Perspectiva de Song
Estava com minha mãe naquela que sempre foi a casa que eu amava. Claro, não era mais minha há muitos anos, mas foi aqui que eu nasci, e foi neste lar que minhas mães se reencontraram. Esta casa era o meu lugar. Minha mãe havia enviado uma mensagem para a mamãe Mon, dizendo que eu estava aqui, e agora ela estava na cozinha tentando fazer um jantar para nós. Mas, pelo cheiro horrível que vinha de lá, parecia que ela estava tentando me envenenar. Nem a pau que eu ia comer qualquer coisa que ela estivesse cozinhando.
Peguei meu celular e digitei rapidamente:
"Mãe, mãe Sam vai me matar de fome! Pode, por favor, vir ajudar?"
Esse era o início de um plano maligno que eu estava arquitetando na minha cabeça. Elas nem imaginam do que sou capaz. Se com apenas cinco anos eu consegui juntá-las, imaginem o que eu posso fazer aos quinze! Quase dezesseis, na verdade. Não vejo a hora de poder andar na minha vespa. Ah, falando nisso, ainda não contei! Ela se chama Kanchana, que significa tesouro. É o tesouro que minha mamãe me deu. Mas estou me distraindo com coisas menos importantes. Como estava dizendo, eu tenho um plano!
Em poucos minutos, minha mãe chega, e corro para abrir a porta. Com ela, vem o idiota do meu irmão. Ela carrega vários sacos com legumes frescos, e eu solto um suspiro de alívio. "Ufa, fome já não passo!"
– Onde ela está? – pergunta minha mãe, quase rindo.
– Tentando incendiar a cozinha. Você tem que ajudar, porque aquela mulher é incapaz de fazer algo sozinha! – explico, piscando o olho para Chai.
Minha mãe entra e vai direto para a cozinha, me deixando na sala com meu irmão.
– O que você está fazendo, Song? Essa sua cara de psicopata está me assustando – diz Chai, olhando para mim com desconfiança.
– Esta noite não saímos mais desta casa! – afirmo, com uma expressão de determinação.
– Desculpa? – ele pergunta, completamente confuso.
Perco alguns minutos contando para Chai tudo o que a mãe Sam me havia dito. Enquanto eu explico o que elas passaram com a doença, meu irmão começa a chorar como um idiota.
– Você pode limpar essa cara cheia de lágrimas? Que drama! Se te virem assim, meu plano todo vai por água abaixo! – ralhei com ele, revirando os olhos.
– Filhos, vamos servir o jantar! – Minha mãe, Mon, entra na sala nos chamando.
– Só siga tudo o que eu disser e fizer! – sussurro para Chai.
Sentamos à mesa, e a mãe Sam coloca um tacho cheiroso em cima dela. Quase me salivo! Claramente, ela ficou observando a mãe Mon cozinhar, porque aquele aroma era simplesmente irresistível, e só podia ser obra da mãe Mon. Quando ela nos serve, eu e Chai começamos a devorar o prato como se não houvesse amanhã. Estava tão delicioso que quase me esquecia de que estávamos ali por uma razão.
– Mamãe Mon! – chamo, tentando engolir rapidamente um pedaço grande de carne que coloquei na boca. – Precisava falar com você.
– Claro, filha. Fala! – Ela diz, com um sorriso adorável, nem imaginando o que reservei para hoje.
– Eu decidi que vou morar com a mãe Sam. – solto rápido, continuando a comer, como se não tivesse acabado de lançar uma bomba nuclear na sala.
– Você o quê? – Chai se prepara para resmungar, mas eu dou um chute rápido embaixo da mesa.
"Como ele não percebe que é pra seguir meu plano?" – penso, lançando um olhar furioso na direção dele.
– Khun Sam, que é isso? – A mãe Mon estava visivelmente irritada. Ótimo, o plano estava funcionando!
– Mon, eu não disse nada! Você sabe que sempre aceitei que eles ficassem com você. Eles ficam muito melhor com você do que comigo. Eu nem isso consegui fazer! – disse ela, apontando para o tacho. – Song, que conversa é essa? Você não pode deixar sua mãe!
– Ah, tem razão! – digo, fazendo uma cara pensativa exagerada. – Se ao menos houvesse uma maneira de eu viver com a mãe Sam sem deixar de viver com a mãe Mon... É realmente um quebra-cabeça difícil de resolver!
– Song... – minha mãe Mon tenta intervir, mas a mãe Sam está completamente perdida e nervosa. – ... que raio você está tentando fazer?
– Mãe Sam me contou tudo! – declaro triunfante.
Ambas se olham, enquanto eu continuo comendo calmamente. Estava mesmo delicioso! Não tinha como deixar de viver sem a minha mãe Mon, não há ninguém que cozinhe melhor que ela. Ok, tem o fato de eu a amar, mas vamos ser sinceros: a comida é uma questão de sobrevivência!
– Você contou? – pergunta a mãe Mon, com uma expressão de incredulidade.
– Contei! – responde a mãe Sam tímida.
– Mãe Sam, temos que rever a questão dos quartos. Chai ressona, e eu não vou dormir com ele! Posso ficar com o quarto de hóspedes. Ele não vai fazer falta, porque a mãe Mon vai dormir consigo. Só precisamos tratar do isolamento sonoro do quarto de vocês. Caso contrário, vou precisar de anos de terapia. Está certo? Está tratado? Podemos continuar comendo? Mãe, sua comida está deliciosa! – concluo, sorrindo para ela enquanto coloco uma enorme garfada na boca, como se estivesse fazendo um brinde à gastronomia.
– Khun Sam, precisamos conversar! – diz mãe Mon, ignorando completamente tudo o que eu tinha acabado de soltar, como se eu não tivesse já dado solução para tudo.
"Será que não me ouviram?" – penso, revirando os olhos.
– Vão até o quarto conversar! Ou pro escritório! – sugiro, tentando manter a calma e dar um empurrãozinho no meu plano diabólico.
As duas se levantam e vão para o escritório, fechando a porta atrás delas. Um sorriso malicioso se espalha no meu rosto.
– Você acha mesmo que pressionar elas desse jeito vai funcionar? – pergunta Chai, com aquela cara de "você só pode estar brincando".
– Uma pequena pressão e... muito sexo! Muito! – respondo, piscando para ele.
– Você é nojenta, Song! – ele diz, fazendo uma careta de puro nojo. – E elas foram para o escritório, não pro quarto.
– Tia Jim me contou que, antes, elas faziam na casa inteira, então o cômodo é o de menos. – dou de ombros, fixando meu olhar na porta do escritório como se estivesse esperando fogos de artifício.
– Tia Jim te contou isso? – Chai continua com aquela cara de nojo,.
– Vá, me ajuda a trancar a porta! – digo, me levantando e já começando a empilhar móveis contra a entrada. Hoje, ninguém sai!
Eu e meu irmão estamos movendo tudo o que conseguimos, como se estivéssemos montando uma barricada digna de uma revolução. E que revolução as espera! Quando a mãe Mon e a mãe Sam terminarem a conversa, ou... outra coisa, vão precisar chamar os bombeiros pra sair dali.
– Sério que vamos ter que ficar ouvindo tudo outra vez? – ele pergunta, meio em pânico.
– Nem a pau, vamos pra casa da tia Jim! Pega o capacete, vamos na Kanchana! – ordeno, já me vendo escapando dessa situação.
– Você ainda não tem licença pra dirigir! – Ele me olha como se eu fosse louca.
– Sério, Chai, se eu sou tal e qual a mãe Sam, você pegou o pior da mãe Mon! Só vem logo, antes que a gente ouça demais! – digo, pegando meu capacete e praticamente arrastando meu irmão para a fuga.
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Mon & Sam - Passado e Perdão
FanfictionApós ser diagnosticada com uma doença que a condenaria à perda dos movimentos, tornando-a dependente dos cuidados de Mon, Sam toma uma decisão drástica: foge da Tailândia. Sem explicar nada a ninguém, nem mesmo à sua esposa, ela embarca para os Esta...