Gabriel Barbosa pov's
O apito final soou no Maracanã, e o som da torcida, geralmente ensurdecedor, parecia distante, como se viesse de outra realidade. O placar brilhava cruelmente no telão: 2x1 para o adversário. Nós estávamos eliminados. E eu, no centro do campo, com as mãos na cintura e os olhos fixos no chão, sentia o peso de uma derrota que ia muito além do futebol.
O estádio ainda estava lotado. O eco dos cânticos da torcida se misturava com o burburinho das críticas e frustrações, mas o barulho externo era nada comparado ao que se passava dentro de mim. Minha cabeça latejava, o suor escorria pelo meu rosto, mas tudo o que eu conseguia pensar era em Lis.
Nas últimas semanas, desde a mensagem em que ela pediu um tempo, tudo parecia mais difícil. Cada treino, cada jogo, cada decisão dentro de campo — tudo era um lembrete constante de que algo muito mais importante estava fora do meu controle. No futebol, eu sabia que, com trabalho duro, com determinação, poderia mudar um resultado, virar um jogo. Mas com Lis? Eu não tinha essa garantia. E essa incerteza me consumia.
Caminhei lentamente para fora do gramado, sentindo o olhar dos torcedores, dos meus companheiros de equipe, mas eu estava em outro lugar. Eu me sentia... vazio. Acostumado a sempre ter alguém para me apoiar após uma derrota, eu sabia que, em outros tempos, Lis estaria esperando por mim. Ela sempre soube exatamente o que dizer, como amenizar a dor das derrotas. Mas agora, não havia mensagens de consolo, nenhum abraço ao final do jogo. Apenas o silêncio esmagador.
No vestiário, o clima era pesado. Alguns jogadores chutavam garrafas d'água, outros ficavam sentados em silêncio, tentando digerir o que havia acontecido. Eu sentei num canto, ainda com a camisa encharcada de suor, olhando para o vazio. Peguei o celular, por puro hábito, e olhei a tela. Nenhuma mensagem de Lis. Nenhum "vai ficar tudo bem" ou "estou com você". Nada. Essa era a parte mais difícil: lidar com a ausência dela nas pequenas coisas, nos momentos em que eu mais precisava.
Um sentimento de impotência tomou conta de mim. Eu era "Gabigol", o cara que sempre dava a volta por cima, o cara que sempre acreditava até o último segundo. Mas hoje, tanto dentro quanto fora de campo, eu estava derrotado. As críticas viriam — dos torcedores, da imprensa, até dos meus companheiros —, mas nenhuma delas doía tanto quanto a crítica que eu fazia a mim mesmo. Porque no fundo, eu sabia que não era apenas o jogo que eu tinha perdido.
O técnico entrou no vestiário e fez uma breve análise do que deu errado. As palavras passavam por mim como um vento distante. O erro tático, a falha defensiva no último lance... nada disso parecia importar agora. A verdadeira derrota havia acontecido antes mesmo de eu pisar naquele gramado. E o que me machucava era saber que, por mais que eu me esforçasse, não tinha como resolver isso com um treino extra ou um chute a gol.
Depois de um banho rápido, me vesti e saí do vestiário sem falar com ninguém. Eu não tinha energia para ouvir os discursos motivacionais ou as tentativas de consolo dos companheiros. Peguei meu carro e dirigi pela cidade ainda com a adrenalina da partida correndo nas veias, mas o vazio não me deixava.
O Maracanã ficava para trás, e conforme a noite caía, as luzes da cidade passavam rapidamente pelas janelas, mas nada parecia real. Era como se a derrota tivesse roubado minha conexão com tudo — com o futebol, com a vida. Minha cabeça estava em Lis, em todas as conversas que não tivemos, nas coisas que eu deveria ter dito antes que tudo desmoronasse.
Cheguei em casa e o silêncio me recebeu como um velho conhecido. Deitei no sofá, peguei o celular de novo e encarei a foto de Lis no papel de parede. Minha vontade era ligar, ouvir a voz dela, mesmo que fosse só por alguns segundos. Mas eu sabia que não podia fazer isso. Ela tinha pedido espaço, e por mais que me matasse, eu tinha que respeitar.
Fechei os olhos e o cansaço tomou conta do meu corpo, mas o sono não veio. A imagem da derrota no campo e da distância entre mim e Lis se repetia na minha mente, como um filme que eu não conseguia desligar. Eu tinha perdido mais do que um jogo naquela noite, e pela primeira vez, não tinha certeza de como voltar a vencer.
No fim, o peso da solidão se tornou insuportável.
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Entre Cicatrizes e Silêncios-Gabigol
FanficSinopse: "Você não vê que está me destruindo?" "Então, por que não me deixa aqui de uma vez?" "Porque eu me importo com você, mais do que deveria." Gabriel Barbosa, ex-camisa 10 do Flamengo, agora carrega o número 99, que simboliza o infinito - assi...