Capítulo 32 - A Verdade

717 120 61
                                    

Perspectiva de Sam

Song ficou em silêncio durante todo o caminho para casa. Quando chegamos, eu a acomodei no sofá, liguei os desenhos animados e passei o dia monitorando sua febre. "Ainda bem que a medicação estava funcionando", pensei, aliviada. Sentei-me exausta ao seu lado, tentando puxá-la para perto, mas ela se afastou, sentando-se na outra ponta do sofá com uma expressão emburrada.

— Song, a mamãe já te explicou que...

— Olá, meus amores! — Mon interrompeu ao chegar com Chai.

Ela se aproximou direta a Song e colocou a mão na testa da menina.

— Como ela está, Khun Sam?

— Tá bem. Já dei a medicação, e a febre não subiu mais — respondi, tentando soar tranquila.

— Que bom, meu amor — disse Mon, abraçando Song. — Eu te disse que você ia ficar boa rapidinho, não disse?

Song continuou com a mesma cara fechada, sem dizer uma palavra.

— O que aconteceu entre vocês duas? — Mon perguntou, com o tom de voz começando a revelar irritação.

— Mamãe, posso ir jogar futebol no jardim? — Chai perguntou a Mon, interrompendo o diálogo.

— Só um pouquinho, enquanto eu preparo o jantar, tá? — Mon respondeu.

— Mamãe Sam, quer vir comigo? — Chai fez um beicinho adorável, olhando para mim.

— Estou muito cansada, filho. Amanhã eu jogo com você, tá bom? — Respondi, dando-lhe um beijo no rosto.

Chai saiu para o jardim um pouco desapontado, enquanto eu e Song permanecíamos sentadas em extremos opostos do sofá. Mon nos observava, claramente confusa.

— Alguém pode me dizer o que está acontecendo? Que caras são essas? O que você fez, Song? — Mon começou a perder a paciência.

— Não posso falar. Fui proibida de dizer! — Song respondeu, me encarando e mostrando a língua em desafio.

— Meu Deus, vocês duas são impossíveis às vezes! Vou fazer o jantar! — Mon resmungou, dirigindo-se à cozinha.

Assim que ela saiu, me aproximei de Song.

— Filha, de novo, você não viu o que acha que viu. Você vai fazer a mamãe ficar brava comigo sem motivo — sussurrei, tentando manter a calma.

— Vou te mostrar uma coisa, mamãe. Levanta! — Song disse com firmeza.

Ela me fez levantar e ficou de pé à minha frente, me encarando. Eu não fazia ideia do que estávamos fazendo.

— Agora tenta me abraçar! — Ela ordenou.

Revirei os olhos, mas obedeci. Quando me aproximei para abraçá-la, ela imediatamente me deu um chute!

— Aiii! Porra! O que você tá fazendo?! — Gritei de dor, segurando a canela.

— Viu? Não conseguiu se aproximar de mim! — Ela disse, com a voz cheia de desafio. — Agora me explica por que aquela idiota tava em cima de você!

Mon ouviu meu grito e voltou correndo para a sala. Ao me ver segurando a canela, correu em minha direção.

— O que aconteceu aqui? Khun Sam, sua perna tá doendo? Quer sentar? — Mon perguntou, preocupada, me segurando pelo braço.

— Não, Mon. Eu só bati a canela, nada demais — tentei disfarçar.

Mas, assim que ela olhou para Song e viu a expressão furiosa no rosto da menina, sua preocupação se transformou em raiva.

— Song, você deu um chute na sua mãe??? — Mon perguntou, incrédula.

— Não sei, não sei se posso dizer, talvez eu nunca mais deva falar nada! — Song retrucou, desafiadora.

— Porra, Song, fala logo! Conta o que você quer contar! Já não tô aguentando mais! — Eu disse, perdendo a paciência.

Song respirou fundo, como se estivesse se preparando para soltar tudo de uma vez. E foi o que fez, falando rápido demais:

— Eu e a mamãe fomos ao médico. A médica colocou aquela coisa fria no meu peito e disse que eu tava bem. Depois, falou que sorvete não é pra dor de cabeça. Aí, a amiga da mamãe entrou na sala. Depois, a médica foi buscar o remédio. Eu esqueci de fazer xixi antes de sair de casa, então fui ao banheiro, mas não conseguia alcançar a pia. Eu não lavei as mãos. Quando voltei, a amiga da mamãe tava agarrada nela. A mamãe tava namorando a amiga dela! — Ela parou para respirar, finalmente. — Ufa! Já tô melhor. Podíamos comer camarões hoje, não tô a fim da comida da mamãe Mon.

Mon me olhava com uma expressão que eu não conseguia decifrar. Raiva? Desprezo? Talvez os dois.

— Mon, a Arya confessou que gosta de mim. Tentou me beijar — comecei, tentando manter a calma. — Mas o beijo não aconteceu. Nunca houve nada entre nós. Song interpretou tudo errado.

— Sobe para o seu quarto, Song — disse Mon, sem desviar os olhos de mim.

— Mas eu quero comer camarões...

— Agora, Song! — Ela repetiu, mais firme.

Song começou a subir as escadas, reclamando baixinho.

— Mamãe que faz coisa errada, e eu que fico de castigo...

— Você tem cinco minutos, Khun Sam. Cinco minutos pra me explicar o que aconteceu, antes que eu faça algo que nenhuma de nós vai gostar — Mon falou, a voz fria e cheia de ameaça.

— Mon, eu já te disse. Arya tentou me beijar, mas não aconteceu nada. Foi nesse exato momento que Song entrou no consultório — repeti, tentando me justificar.

— E você mandou a minha filha não me contar? — Mon perguntou, ainda mais irritada.

— Nossa filha, Mon. E sim, mandei porque não aconteceu nada. Eu sabia que você reagiria assim — tentei explicar. — Mon, eu nunca tive interesse por ninguém! Nem nos últimos cinco anos, nem em toda a minha vida! Você foi a única. É a única pessoa que eu amo!

Uma lágrima rolou pelo meu rosto, e comecei a ficar nervosa. A expressão furiosa de Mon não mudava.

— Por que você tá chorando? — Ela perguntou, a voz mais baixa, mas ainda dura.

— Porque parece que você não acredita em mim... — comecei a soluçar. — Porra, Mon, eu tenho medo de te perder! Eu te amo! Amo a nossa família!

Mon sai da minha frente sem dizer uma palavra, pegando sua bolsa e as chaves do carro com uma fúria contida. Eu a observo, paralisada, enquanto ela caminha em direção à porta. Quando a porta fecha, é como se o barulho ecoasse no meu peito. Me afundo no sofá, sentindo as lágrimas escorrerem pelo rosto, desesperada. O medo do que aquela saída pode significar começa a me corroer por dentro, como se algo estivesse escapando de mim.

Meus olhos, turvos pelas lágrimas, se voltam para o topo da escada. Lá estava Song, me observando, com o rosto diferente de antes. Não havia mais a raiva nem a teimosia desafiadora. Agora, seus olhos grandes estavam cheios de culpa, e seus lábios tremiam enquanto ela segurava o choro.

— Fiz asneira, mamãe? — A voz dela era frágil, quase um sussurro, e assim que as palavras saem, ela começa a chorar.

Mon & Sam - Passado e PerdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora