Capítulo 36 - A Bebedeira

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Perspectiva de Mon

Eu não conseguia acreditar que Sam me deixou aqui, sozinha, com nosso filho em crise. Mas agora, não ia perder tempo pensando nela. Meu foco era Chai, garantir que ele ficasse bem. Finalmente, ele tinha se acalmado. Coloquei-o de volta na cama com cuidado, como se qualquer movimento pudesse quebrá-lo. Pedi a Nop que fosse ver se Song ainda dormia tranquila no meu quarto. Sozinha com meu filho, tentava compreender o que estava acontecendo.

— Filho, consegue dizer à mamãe o que te deixou assim? — perguntei, tentando mascarar o nó de preocupação na minha garganta.

— Song me contou que viu mãe Sam com outra pessoa... e depois vocês brigaram muito — ele disse baixinho, sua voz trêmula, sem coragem de me encarar. — Eu fiquei com medo de a mãe Sam ir embora de novo, como quando ela foi quando eu e Song ainda tavamos na sua barriga.

Meu coração apertou como se alguém o tivesse torcido. Respirei fundo, lutando contra a raiva e a tristeza que ameaçavam me engolir. Este era o momento em que Sam deveria estar aqui, para confortar nosso filho, e, em vez disso, ela tinha sumido.

— Chai, a mãe Sam ama muito você e sua irmã. Mesmo que vocês vejam a gente discutir, isso nunca vai mudar. Ela não vai deixar vocês de novo, eu prometo! — tentei tranquilizá-lo, mesmo sentindo o peso da dúvida esmagar meu peito. — Sabe o Kamal? O pai dele e a Jim se divorciaram, mas ele nunca parou de ver o pai. No seu caso, suas mamães estão juntas. É até melhor, não acha? Não quero que você se preocupe com nossas brigas, tá? Às vezes, adultos discutem por besteiras. Foi por isso que você ficou tão ansioso?

— Foi isso... e... — ele hesitou, mordendo o lábio. — ...bem, o Nop não tem vindo mais brincar comigo. Será que ele não gosta mais de mim?

Senti meu coração partir novamente, desta vez por outra razão.

— Não diga isso, filho. Você viu o quão rápido ele veio te ajudar hoje? Ele te ama muito. Eu prometo que vou falar com ele, e ele vai vir brincar com você mais vezes, tá bom?

Finalmente, um sorriso tímido iluminou o rosto de Chai, e o alívio trouxe um pouco de paz ao meu coração. O aconcheguei na cama e, ao sair do quarto, encontrei Nop no corredor.

Descemos juntos até a sala.

— E Sam? Onde ela está? — ele perguntou, visivelmente irritado.

— Também queria saber — respondi, exasperada.

— Porra, Mon, a Sam saiu no meio de uma crise de ansiedade do Chai? Que merda de atitude! — ele resmungou, e eu não tinha como discordar.

— Ela está com ciúmes de você — respondi, revirando os olhos, cansada de toda aquela situação absurda.

— Ciúmes de mim? — Nop deu uma risada incrédula. — Eu sou como um irmão pra você! Que idiota.

— Preciso concordar... — suspirei, sentindo o cansaço me consumir.

— Quer que eu fique mais um pouco? — ele ofereceu, preocupado.

— Não, pode ir. Eu vou esperar a Sam chegar. Hoje ela vai me ouvir! — falei, decidida.

Nop se despediu, e eu fiquei sozinha na sala, exausta e furiosa. Não havia o menor sinal de Sam, e o sono me fugia como se soubesse que a verdadeira batalha ainda estava por vir. Já haviam se passado mais de duas horas quando comecei a ceder ao cansaço. Estava quase adormecendo no sofá quando ouvi a porta se abrir com um rangido. Acordei num sobressalto. Olhei para o relógio: quatro da manhã. Sam entrou cambaleando, o cheiro forte de álcool invadiu a sala antes mesmo de ela falar.

— Aquele idiota já foi embora? — perguntou com a voz arrastada, alta demais para o silêncio da casa.

Senti a raiva borbulhar dentro de mim. Fui até ela, cruzando os braços e forçando minha voz a permanecer baixa.

— Fala baixo, Khun Sam! Nossos filhos estão dormindo! — resmunguei, tentando controlar a fúria que crescia.

Ela se aproximou, e o cheiro forte de whisky fez meu estômago revirar. Suas palavras vinham enroladas, misturadas com ciúmes.

— O que vocês fizeram enquanto eu não tava, hein? Quantas vezes, Mon? Quantas vezes você se envolveu com ele enquanto eu tava lá, sofrendo, nos Estados Unidos? — ela me sacudiu, as palavras impregnadas de ressentimento. — Ele é melhor que eu? Se queria um pai pros seus filhos, por que me aceitou de volta?

— Khun Sam, chega! — sussurrei furiosa. — Nossos filhos vão acordar com essa sua loucura!

— Ele é melhor com o Chai, melhor com a Song, e melhor com você, né? — ela continuava, completamente fora de si. — Na cama, ele também é melhor?

Aquilo foi o suficiente. Minha paciência se esgotou. Puxei Sam pelo braço, arrastando-a até o banheiro que temos no andar de baixo. Liguei o chuveiro no frio e a empurrei para dentro.

— Vá, Khun Sam! Aproveita a água gelada e pensa no que você está dizendo! — gritei, minha voz embargada pela raiva.

— Porra, Mon! Tá gelado! — ela resmungou, tentando sair da água, mas a mantive ali.

Comecei a desabotoar sua camisa, querendo livrar-me daquele cheiro repugnante a álcool. Mas, ao abrir os primeiros botões, algo me paralisou. Chupões no pescoço. Marcas de unhas. Manchas de batom pelo corpo. Meu sangue congelou por um segundo antes de ferver.

Eu não conseguia acreditar no que via. Traição. A traição estava gravada na pele dela, esfregada em meu rosto. Em um acesso de pura fúria, empurrei Sam contra a parede do chuveiro e lhe dei um tapa.

Ela me olhou, confusa, mas eu não podia mais encará-la. Saí do banheiro, o coração despedaçado, e fui direto para o quarto. Desabei em lágrimas e meu barulho acordou Song.

— Mamãe, o que aconteceu? — perguntou, esfregando os olhinhos de sono.

Sem conseguir responder peguei nela ao colo, fui até o quarto de Chai e, com esforço, o peguei nos braços também. Ele dormia profundamente, mas se agarrou ao meu pescoço assim que o toquei. Desci as escadas, as lágrimas escorrendo livremente, e saí da casa com meus filhos.

Coloquei-os no banco de trás do carro, enquanto Song, confusa, me perguntava sem parar.

— Mamãe, tá de noite! Pra onde a gente vai? Eu tô de pijama! — ela dizia, inquieta.

Arranquei com o carro, sem destino. Eu só precisava ir embora.

Mon & Sam - Passado e PerdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora