Capítulo 66 - Flagrados

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Perspectiva de Jim

Song e Chai acabaram dormindo aqui em casa para dar um tempo a Mon e Sam, para que, quem sabe, pudessem finalmente se entender. Só espero que tenham aproveitado para conversar e não apenas passado a noite transando.

Dividi a cama com minha adorável sobrinha, enquanto Chai ficou no quarto com meu filho. Já era de manhã, e Song dormia como uma pedra, seu corpo espalhado de qualquer jeito, como se não tivesse uma preocupação no mundo.

— Song, vamos acordar, já é hora — chamei com carinho, acariciando o cabelo dela.

— Já vai, tia, só mais um pouco... — ela murmurou, enfiando a cabeça debaixo do travesseiro.

Não pude evitar sorrir. Era difícil resistir ao charme dela, então dei um beijo leve em sua testa e me levantei, deixando-a ali mais um pouquinho. A verdade é que os filhos de Mon sempre foram especiais para mim. Durante anos, cuidei dos dois como se fossem meus. O laço que criamos é forte, profundo, eu havia participado da criação deles desde o primeiro momento. Antes mesmo de Mon segurar seus filhos no colo, eu já os havia segurado.

Eu quem punha esses dois pestinhas para dormir, cantava canções de ninar e enxugava suas lágrimas nos momentos de birra. Song, então, sempre foi especialmente apegada a mim, talvez porque eu não tivesse uma filha, de certa forma, ela se tornou esse presente que Mon, sem querer, me deu.

Era quase impossível não ver a influência que tive sobre ela. Seu senso de humor afiado, a maneira como fazia piadas na hora certa, tudo isso me fazia pensar que talvez tivesse herdado um pouco do meu jeito. E, se for para ser sincera, eu até me orgulhava disso.

Fui até o quarto dos rapazes para acordá-los, e assim que abri a porta, o que vi me deixou completamente chocada. Ao mínimo movimento da porta, os dois se cobriram apressadamente, como se tivessem sido pegos em flagrante.

Eu havia colocado, na noite anterior, uma cama no chão para o Chai, mas, pelo visto, ele ignorou completamente o colchão que continuava intacto, e ambos estavam na mesma cama, enfiados debaixo do cobertor. O mais surpreendente? Os dois estavam de tronco nu.

Fechei a porta com pressa, o coração disparado, tentando processar o que acabara de ver. "Meu Deus, por favor, que por debaixo daquele lençol os dois estejam... vestidos", pensei, quase em pânico. Mas, na realidade, queria mesmo pedir que aquilo fosse apenas um pesadelo, um delírio da minha mente ainda cansada da noite anterior.

Meu filho e... o filho da Sam? Isso só podia ser uma grande confusão. Olhei para a porta fechada, tentando entender o que eu tinha acabado de presenciar. "Não, não... só pode ser um mal-entendido", tentei me convencer, mas uma parte de mim sabia que a situação era muito mais complicada do que parecia.

— Bom dia, tia. — Song se espreguiçava atrás de mim, e seus olhos logo notaram minha expressão de puro pânico, ainda com a mão trêmula na maçaneta. — Que cara é essa?

Eu tentei dizer algo, qualquer coisa, mas as palavras simplesmente não saíam. Eu, que sempre tive uma resposta pronta para tudo, agora estava em completo choque.

— Ah, não acredito! — disse Song, me empurrando suavemente para o lado e abrindo a porta com um ar de curiosidade. Ela deu uma olhada rápida e, com um sorriso travesso, completou: — Elá... foram rápidos, hein! Agora, se veste, Chai! Quero ver nossas mães! — E antes que alguém lá dentro pudesse responder, ela fechou a porta com um estalo.

Eu a olhei, incrédula, sem conseguir processar a situação.

— Você sabia disso? — perguntei, ainda apontando para a porta fechada.

— Que eles iam passar a noite transando? Não exatamente, mas que bom para eles, né? — respondeu ela, com a maior naturalidade do mundo, começando a descer as escadas. — Vamos, tia, tô morrendo de fome.

Song simplesmente seguiu em frente como se nada tivesse acontecido, enquanto eu ainda tentava entender como minha vida havia virado de cabeça para baixo em questão de minutos.

Perspectiva de Chai

— Droga, droga! Como a gente se deixou adormecer? — murmuro, desesperado, enquanto procuro minha camiseta pelo quarto, o coração batendo forte no peito.

Kamal, ainda deitado, parecia em choque, com os olhos fixos na porta fechada. Ele mal conseguia falar.

— O que a gente vai dizer para minha mãe? — pergunta, a voz tremendo de nervosismo.

— Para a sua mãe e para as minhas! Você acha que a sua mãe vai ficar quieta quando vir as minhas mães? — respondo, tentando vestir a camiseta o mais rápido possível, já imaginando o caos que estava prestes a se formar.

— Tá certo, mas... o que a gente diz? — Kamal insiste, sentando-se na cama, ainda perdido.

Eu paro por um segundo à sua frente, coçando a cabeça e sentindo a perna tremendo de ansiedade. Não faço ideia de como sair dessa situação.

Horas atrás...

Tudo começou com um beijo tímido, mas agora estava muito além disso. Minhas mãos já não conseguiam se afastar do corpo de Kamal, e meus lábios exploravam cada parte de seu pescoço. Kamal, por sua vez, segurava firme a minha camiseta, como se temesse que eu fugisse.

— Droga, Chai... — ele sussurrou, a respiração pesada e entrecortada. — Isso tá tão bom... vem cá!

Sem hesitar, ele me puxou com força, me colocando em seu colo. Eu o encarei por um segundo, enquanto suas mãos deslizaram pelo meu rosto de forma carinhosa. Kamal sempre teve o sorriso mais lindo que eu já vi, e agora, eu provavelmente estava devolvendo um sorriso totalmente desajeitado, tentando esconder o quanto estava nervoso. Sentar no colo dele, o único garoto por quem eu já havia me apaixonado, era surreal.

Envolvi seus ombros com meus braços, mantendo o sorriso no rosto. Era um sonho que eu nem sabia que poderia viver.

— Posso...? — ele perguntou, hesitante, enquanto suas mãos se moviam por baixo da minha camiseta, pedindo silenciosamente permissão para tirá-la.

Meus olhos se arregalaram por um instante, e ele notou minha hesitação imediatamente. Retirou as mãos devagar, deixando-as repousar suavemente no meu colo.

— Esquece... assim já tá bom. — disse ele, me puxando para mais um beijo, tão intenso quanto o primeiro, deixando o quarto em um silêncio que só nossas respirações podiam preencher.

— Você já... — começo a perguntar, hesitante, tentando descobrir se Kamal já havia ficado com alguém antes.

— Já, Chai — ele responde calmamente, sem rodeios. — Mas só com garotas.

Eu abaixo a cabeça, sentindo uma mistura de confusão e incerteza. Ele havia sido meu primeiro beijo, e aquele momento, sentado em seu colo, era o mais íntimo que já tinha vivido. No fundo, eu sabia que não estava pronto para ir além disso. Kamal era mais velho, então não seria estranho ele estar mais preparado. Mas eu não queria decepcioná-lo, e, ao mesmo tempo, não sabia bem como lidar com tudo aquilo.

Ele deve ter percebido minha tensão, porque logo colocou a mão suavemente sobre minha perna, tentando me acalmar.

— Chai, não se preocupa. Eu só quero que você se sinta bem. Que tal a gente só dormir? — ele sugeriu, fazendo carinho em minha perna de um jeito que me fez relaxar um pouco.

Assenti com a cabeça, sem dizer uma palavra, e ele me puxou para debaixo do lençol.

— Tá muito calor... — murmuro, sentindo o suor escorrer pela minha testa.

— Então tira a camiseta, sem pressão. Prometo que só vou te dar carinho — ele responde com um sorriso, sua voz suave e tranquilizadora.

Ambos tiramos nossas camisetas e as jogamos num canto do quarto. Sinto um frio na barriga, mas ao mesmo tempo, me permito relaxar quando me aninho nos braços dele. Kamal começa a fazer cafuné no meu cabelo, seus dedos deslizando gentilmente entre os fios, e isso me dá uma sensação de paz.

— Tá tudo bem, Chai. A gente tem tempo... — ele sussurra, enquanto o ritmo constante de seus carinhos me faz adormecer rapidamente, sentindo-me seguro e aceito nos braços de quem eu fui apaixonado minha vida toda.

Mon & Sam - Passado e PerdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora