Capítulo 57 - Te Aceitou Sempre

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Perspectiva de Sam

— Você dormiu com ela? — Song se levantou de repente, encarando Mon.

— Filha, como já te expliquei, com quem eu ou sua mãe dormimos não muda nada na sua vida — Mon respondeu, tentando manter uma calma frágil, até que, de repente, se virou para Jim com uma firmeza que me surpreendeu. — E sua tia Jim não tem que ficar tirando conclusões precipitadas sobre as coisas!

— Claro que muda! — Chai se levantou, unindo-se à irmã. — Vocês se separaram, mudamos de casa, e agora vocês estão juntas de novo?

— Elas não estão juntas — Song corrigiu o irmão, virando-se para ele com um olhar afiado. — Estão apenas transando!

— Ah, que nojo! Por que você colocou essa imagem na minha cabeça? — Chai resmungou, empurrando levemente a irmã.

Enquanto a tensão aumentava entre nossos filhos, Mon e eu trocávamos olhares desesperados em busca de uma saída, Jim, completamente alheia ao caos que ela mesma havia provocado, começou a se distrair com outra coisa.

— Opa! Vocês têm champanhe! — exclamou ela, caminhando despreocupada até a mesa das bebidas, como se a confusão familiar que ela provocou não importasse mais.

Sem perder tempo, fui atrás dela, fervendo de raiva, e a puxei pelo braço.

— Por que você fez isso, Jim? — sussurrei com os dentes cerrados.

— Ah, desculpa, eu estraguei o clima para vocês continuarem a fazer sexo casual? — Ela disse com um sorriso sarcástico, zombando de mim. — Vai continuar sendo burra com a Mon? Ou vai colocar um anel naquele dedo de novo?

— Jim, as coisas não são tão simples assim! — continuei, ainda em tom baixo. — Mon provavelmente nem quer voltar comigo... pode ter sido só sexo!

Jim, sem dar muita atenção, virou o copo de champanhe de uma só vez e encheu outro, continuando com sua análise.

— Ah, claro. Se a Mon só quisesse sexo casual, ela certamente viria correndo para os braços da ex-mulher, com quem tem dois filhos e mais de 15 anos de história! — Ela riu ironicamente. — Vai se tocar, Sam! E, acima de tudo, não faça merda!

Olhei para Mon, que ainda estava cercada por Song e Chai, tentando se esquivar das perguntas incessantes dos dois. Tudo que eu queria era pegar Mon e sair dali, ter uma conversa só nossa, sem interrupções, sem julgamentos.

— Jim... — chamei, ainda sem desviar os olhos de Mon.

— O que foi, sua estúpida?

— Você acha... que ela ainda tem nojo de mim?

Antes que eu quase pudesse terminar a frase, Jim me deu um tapa tão forte que me fez recuar dois passos.

— Jim! Porra, você enlouqueceu? — gritei, sentindo meu rosto arder e vendo todos na sala olharem para nós, atônitos.

— Não é nada, continuem com suas discussões ridículas! — Jim disse, tentando disfarçar, enquanto me puxava para fora, para o jardim.

— Porra, Jim! — reclamei, ainda sentindo o calor no rosto.

— Eu estou há DEZ ANOS te dizendo que aquela mulher não tem nojo de você! — Ela praticamente berrou. — E, pelo visto, não há absolutamente nada que você possa fazer que a afaste de vez! Você já notou isso, Sam? Já parou pra pensar?

— Você acha...? — perguntei, hesitante.

— Ah, meu Deus, é como ensinar um bebê a andar! — Jim revirou os olhos. — Olha só, você quase casou com o Kirk por medo daquela víbora da sua avó, e só depois que ela te deu a bênção, você voltou para a Mon, e ela te aceitou de braços abertos! Aí você desaparece por CINCO ANOS, volta e ela corre para você! Depois, você dá um chuto na bunda dela porque, ironicamente, ela limpou sua bunda, pede o divórcio e, mesmo assim, ela passou DEZ ANOS te respeitando! Agora, ela praticamente te devora viva assim que você dá a mínima abertura! Você é mais burra do que eu pensava!

Jim, apesar de toda a brutalidade, não estava errada. Eu estava afundada na minha própria insegurança, enquanto Mon continuava ali, firme, de alguma forma sempre esperando.

Olhei de novo para Mon, pela janela do jardim, cercada pelos filhos, e tudo que eu queria era uma chance para consertar tudo.

Tomei um fôlego profundo, tentando reunir coragem para encarar a multidão que parecia ter se instalado na minha casa. Entrei, sentindo a garganta seca, e dei uma tossida leve para afinar a voz, buscando uma firmeza que parecia me escapar.

— Bem... será que podemos deixar essa conversa para depois, Song e Chai? — tentei ser firme ao me dirigir aos meus filhos, mas era difícil quando tudo parecia prestes a desmoronar.

— Sua mãe tem razão — Jim interveio, vindo atrás de mim com seu típico jeito provocador. — Vai ver ela estava mesmo com outra pessoa, quem sabe? — Ela piscou para mim, achando que estava ajudando, mas só piorava a situação.

Nueng se levantou do sofá de mãos dadas com Anueng, serenas, mas percebendo o peso do momento.

— Sabe, eu acho que a conversa que vocês precisam ter em família é mais importante do que este dia. — Ela olhou para Mon com um sorriso compreensivo. — Nós, Jim e Kamal vamos passar a tarde em minha casa e voltamos mais tarde para o jantar. O que acham?

— Não, Nueng, que bobagem. Fiquem — Mon disse, tentando ser educada, mesmo com o caos à espreita.

— Eu acho uma ótima ideia! — intervim, sabendo que não era hora de cordialidades, e sim de resolver o que estava pendente entre nós.

Assim, todos se despediram, deixando apenas nós quatro na casa, rodeados pelo silêncio. O tempo parecia se arrastar enquanto permanecíamos ali, no sofá, eu, Mon e nossos filhos, sem saber por onde começar. Song e Chai nos observavam, aguardando explicações. Tomei fôlego para falar, mas Mon me impediu com um leve gesto, sinalizando que ela tomaria a dianteira.

— Filhos — Mon começou, com a voz firme, mas calma. — Sim, eu e a sua mãe estivemos juntas ontem. Mas, sinceramente, não tivemos chance de conversar sobre o que isso significa. Vocês não deveriam ter sabido disso, porque nós ainda não falámos sobre o tema. Nossa vida, até agora, continua a mesma dos últimos anos. Sei que isso é confuso, que é pedir muito de vocês, mas eu e sua mãe precisamos de tempo. Só isso. Por favor, nos dêem esse tempo.

Song e Chai se entreolharam, trocando olhares cúmplices, como se estivessem chegando a um acordo silencioso.

— Ok, conversem — disse Song, cruzando os braços. — Quando estiverem prontas para ouvir nossa opinião, nós vamos falar.

Com isso, os dois se ajeitaram no sofá, ligando a TV e ignorando completamente nossa presença. Olhei para Mon, tentando decifrar o que se passava em sua mente, mas o silêncio entre nós parecia mais alto que qualquer palavra. As horas seguintes foram desconfortáveis, cheias de um constrangimento que ecoava em cada canto da casa. O jantar se aproximava, e meu celular vibrou com uma mensagem da minha irmã:

"Não vamos voltar. Resolva sua vida, irmãzinha. Me devolve minha cunhada, porque você não vai arranjar uma melhor para me dar. Te amo."

Olhei para Mon e a chamei:

— Mon... eles não vão voltar.

— Ótimo, podemos ir embora então? — Song se levantou do sofá rapidamente, como se não aguentasse mais a situação. — Quero voltar pra casa!

Mon respirou fundo, o tipo de respiração que precede uma tempestade.

— Song, chega dessa atitude! — Mon se levantou, pegando Song pelo braço. — Você pode estar confusa, você pode ter suas opiniões sobre o que acontece entre mim e sua mãe, e eu respeito isso. Mas o que você não vai fazer é tratá-la com desprezo! Ela é sua mãe! — Mon apertou de leve o braço de Song, sua voz firme. — Sua mãe preparou este dia para vocês, para ser especial. E você não vai estragar isso com sua má vontade. Por mais que estejamos separadas, sempre demos tudo para vocês. Sua mãe sempre foi presente, nunca deixou que nada faltasse, muito pelo contrário. Então, agora, você vai sentar nesse sofá, colocar sua melhor cara e respeitar a mulher que sempre esteve do seu lado.

Mon & Sam - Passado e PerdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora