Capítulo 62 - Colo da Mãe

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Perspectiva de Sam

Consegui acalmar um pouco Song e a convidei a se sentar ao meu lado. Seus bracinhos me agarravam com força, como se ela tivesse medo de eu desaparecer.

— Sua mãe sabe que você está aqui? Não quero preocupá-la, Song. — perguntei, preocupada.

— Mãe, por favor, não pede para ela me buscar. Deixa eu passar a noite com você hoje. — Ela olhou para mim, as lágrimas escorrendo pela bochecha, deixando marcas na minha blusa.

Abracei-a forte, sem entender muito bem o que estava acontecendo, mas queria que ela soubesse que eu estava ali.

— Você foi na minha peça de teatro. — Song disse, um pouco mais calma.

— Peça de teatro? — perguntei, confusa, tentando lembrar de algo recente.

— Quando eu tinha oito anos. — Ela acrescentou, e uma lembrança começou a se formar.

— Ah! Do bonequinho de neve! Você estava linda! — sorri ao lembrar da figurinha adorável que ela era naquele dia, com um cone de papel laranja no nariz ridículo e um sorriso radiante.

— Você foi.

— Claro que fui! Você acha que eu perderia a chance de te ver assim vestida? — reforcei, rindo. — Sempre estive presente nas suas festinhas, e se eu falhei alguma vez, foi porque realmente não podia ir.

Levantei-me, puxando Song pela mão em direção ao meu escritório. Não era fácil falar sobre estas coisas, mas talvez mostrar fosse melhor. Abri a gaveta da mesa no meu escritório e tirei uma caixa, colocando várias coisas sobre a superfície.

— Estes são os calendários dos jogos do seu irmão. Veja, aqui estão os resultados. Eu queria garantir que, se ele quisesse conversar sobre os jogos, eu soubesse pelo menos se ele tinha ganho ou não. Mas ele nunca se mostrou muito interessado em falar sobre isso comigo. — Fui despejando os calendários, relembrando os momentos. — Olha! — exclamei, pegando um papel especial. — Aqui está seu convite para a peça! E esses desenhos que vocês me fizeram no Dia das Mães... Este aqui é o meu preferido!

Era um desenho nosso, ela tinha feito minha cabeça bem grande, e estávamos com expressões zangadas iguais. Ao lado, estava Duanpen.

— Mãe... — disse ela, segurando delicadamente cada papel que eu mostrava. — Por que vocês se separaram? Nós éramos tão felizes. Eu pensei que você e a mamãe se gostavam muito.

Sentei-me, pensativa, procurando as palavras que mal conseguia dizer, e muito menos dizê-las para Mon.

— Filha, éramos. — comecei. — E, para que conste, sua mãe é o amor da minha vida. Quer dizer, ela e vocês... — me apressei em deixar claro para que ela soubesse que Mon nunca foi mais importante do que ela. — Mas você sabe da minha doença, não sabe?

— Sei, mas a mamãe está bem com sua medicação. — Ela disse, se acomodando no meu colo como se ainda fosse uma bebê.

Era mais fácil falar assim, com Song tão próxima, a cabeça escondida em meu ombro sem nossos olhos se cruzando.

— Filha, sempre que eu esquecia de tomar a medicação, meu corpo ficava paralisado. — expliquei. — Você já é crescida, sabe que casais... bem, eles fazem... bem, casais,... na cama... eles...

— Mãe, só fala. — Ela pediu, impaciente.

— Eu e sua mãe, além do amor que tínhamos, também dividíamos uma cama. E os casais... — hesitei, antes de corrigir. — ... os casais adultos, não os adolescentes!!! — Apontei para o rosto dela. — Precisam de um certo nível de intimidade. E quando eu não tomava a medicação, sua mãe teve que cuidar de mim de uma maneira muito intensa, que me deixou envergonhada.

Song se ajeitou, ainda confusa, mas interessada.

— Eu não tinha controle sobre meu corpo, então, eu me sujava. Você entende?

Ela assentiu, me olhando com empatia.

— Era muito vergonhoso para mim que a mulher que eu desejava... se é que você me entende, tivesse que passar por aquilo. Eu cheguei a pensar que sua mãe nunca mais me desejaria.

— Você foi mesmo idiota. — ela disse, um sorriso divertido surgindo em seu rosto.

— Fui, filha. — Sorri de volta, aliviada.

— Por isso vocês vão à terapia? Para que, se a mamãe e você tiverem que passar por isso de novo, estejam preparadas? — perguntou, curiosa.

— Meu tratamento terminou, filha. Terminou este ano. — expliquei, meu coração se aquecendo.

— Você está curada? — Ela pulou do meu colo, radiante.

— Estou, filha. — confirmei, sorrindo.

— A mamãe sabe disso? — ela perguntou, ainda cheia de esperança.

— Não. Song, eu e sua mãe estamos separadas. Basicamente, nossas conversas giram em torno de vocês. Vocês são o que nos une.

— Naquela noite, não parecia que estavam falando sobre nós. — Ela zombou, com um sorriso travesso. — E se aquele barulho todo era "nojo", também quero alguém tendo "nojo" de mim.

Levantei-nos, enchendo-a de cócegas, rindo com sua ousadia.

— Você não tem idade para isso! — brinquei, implorando para que ainda não estivesse pensando em tais coisas.

— Ah, não sei, mãe. Com o exemplo que tenho em casa, talvez acabe experimentando. — Ela provocou, com um sorriso malicioso.

Encho-a de cócegas de novo, sem conseguir conter a risada.

— Está bem, está bem... estou só brincando! — Ela riu, entre as minhas cócegas.

— Filha, preciso avisar sua mãe que você está aqui. Ela vai ficar preocupada. — disse, pegando meu celular para enviar uma mensagem à Mon.

Mon & Sam - Passado e PerdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora