Capítulo 4 - O Marido

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Perspectiva de Sam

Assim que a pequena menina me chama, tudo acontece em câmera lenta. Consigo ver Mon se virando lentamente na minha direção. O olhar dela é um misto de confusão e dor, e meu coração dispara ao vê-la tombar ao lado da garota.

— Mamãe!!! — a menina grita, jogando-se em cima de Mon, balançando-a com desespero.

Corro rapidamente para dentro do portão e chego até Mon. Ela está pálida e desmaiada, não responde aos chamados da criança. Em segundos, um menininho sai da casa, corre em nossa direção e se abraça à irmã, os dois chorando desesperadamente.

— Já, já ela desperta — tento acalmá-los, mas minha voz treme. — Ela só desmaiou.

Com cuidado, levanto Mon do chão e a levo para dentro de casa. Assim que piso naquela casa, percebo que tudo mudou. O ambiente é diferente, e quase não consigo encontrar o sofá. As crianças, ainda em choque, me guiam até ele, e eu a coloco com cuidado no sofá. Afasto os cabelos do rosto dela e coloco algumas almofadas debaixo das suas pernas, fazendo o possível para deixá-la confortável.

— Vão chamar alguém para trazer um copo de água — peço, tentando manter a calma.

Os olhinhos deles se arregalam, e a confusão é evidente em suas expressões.

— Vá lá, façam o que estou dizendo — insisto, a voz mais firme.

— Não temos empregados, Sam — diz a menina, com uma inocência que me corta.

Aquela resposta me confunde. Mon ficou aqui sozinha, sem ninguém para ajudá-la? O que aconteceu? Ela tem acesso às minhas contas; poderia ter mantido alguém aqui para cuidar dela. Pegando uma revista da mesa de centro, começo a abanar Mon, tentando que ela acorde.

— Onde está o pai de vocês? — pergunto, o desespero começando a se infiltrar em minha voz.

Eles se entreolham, confusos, como se tentassem entender a minha pergunta.

— Ok, então a mãe de vocês? — insisto, mas eles apontam para Mon, como se a resposta estivesse bem diante de mim.

Os olhos de Mon começam a se abrir lentamente, como se o esforço fosse demais para ela.

— Mamãe, você está bem? — o menino pergunta, se pendurando quase em cima dela, observando-a com preocupação.

— Estou, Chai. O que aconteceu? — Mon pergunta, confusa, tentando se situar. — Onde estou?

O garoto se afasta, e finalmente, os olhos de Mon cruzam com os meus. Sentada na mesa de centro, sinto uma onda de vergonha e dor.

— Esta é Sam, mamãe — diz a menina. — Ela te trouxe para dentro. Você caiu lá fora. Dói a cabeça?

Mon leva a mão até a nuca, tocando o local onde provavelmente bateu. A cena é dolorosa, e a tensão no ar é palpável.

— Olá, Mon — digo, desviando o olhar para o chão, o coração pesado, lutando para processar tudo o que estava acontecendo.

Perspectiva de Mon

Tenho diante de mim a mulher que me abandonou grávida há cinco anos, a mesma que se escondeu, que não me deixou sequer uma mensagem, um sinal. E agora, por algum motivo, minha filha a conhece. Um frio percorre minha espinha ao perceber que Sam está tão perto, como uma sombra que não consigo afastar. Puxo Song e Chai para perto de mim, apertando-os contra meu corpo, como se quisesse protegê-los daquela presença. A dor e o medo que sinto ao tê-la a centímetros de distância são insuportáveis.

— Voltei hoje para a Tailândia — Sam diz, como se eu estivesse perguntando. — Você se sente melhor?

Nenhuma palavra sai dos meus lábios; quanto mais ela fala, mais eu aperto meus filhos. O desespero toma conta de mim.

Mon & Sam - Passado e PerdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora