Lis Alcantra pov's
O sol estava começando a descer no horizonte quando saí da última aula do dia. A brisa suave do fim de tarde batia no meu rosto, aliviando um pouco o calor que tinha marcado o dia inteiro. A rotina da faculdade sempre foi um alívio para mim, uma espécie de refúgio do mundo caótico que eu vivia ao lado de Gabriel. Aqui, eu não era "a namorada do jogador", não era a mulher que ele deixava para trás em noites de comemoração. Eu era apenas Lis. E, por algumas horas, isso bastava.
Eu estava distraída, arrumando meus livros na mochila, quando ouvi uma voz familiar.
— Lis! — Olhei para cima e vi Matheus se aproximando com um sorriso no rosto. Ele era da minha turma de história contemporânea, alguém com quem eu sempre gostei de conversar. Matheus era gentil, sempre atento, e nossas conversas variavam de trivialidades até discussões profundas sobre os temas das aulas.
— Matheus! — sorri de volta, contente em vê-lo. — Como você está?
— Estou bem. Estava pensando em tomar um café antes de ir pra casa. Você quer vir? — Ele perguntou casualmente, mas eu senti um leve nervosismo em sua voz. Matheus sempre foi um pouco mais tímido, mas eu gostava disso. Havia algo reconfortante na sua calma, algo que me fazia esquecer, por breves momentos, a tempestade que era minha vida com Gabriel.
Eu abri a boca para responder, mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, ouvi o som de um carro familiar. Meu corpo ficou tenso no mesmo instante. O som dos pneus parando bruscamente e o barulho da porta se fechando com força me deixaram em alerta.
Gabriel.
Ele desceu do carro com uma expressão dura no rosto, os olhos fixos em mim e em Matheus. Meu coração disparou. O que ele estava fazendo aqui? Eu não tinha ideia de que ele viria, não tínhamos combinado nada. Ele mal aparecia na faculdade, mas, naquele momento, ele estava ali, e eu sabia que aquilo não ia terminar bem.
Gabriel caminhou até nós com passos firmes, a tensão no ar aumentando a cada segundo. Matheus, sem perceber o que estava acontecendo, sorriu educadamente para Gabriel.
— Oi, eu sou Matheus — ele disse, estendendo a mão.
Gabriel nem sequer olhou para a mão estendida. Seu olhar estava frio, quase desafiador, enquanto ele respondia com uma voz seca:
— Eu sei quem você é.
Eu tentei manter a calma, mas senti o desconforto crescer dentro de mim. Gabriel não tinha o direito de agir assim, mas ele estava claramente incomodado. Os olhos dele iam de Matheus para mim, cheios de um ciúme que parecia absurdo, considerando a forma como ele me tratava quando estávamos sozinhos.
— O que você está fazendo aqui, Gabriel? — perguntei, tentando manter a voz firme, embora meu coração estivesse acelerado.
Ele me ignorou, ainda olhando para Matheus como se estivesse avaliando cada movimento dele.
— Lis, você não me disse que estava saindo com... "amigos" da faculdade — a palavra "amigos" saiu dos lábios dele como se fosse algo sujo, um insulto velado.
Senti o sangue ferver no meu rosto. Eu sabia onde aquilo ia parar. Gabriel estava com ciúmes, claro. Mas por quê? Ele podia sair, curtir, estar com outras mulheres, e eu não dizia nada. E agora, porque estava conversando com um colega, ele achava que tinha o direito de vir até aqui e me confrontar?
Matheus percebeu a tensão e deu um passo para trás, desconfortável.
— Lis, eu acho que vou indo... — ele murmurou, visivelmente desconcertado pela situação.
Eu estendi a mão, tentando tranquilizá-lo.
— Matheus, não precisa... — mas antes que eu pudesse terminar, Gabriel cortou a conversa.
— Sim, Matheus, é melhor você ir. — A voz de Gabriel tinha uma autoridade fria que me irritou profundamente.
Matheus hesitou, me olhando com um misto de preocupação e desculpas no olhar, mas acabou se afastando, deixando-me sozinha com Gabriel. Quando ele finalmente desapareceu da nossa vista, eu me virei para Gabriel, meu corpo tremendo de raiva e frustração.
— O que foi isso, Gabriel? — perguntei, minha voz mais alta do que eu pretendia.
Ele me olhou com uma expressão que misturava arrogância e ciúmes.
— Isso? Você acha que eu vou ficar parado vendo você flertar com outros caras? Eu não sou idiota, Lis.
Eu ri, mas era uma risada amarga, cheia de dor acumulada.
— Flertar? Você está louco? Matheus é meu amigo, e nada mais. E, mesmo que fosse outra coisa, o que você tem a ver com isso, Gabriel? — minha voz ficou mais firme, mais desafiadora. — Você sai toda noite com seus amigos, rodeado de mulheres, e eu nunca te digo nada. Nunca te pergunto onde você esteve, com quem você estava. Mas agora, eu não posso nem falar com um colega de faculdade sem que você apareça do nada, me tratando como se eu estivesse fazendo algo errado?
Gabriel ficou em silêncio por um segundo, seus olhos brilhando de raiva contida. Ele não estava acostumado a ser confrontado assim, especialmente por mim. Talvez porque, até então, eu sempre cedia. Sempre o deixava levar a situação, achando que, de alguma forma, ele iria mudar. Mas hoje... hoje eu não ia ceder.
— Eu me importo com você, Lis — ele disse, mas suas palavras soaram vazias, como se ele mesmo não acreditasse nelas.
Eu balancei a cabeça, descrente.
— Se você realmente se importasse comigo, não me trataria assim. Não apareceria só para me deixar sozinha de novo, não me usaria como um escape e depois me jogaria de lado quando fosse conveniente para você. Você não tem o direito de sentir ciúmes de mim, Gabriel. Não quando você claramente não sente nada de verdade.
As palavras saíram de mim antes que eu pudesse parar para pensar. A verdade estava ali, nua e crua, e, pela primeira vez, eu a disse em voz alta.
Gabriel me olhou, e por um momento, vi algo nos olhos dele. Talvez surpresa. Talvez arrependimento. Mas, como sempre, ele não soube como lidar com aquilo. Ao invés de me responder, ele desviou o olhar, irritado, como se estivesse perdendo o controle da situação.
— Lis... — ele começou, mas eu não o deixei continuar.
— Não, Gabriel. Eu cansei. Cansei de esperar que você me veja, que me trate como alguém que merece mais do que essas migalhas de atenção que você me dá. Você não quer estar aqui comigo, então para de fingir que se importa.
Minha voz tremia, mas não de medo. Era de libertação. Eu estava finalmente dizendo tudo o que estava preso dentro de mim por tanto tempo. As palavras que eu sempre quis dizer, mas nunca tive coragem, agora saíam como uma enxurrada.
Gabriel, pela primeira vez, ficou em silêncio. Ele me olhou, e eu vi que ele não sabia o que responder. Talvez ele nunca tivesse realmente pensado nisso. Talvez, para ele, eu fosse apenas uma constante em sua vida, alguém que estaria sempre ali, não importa o que acontecesse.
Mas eu não ia mais ser essa pessoa.
— Se você quer sair, se você quer estar com outras pessoas, faça isso. Mas não venha aqui com essa atitude, achando que tem algum direito sobre mim. Porque você não tem — concluí, minha voz firme, como se finalmente estivesse colocando um ponto final naquela situação.
Gabriel ficou parado por um segundo, o rosto endurecido, como se estivesse lutando contra as próprias emoções. E então, sem dizer mais nada, ele se virou e foi embora, da mesma forma que chegou: sem explicações, sem pedidos de desculpas.
Eu fiquei ali, observando-o se afastar, sentindo o peso do que acabara de acontecer.
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Entre Cicatrizes e Silêncios-Gabigol
FanfictionSinopse: "Você não vê que está me destruindo?" "Então, por que não me deixa aqui de uma vez?" "Porque eu me importo com você, mais do que deveria." Gabriel Barbosa, ex-camisa 10 do Flamengo, agora carrega o número 99, que simboliza o infinito - assi...