Lis Alcantra pov's
Os dias seguintes àquela conversa na praia foram estranhos. Era como se estivéssemos em um território novo, cheio de feridas abertas, mas com a esperança de que, talvez, pudéssemos curá-las juntos. O que Gabriel disse, o jeito como ele olhou para mim, me deixou com uma sensação mista de alívio e medo. Eu queria acreditar em suas palavras, mas ainda havia uma parte de mim que não conseguia esquecer o que aconteceu.
Eu sabia que ele estava sendo sincero. Gabriel nunca foi bom em esconder o que sente, mesmo quando tenta. Mas a confiança... Ah, essa confiança que foi quebrada. Consertar isso não seria simples, nem rápido. E eu não sabia se estava pronta para me entregar de novo completamente.
O dia começou tranquilo. Eu estava em casa, tentando me concentrar no trabalho, mas minha mente vagava. As mensagens dele continuavam chegando, curtas, simples, mas constantes. Eu sabia que ele estava fazendo o máximo para não invadir meu espaço, mas ao mesmo tempo mostrava que ainda estava presente. Isso me deixava em um estado de alerta constante. Eu lia as mensagens, mas demorava a responder, às vezes só deixava o telefone de lado, como se a distância entre nós ainda precisasse ser preservada.
Era fim de tarde quando decidi sair para uma caminhada. O ar fresco sempre me ajudava a pensar melhor, e ultimamente, tudo o que eu precisava era de clareza. Coloquei um casaco leve, prendi o cabelo em um coque desajeitado e saí, sem um destino certo. Só queria sentir o vento no rosto e, de alguma forma, tentar organizar o caos dentro de mim.
Enquanto caminhava pelas ruas quase desertas, minha mente voltava àquela última conversa. Lembrei-me das palavras dele, da maneira como ele segurou minha mão, quase como se temesse que, se soltasse, eu desapareceria para sempre. Havia tanto medo em seus olhos quanto no meu coração, mas também havia uma coisa que eu reconheci: a vontade de tentar. E era isso que me mantinha pensando, repassando tudo em minha cabeça.
"Você realmente está disposta a confiar de novo?" Eu me perguntava repetidamente.
Houve uma época em que essa pergunta seria absurda. Gabriel era a pessoa em quem eu mais confiava no mundo. Ele sempre foi meu porto seguro, a pessoa que eu podia contar para tudo. E agora, essa certeza se desfez tão rapidamente que me pegou desprevenida. Era como se o chão debaixo dos meus pés tivesse desaparecido, e eu estivesse lutando para encontrar algo estável de novo.
Depois de um tempo, percebi que meus passos me levaram até a praia, o nosso lugar. Aquele mesmo lugar onde tivemos aquela conversa tão difícil, e onde eu comecei a repensar tudo. Parei e olhei para o mar, deixando a brisa fria me envolver. O som das ondas sempre me acalmava, e, de certa forma, eu sabia que Gabriel estaria por perto. Era um lugar especial para nós dois, e por mais que tudo estivesse confuso, isso ainda era verdade.
Sentei-me na areia, abraçando meus joelhos, e fiquei ali, observando o horizonte. Estava prestes a me perder nos meus pensamentos quando ouvi passos atrás de mim. Meu coração acelerou antes mesmo de eu olhar, e quando me virei, lá estava ele. Gabriel, com aquele olhar cauteloso, sem saber se estava invadindo ou sendo esperado.
Ele não disse nada de imediato, mas se aproximou lentamente e se sentou ao meu lado, mantendo uma distância respeitosa. Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas ouvindo as ondas. Não era desconfortável, mas carregava todo o peso do que estávamos vivendo.
— Eu estava preocupado — ele disse finalmente, a voz baixa, como se não quisesse quebrar o momento.
Assenti, sem desviar o olhar do mar. Parte de mim estava cansada de tantas palavras, mas eu sabia que precisávamos falar.
— Eu precisava de um tempo para pensar — respondi, finalmente. — As coisas... não são simples, Gabriel.
Ele suspirou, apoiando os cotovelos nos joelhos e encarando o chão por um momento. Quando olhou de novo para mim, seus olhos estavam cheios de uma vulnerabilidade que raramente vi.
— Eu sei que te machuquei — ele começou, a voz firme, mas cheia de dor. — Sei que o que fiz, ou o que não fiz, quebrou algo importante entre nós. Mas estou aqui, Lis, tentando de tudo para consertar isso. Eu só... — ele fez uma pausa, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as próximas palavras. — Eu só preciso que você saiba que não vou desistir de você. De nós.
Fechei os olhos por um segundo, sentindo o peso de tudo isso. A forma como ele falava, a determinação, o desespero quase palpável de quem sabe que está por um fio, me atingiu de uma maneira que eu não esperava. Não era fácil estar nessa posição, saber que tinha tanto poder sobre o que poderia acontecer a seguir. E eu sabia que, em algum lugar dentro de mim, ainda o amava profundamente.
— Eu sei que você está tentando — disse, tentando manter minha voz estável. — E isso significa muito para mim. Mas ainda... — minha voz falhou por um momento — ainda há tanta coisa que me assombra. O medo de que isso possa acontecer de novo. De que eu nunca possa me sentir completamente segura.
Ele ficou em silêncio, mas sua expressão dizia tudo. Ele sabia que eu tinha razão. Era impossível prometer que nunca mais haveria dor. Ninguém pode prometer isso. Mas, naquele momento, Gabriel não estava tentando me oferecer garantias. Ele estava oferecendo a si mesmo, com todas as suas falhas e incertezas.
— Eu não posso prometer que nunca vamos errar de novo — ele admitiu, com honestidade que quase me desarmou. — Mas o que eu posso prometer é que nunca vou desistir de tentar. Vou lutar por nós, mesmo que tenhamos que recomeçar mil vezes.
Essas palavras ficaram no ar por um tempo, pesando, mas ao mesmo tempo trazendo um certo alívio. Era a primeira vez que ele falava assim, sem promessas vazias, sem tentar suavizar o que aconteceu. E, de alguma forma, isso me fez ver que talvez, só talvez, pudesse haver um caminho para nós.
— Você está disposta a tentar também? — ele perguntou, sua voz quase um sussurro, cheia de esperança e medo.
Fiquei quieta por um tempo, pensando em tudo o que passamos, nas dores, mas também nos momentos bons, nas risadas, no carinho que sempre tivemos um pelo outro. A resposta estava ali, mas ainda havia tantas cicatrizes a serem curadas. Mesmo assim, talvez, fosse o suficiente para começar.
— Sim, Gabriel. Eu quero tentar.
Nosso futuro ainda era incerto, mas naquele momento, sob o céu estrelado e o som suave das ondas, tomamos a decisão mais importante: não desistir de nós.
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Entre Cicatrizes e Silêncios-Gabigol
FanfictionSinopse: "Você não vê que está me destruindo?" "Então, por que não me deixa aqui de uma vez?" "Porque eu me importo com você, mais do que deveria." Gabriel Barbosa, ex-camisa 10 do Flamengo, agora carrega o número 99, que simboliza o infinito - assi...