Capítulo 51 - Deita Comigo

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Perspectiva de Mon

O silêncio dos meus filhos no carro era quase insuportável. Eles não disseram uma palavra durante toda a viagem de volta para casa. Eu sabia que criar dois adolescentes seria difícil, mas cada dia parecia mais desafiador. Apesar de meus esforços para incluir Sam na vida deles, na nossa vida, a verdade era que, muitas vezes, me sentia criando-os sozinha. Era exaustivo, física e emocionalmente.

Afundei no sofá da sala, com uma taça de vinho na mão, tentando desesperadamente relaxar. O silêncio momentâneo da casa era um alívio frágil, até que meu celular começou a vibrar incessantemente. Olhei a tela: uma sequência de mensagens de Kade.

"Mon, vim ver Sam."

"Mon, Sam tá descontrolada!"

"Mon, ela destruiu o Duanpen!"

"Mon, tentei falar com ela, mas me mandou embora!"

O vinho quase escorregou da minha mão. Coloquei a taça sobre a mesa de qualquer jeito e, sem pensar duas vezes, peguei as chaves do carro. A adrenalina pulsava em minhas veias enquanto dirigia até a casa de Sam, o coração batendo como um tambor no peito.

Quando cheguei, a cena diante de mim me fez parar. O Duanpen, o carro que Sam tanto amava, estava completamente destruído. Os vidros estilhaçados e a lataria estava amassada, como se a raiva de Sam tivesse sido despejada em cada golpe. Minhas mãos começaram a tremer. Lágrimas silenciosas desciam pelo meu rosto, enquanto me aproximava do carro. Sabia o quanto aquele carro significava para ela, o quanto ela se orgulhava dele. Imaginei por tanto tempo ela entregando as chaves para Song no seu aniversário de 18 anos. Agora, tudo o que restava era destruição.

O banco de trás... quantas lembranças ele guardava. Aquele carro foi o meu refúgio por cinco anos, enquanto Sam estava doente. Nele levei nossos filhos para a escola, para o zoológico, para o cinema... Fechei os olhos e revivi cada momento, cada risada, cada momento. Eu e Sam quase compartilhamos nosso primeiro beijo ali dentro.

Respirei fundo, tentando me recompor. Caminhei até a porta da casa, mas então a realidade me atingiu como um soco: eu não tinha mais as chaves daquela casa. Não era mais o meu lugar. Bati na porta, sentindo o peso de cada batida.

— Sai daqui, Kade! Eu disse pra me deixar em paz! — A voz de Sam veio de dentro, áspera, desesperada.

— Sam, sou eu... Mon. — Gritei de volta, minha voz trêmula.

Houve um momento de silêncio, seguido por sons de coisas sendo mexidas lá dentro. Depois de longos segundos, a porta finalmente se abriu. Sam estava irreconhecível. A maquiagem borrada, o vestido amarrotado, os cabelos desgrenhados. Ela parecia destroçada.

— Aconteceu alguma coisa com Song ou Chai? — Ela perguntou, a preocupação evidente em sua voz, mesmo em meio ao caos.

— Não, Khun Sam. Quem está mal é você. Posso entrar?

Ela hesitou, mas depois abriu a porta um pouco mais, permitindo que eu entrasse. O que vi lá dentro era ainda pior do que imaginava. A casa estava de ponta cabeça. Coisas quebradas, cadeiras viradas, cacos espalhados pelo chão. Sam tinha tentado arrumar algo antes de me deixar entrar, mas sem sucesso.

— O que aconteceu aqui? — Perguntei, sem esconder o choque na minha voz.

— Nada. Só fiquei irritada. Se nada aconteceu com eles, por que você está aqui? — Ela respondeu, o tom frio, defensivo.

— Eu vim te ver. Estava preocupada. — Respondi, ainda olhando em volta, tentando entender o que se passava.

— Você não precisava. Não é mais sua função. — Ela rebateu, a dor transparecendo em sua voz, mesmo que tentasse disfarçar.

Mon & Sam - Passado e PerdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora