Capítulo 29 - Bem Casada

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Perspectiva de Sam

Mon havia deixado o quarto e Arya continuou os cuidados. Quando terminou, Mon voltou e se deitou ao meu lado na pequena cama do hospital. Ela se aninhou no meu peito, bocejando como uma criança cansada, com os olhos piscando, lutando contra o sono. O dia havia sido longo para nós duas.

— Como estão as dores? — Ela perguntou com a voz suave, quase num sussurro.

— Estão melhores — respondi, tentando tranquilizá-la.

— Que bom — disse ela, bocejando mais uma vez.

Eu sabia que ela estava exausta, seus olhos pesavam, mas ainda assim, seu cuidado comigo não cessava. Eu não queria que ela se desgastasse ainda mais.

— Mon, você pode ir para casa descansar. Eu te ligo quando estiver tudo pronto para irmos embora — sugeri.

Ela ergueu a cabeça e me lançou um sorriso cansado, mas carinhoso.

— Não vou tirar meus olhos de você — respondeu, teimosa como sempre. — Ou você quer ficar sozinha com sua enfermeira?

— Ela não faz o meu tipo — provoquei, erguendo uma sobrancelha.

— Ah, é? E qual é o seu tipo? — Mon perguntou, fingindo curiosidade.

— Você — respondi, apertando-a mais forte contra mim.

Ela sorriu, um sorriso que aquecia meu coração, e se aconchegou ainda mais no meu peito.

— Khun Sam...

— Sim, Mon.

— Quando voltarmos para casa, podemos colocar suas coisas no nosso quarto? — ela perguntou, com uma voz suave e hesitante.

Eu sabia o que ela estava pedindo, mas decidi provocá-la um pouco.

— Então eu teria que entrar no seu quarto todas as manhãs para pegar minhas roupas? Isso me daria muito trabalho — disse, rindo baixinho.

— Não seja boba — ela rebateu, com uma leve risada. — Eu não quero mais dormir longe de você.

— Nem eu de você, Mon.

Ela acabou adormecendo ali, no meu peito, parecendo uma criança cansada. O dia havia sido difícil, não apenas para mim, mas também para ela. Quando Arya entrou no quarto, pronta para falar como sempre fazia, ergui o dedo para os lábios, pedindo silêncio. Mon precisava descansar.

— Ah, desculpe — sussurrou Arya, constrangida. — Eu só vim ver como você está, Sam.

Olhei para Mon, dormindo tranquilamente ao meu lado, e sorri.

— Estou bem — respondi.

Arya observou Mon por um momento e então comentou baixinho:

— Ela gosta muito de você, Sam.

— E eu dela — respondi com um sorriso bobo, lembrando o quanto eu amava aquela mulher.

O celular de Mon começou a tocar, mas como de costume, ela não acordou. Seu sono era mais profundo que o de uma rocha. Apontei para a bolsa dela e pedi:

— Arya, me passa o celular dela, por favor.

Era Jim, numa chamada de vídeo, mas quando atendi, eram meus filhos que estavam do outro lado.

— Mamãe, quando vocês voltam? — perguntou Chai com ansiedade.

— Quando vocês acordarem amanhã, eu e a mamãe já estaremos em casa com vocês — respondi, tentando acalmá-lo.

— Ainda dói? — perguntou ele, preocupado.

Antes que eu pudesse responder, Song entrou na conversa, refilando como sempre.

— Claro que dói, senão a mamãe não estaria no hospital, né? Não seja burro, Chai!

Ri com a dinâmica entre eles e respondi:

— Já dói menos, meus filhos. Vocês já jantaram?

— Já, mas não foram camarões do rio, então eu não gostei! — reclamou Song.

— No próximo fim de semana eu te levo para comer seus camarões, Song — prometi, rindo da reclamação dela.

— Onde está a mamãe Mon? — perguntou Chai, curioso.

— Ela adormeceu, filho. Agora, façam tudo o que a tia Jim mandar e se comportem, combinado?

Depois de me despedir dos meus pequenos, devolvi o celular de Mon. Arya me olhava com uma expressão surpresa e quase... confusa.

— Por que você nunca me disse que era mãe? — perguntou ela, sem rodeios.

Olhei para Mon, ainda dormindo, antes de responder.

— Eu não sabia — respondi, com um toque de tristeza na voz. — Mon os teve enquanto eu estava nos EUA. Meu maior arrependimento foi tê-la deixado cuidando deles sozinha.

Arya me olhou com compaixão e disse:

— Sam, é só não repetir o erro. Não a afaste de você se isso voltar a acontecer. Na verdade, faça o possível para que não aconteça novamente. Não brinque com sua medicação!

Assenti com a cabeça, e Arya saiu do quarto, deixando-me a sós com Mon, que dormia serenamente ao meu lado.

Perspectiva de Arya

Saí do quarto de Sam, caminhando de volta para a enfermaria com meus pensamentos agitados. A vida de Sam era tão diferente de tudo o que eu havia imaginado durante todos esses anos. Eu nunca soube que ela era tão apaixonada por sua esposa. Raramente falava de Mon, e quando eu perguntava, ela fugia do assunto como se fosse algo proibido. E eu também não fazia ideia de que ela tinha dois filhos!

Quando conheci Sam, ela parecia uma fugitiva, sem celular, escondida em uma casa, longe de seu país. Nunca imaginei que ela tivesse uma vida tão... familiar aqui. Era difícil acreditar que aquela mulher, que sempre se mostrava dura e reservada, era uma mãe tão carinhosa e atenciosa. A forma como ela falava com os filhos era tão doce, nada parecido com a mulher dura que eu conheci.

E Mon... Bem, Mon era outra surpresa. Eu não esperava encontrar uma mulher tão apaixonada. Na minha cabeça, aquele casamento não tinha futuro, especialmente pela forma como Sam evitava falar sobre ele. Quando cheguei à enfermaria, encontrei Jake tomando seu café durante a pausa.

— Então, já ouvi dizer que Sam deu entrada no hospital! Ela é uma celebridade por aqui, hein? Todo mundo está comentando sobre Khun Sam estar hospitalizada.

— É verdade, acabei de sair do quarto dela — respondi.

— E então? Você conseguiu falar com ela sobre o motivo de ter implorado para vir trabalhar comigo na Tailândia?

— Não. E nem sei se vou conseguir — respondi, um pouco triste.

Jake franziu a testa, confuso.

— Por quê?

— Ela estava com a esposa e os filhos. Tem dois filhos lindos!

— Filhos, sério? Eu nem sabia que ela era mãe — Jake respondeu, surpreso. — Mas você sabia que ela era casada!

— Sabia, mas não sabia que ela era tão bem casada — refleti.

— Tenho certeza de que não é. Que mulher que ama foge da esposa só porque está doente?

— Não sei se é tão simples assim — concluí, mais confusa do que antes.

Mon & Sam - Passado e PerdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora