Lis Alcantra pov's
A tensão que pairava entre mim e Gabriel não podia mais ser ignorada. Desde o encontro com Rafaella, a dúvida e o medo passaram a assombrar meus pensamentos. A cada vez que Gabriel me abraçava ou me olhava com ternura, eu me perguntava se tudo aquilo estava sendo sustentado por mentiras. Será que eu realmente conhecia a verdade sobre ele? Será que o amor que estávamos reconstruindo era tão forte quanto eu pensava, ou tudo desmoronaria ao primeiro sinal de segredos revelados?
Passei a tarde tentando manter a mente ocupada, mas sabia que o confronto estava próximo. Não podia simplesmente ignorar o que Rafaella disse. Por mais que eu quisesse confiar cegamente em Gabriel, algo dentro de mim gritava que precisava ouvir sua versão, saber se ele seria sincero.
Quando Gabriel voltou do treino, parecia exausto, como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros. Ele tentou me sorrir, mas o cansaço em seus olhos falava mais do que suas palavras. Eu sabia que ele estava lidando com a pressão dos jogos, mas agora, algo muito mais delicado precisava ser discutido.
Esperei até que ele tivesse tomado banho e relaxado no sofá ao meu lado. O silêncio entre nós era confortável, mas também carregado de coisas não ditas. Eu sabia que não havia um momento perfeito para trazer o assunto à tona, mas precisava fazer isso.
— Gabriel, eu preciso te perguntar uma coisa — comecei, tentando manter a voz firme.
Ele virou a cabeça para me olhar, com uma leve preocupação no olhar. — O que foi? Parece séria.
Respirei fundo, organizando meus pensamentos. — Eu encontrei com Rafaella.
O nome dela caiu entre nós como uma pedra, causando uma mudança imediata na expressão de Gabriel. Sua mandíbula se apertou, e ele desviou o olhar por um segundo, antes de voltar a me encarar.
— O que ela disse dessa vez? — Sua voz saiu baixa, carregada de frustração.
— Ela disse que você a procurou antes de tudo acontecer. Antes dela aparecer de novo na nossa vida. É verdade?
O silêncio que se seguiu foi quase insuportável. Gabriel me olhou, e pude ver a batalha interna em seus olhos. Ele estava decidindo se iria contar a verdade, ou se continuaria a proteger o que quer que fosse.
Finalmente, ele suspirou e passou a mão pelo cabelo, um gesto que sempre fazia quando estava nervoso. — Lis, eu posso explicar. Não foi do jeito que ela fez parecer.
— Então me explica — interrompi, meu tom mais severo do que eu pretendia. — Porque, do jeito que ela disse, parece que você estava escondendo algo de mim o tempo todo.
Ele me olhou profundamente, como se procurasse as palavras certas. — Quando a gente terminou pela primeira vez, eu estava... perdido. Eu estava tentando entender por que as coisas deram tão errado, e a única pessoa que eu sabia que podia me dar alguma perspectiva, por mais maluco que isso soe, era Rafaella. Nós tínhamos um passado complicado, e eu pensei que, se conversássemos, talvez eu pudesse entender melhor o que estava acontecendo dentro de mim. Eu não estava buscando nada além disso. Só queria clareza.
Eu o ouvi, tentando processar o que ele dizia. Não parecia uma mentira, mas também não era algo que eu esperava ouvir. Gabriel e Rafaella, juntos, por escolha dele, mesmo que fosse apenas para conversar, era um pensamento difícil de digerir.
— Mas por que você não me contou isso antes? — perguntei, tentando manter a calma. — Eu teria entendido, se você tivesse sido sincero.
— Eu não te contei porque sabia que isso te machucaria. Eu estava confuso, e aquilo não significou nada além de uma tentativa desesperada de entender minha própria bagunça. Quando as coisas entre nós começaram a melhorar, achei que contar isso só traria mais dor, e eu não queria te fazer sofrer.
Houve um longo silêncio entre nós. Eu olhava para ele, tentando decidir se o que ele disse era suficiente. Ele parecia sincero, parecia arrependido, mas ainda assim, algo dentro de mim estava machucado. Era difícil processar que ele havia tomado aquela decisão, mesmo que as intenções não fossem ruins.
— Lis, eu juro para você, nunca houve nada além daquela conversa. Eu nunca te trai, nem emocionalmente. Eu estava confuso, mas meu amor por você nunca mudou. E, desde que decidimos voltar, eu só quero que a gente funcione. Que a gente seja feliz de verdade. Por favor, acredita em mim.
Eu queria acreditar. Queria acreditar com todo o meu coração. E, olhando para ele, vendo o desespero em seus olhos, percebi que, apesar de tudo, o que tínhamos ainda era real. A dúvida persistia, mas o amor também.
— Eu vou acreditar em você, Gabriel — respondi, minha voz baixa, mas firme. — Mas eu preciso de tempo. Tempo para processar tudo isso, para entender se podemos seguir em frente sem mais segredos.
Ele assentiu, com uma expressão de alívio misturada à tristeza. — Eu entendo. E estou aqui, esperando. Não vou te pressionar.
A noite seguiu com um silêncio pesado entre nós. Embora tivéssemos conversado, algo ainda pairava no ar. As cicatrizes invisíveis que eu carregava pareciam mais profundas agora, e seria preciso muito mais do que palavras para curá-las.
Mas, no fundo, eu sabia que ainda havia esperança. Que, de alguma forma, poderíamos encontrar nosso caminho de volta um ao outro, mesmo que isso significasse enfrentar todos os nossos fantasmas juntos.
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Entre Cicatrizes e Silêncios-Gabigol
Fiksi PenggemarSinopse: "Você não vê que está me destruindo?" "Então, por que não me deixa aqui de uma vez?" "Porque eu me importo com você, mais do que deveria." Gabriel Barbosa, ex-camisa 10 do Flamengo, agora carrega o número 99, que simboliza o infinito - assi...