capítulo 27 - Cuido de você

815 105 59
                                    

Perspectiva de Mon

A enfermeira Arya mexe nos equipamentos, preparando-se para tirar sangue de Sam, que está deitada na cama do hospital.

— Sério que você esqueceu de tomar a medicação, Sam? — diz ela, enquanto puxa uma agulha e começa o procedimento.

— Ai! — reclama Sam, franzindo o rosto. — Não acredito que depois de tantos anos você ainda tira sangue como se quisesse atravessar meu braço de lado a lado.

— Pronto, já acabou, sua bebê grande! — Arya responde com um sorriso.

Minha sobrancelha se ergue involuntariamente. "Ela chamou a Sam de... bebê?"

— O que você está fazendo na Tailândia? — Sam pergunta, claramente confortável com a proximidade da enfermeira.

— Me mudei pra cá recentemente. O Jake também veio, mas está em outro departamento do hospital. E você, hein? Finalmente voltou... — Arya responde com familiaridade.

— Ah, Arya, essa é a Mon. Minha esposa! — Sam me apresenta.

Arya sorri abertamente, estendendo a mão.

— Olá, Mon. Eu sabia que era sua esposa. Lembra que você brincava me chamando de stalker? Eu vi vocês nas revistas quando se casaram.

— Oi... — murmuro, com a voz mais baixa do que pretendia, me sentindo meio deslocada.

— Eu sou a Song! — exclama nossa filha, saltando na cama ao lado de Sam.

Arya sorri para ela.

— Oi, Song! Você é muito parecida com a sua Sam. É sua sobrinha, Sam?

O rosto de Arya muda completamente para uma expressão de surpresa.

— Song, é minha filha, Arya. — Sam responde.

— Eu achei que você... — Ela começa, mas é interrompida quando Sam balança a cabeça, sinalizando para que a enfermeira não continue.

— Esta é a Song, e aquele ali bonitão é o Chai. São ambos meus filhos — explica Sam.

— Eu também sou bonitona, mamãe! — resmunga Song. — E sou mais bonita que ele!

— Uau, seu feitiozinho! — Arya diz, sorrindo, olhando minha filha.

— Você é a menina mais bonita do mundo, filha. E o seu irmão é o menino mais bonito. Está bom assim? — Sam pergunta com doçura, tentando apaziguar.

— Vou pensar nisso... — Song cruza os braços, fazendo charme. — E como você conhece a mamãe?

— Eu cuidei dela quando estava doente — responde Arya, enquanto limpa o braço de Sam com cuidado exagerado. Pequenos arranhões não precisavam de tanto. Eu poderia ter feito isso. Até Song conseguia!

Sam me encara de repente, provavelmente notando a expressão fechada que eu nem tentei disfarçar. Ela engole em seco, nervosa.

— Arya foi minha enfermeira nos Estados Unidos, Mon.

"Ah, claro... E ela não podia ser menos bonita, mais discreta?" penso com raiva.

— Hum. — Respondo, mal conseguindo disfarçar o incômodo.

— Sua esposa foi a paciente mais difícil da minha vida, Mon. — Arya continua, limpando as feridas de Sam. — Tinha dias que eu queria jogá-la pela janela. E seria fácil, ela não se mexia, seria só mesmo empurrar.

— E isso é engraçado? — pergunto.

Arya ri sem jeito.

— Ah, desculpe, eu estava brincando.

— Sabia que minhas mamães namoram? — Song solta de repente, nos pegando de surpresa.

Eu e Sam trocamos olhares envergonhados enquanto Arya ri, achando graça na espontaneidade de nossa filha.

— Se são casadas, então namoram — responde Arya, como se fosse óbvio.

— Elas dão beijinhos! O Chai acha nojento, mas eu acho fofo. — Song continua, como se estivesse narrando nossa vida para um desconhecido.

— Song, para de falar tudo o que você vê! — a repreendo. — Principalmente para quem você não conhece.

— Mamãe Sam conhece muito bem. Você é amiga dela, Arya? — Song pergunta, cruzando os bracinhos e olhando desconfiada para a enfermeira.

Arya suspira, guardando os materiais de forma meticulosa, como se estivesse tentando acalmar a tensão.

— Igualzinha a você, Sam — ela comenta.

— Ela é — responde Sam, orgulhosa, olhando para nossa filha como se ela fosse a melhor coisa do mundo. E bem: é! Ela, Chai e eu!

Chai, do outro lado da cama, solta um suspiro impaciente.

— Quando a gente vai pra casa? Esse hospital é muito chato.

Arya sorri e se vira para nós.

— Vou verificar se o médico já assinou a alta e volto em um instante.

Assim que ela sai, cruzo os braços e olho diretamente para Sam.

— "Bebê grande"? Sério? — digo, imitando a voz ridiculamente doce de Arya.

Song olha para mim com os olhos arregalados.

— Mamãe, você tá imitando ela?

— Mon, por favor, não precisa disso. Arya estava só sendo simpática — Sam tenta justificar, mas eu não estou com paciência.

— Eu não disse nada — respondo, tentando conter a irritação.

Song olha para Sam e avisa:

— Mamãe Sam, ela tá fazendo a cara de quando vai me colocar de castigo. Acho que ela vai fazer o mesmo com você quando a gente chegar em casa.

Sam solta um riso nervoso.

— Song, eu sou adulta. Não fico de castigo.

— Veremos — digo.

A porta se abre, e Arya entra novamente.

— Bom, Sam, suas pernas ainda estão fracas, certo? — pergunta ela, caminhando em direção à cama.

— Estão, mas eu já tomei a medicação. Deve voltar ao normal em uma ou duas horas — Sam responde.

— Voltaria, mas como você ficou seis horas sem a medicação, vai demorar um pouco mais para o efeito total. Acredito que serão de seis a oito horas até você recuperar completamente — Arya explica. — Embora o médico tenha dado alta, recomendo que você fique aqui no hospital até suas pernas voltarem ao normal. Eu estou de plantão, então posso cuidar de você pessoalmente.

— Não! — respondo rapidamente. — Se a alta foi dada, nós vamos para casa.

Arya olha para mim, meio confusa.

— Claro, mas vocês vão precisar de uma cadeira de rodas e Sam de ajuda constante. Sam vai precisar de suporte para tudo.

— Eu dou conta — digo firmemente. — Vá buscar a alta.

— Mon, acho melhor ficar — Sam me interrompe.

— Eu cuido de tudo em casa, Khun Sam. Não se preocupe.

Sam hesita, me olhando com uma expressão de tristeza.

— Mon, eu prefiro ficar aqui até minhas pernas melhorarem. Não vai demorar tanto.

Mon & Sam - Passado e PerdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora