Capítulo 21 - Desculpa

455 73 22
                                    

Perspectiva de Mon

Compartilhar essa história com Sam não foi fácil para mim. Admitir que, por meses, neguei nossos filhos e os negligenciei ainda é uma vergonha que carrego até hoje. É claro que meus meninos não sabem disso — eram apenas bebês na época —, mas eu nunca esqueci. Durante aquele período, o cuidado deles foi dividido entre Jim, Nueng, Tee, Yuki e Nop. Kate ajudou também, mas viajava tanto que acabou ficando menos com eles. Mesmo Nueng, que nunca quis ter filhos, cuidou de toda a burocracia: registrou-os, escolheu os nomes, providenciou um bom seguro de saúde... Já Nop, por outro lado, vem à minha casa todos os dias há cinco anos. Ele traz comida, me faz companhia, e depois que os bebês nasceram, quando eu estava no meu pior momento, ele enchia minha despensa com alimentos que muitas vezes estragavam, porque eu mal comia. Ao longo dos anos, ele continuou vindo, ensinou Chai a jogar bola e cuidava deles sempre que eu tinha que trabalhar até tarde. Tee, desde que Sam foi embora, tomou conta das minhas finanças. Eu não queria usar o dinheiro de Sam, então Tee fez malabarismos com o pouco que eu tinha. Até hoje acho que ela tirou do próprio bolso para garantir que os bebês tivessem tudo o que precisavam. Jim e Yuki ficaram com a tarefa mais difícil: cuidar de dois bebês... e de mim.

Há cinco anos...

— Vamos, Mon. Levanta — a voz de Jim soava determinada.

Já passava das três da tarde, e eu ainda estava deitada. Jim já tinha dado mamadeira aos bebês, feito-os arrotar, e ambos dormiam no outro quarto. Ela trazia o monitor com a câmera apontada para eles, assegurando-se de que estavam bem. Depois de tanto chorar, Tee havia movido o berço deles para longe do meu quarto.

— Anda, Mon, esse quarto tá com cheiro de morte. Você precisa tomar um banho. Eu te ajudo! — insistia, puxando o lençol para o pé da cama.

— Me deixa em paz. Por que vocês não param de me encher?

— Queria deixar, Mon. Lá fora o dia tá lindo, eu podia estar pegando um bronze na piscina, mas estou aqui, aguentando seu cheiro de quem não vê água faz dias!

— Então vai embora! — gritei, sem forças.

— Chega! Já deu! — ela explodiu, puxando-me com força da cama. Minhas pernas estavam fracas, meus braços sem vigor...

Jim praticamente me arrastou até o banheiro, jogando-me na banheira, ainda com as roupas, e ligou a água gelada sem hesitar.

— Ai! Tira-me daqui! Você tá louca?

— Não, Mon. A louca aqui é você! — ela se ajoelhou ao meu lado, tirando minha blusa de pijama molhada. — Você tá perdendo tudo: seus filhos, sua carreira... até sua beleza com esse corpo magro!

De repente, o monitor dos bebês fez barulho — um deles chorava. E quando um começava, o outro logo seguia. Aquele som me ensurdecia.

— Espera aqui, Mon. Vou ver os bebês. E esfrega esse corpo, pelo menos! — disse, saindo do banheiro, deixando o monitor ligado ali comigo.

O que é essa barulheira, hein? — ouvi Jim falando com os bebês pelo monitor, com um tom afetuoso. — Vocês têm que se comportar um pouquinho para a tia cuidar da mamãe. Já já vou dar leitinho e a gente vai lá fora pegar um solzinho, tá bom? — A voz dela acalmava os dois, que logo pararam de chorar. — Isso, meus amores, a tia já volta.

Atualidade...

Naquele dia, vendo Jim correr do meu quarto para o dos bebês a cada cinco minutos, trazendo comida, me arrastando para o banheiro e trocando fraldas, foi quando percebi o tamanho do fardo que eu me tornara para meus amigos. Nos dias que se seguiram, comecei a levantar da cama, a comer sozinha e a tomar banho. Foram quase quatro meses deitada, mantendo meus próprios filhos distantes de mim.

Mon & Sam - Passado e PerdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora