Lis Alcantra pov's
O som da chuva batendo na janela era a única coisa que preenchia o silêncio do meu apartamento. A luz fraca do abajur lançava sombras suaves pelo quarto, e eu estava sentada na cama, abraçando meus joelhos, tentando encontrar algum sentido em tudo que estava acontecendo. Desde o acidente, algo havia mudado em mim, algo que eu não conseguia mais ignorar.
Eu queria acreditar que Gabriel estava tentando, queria aceitar que suas atitudes estavam, de fato, mudando. Mas, por dentro, algo ainda se debatia. Havia um vazio que suas palavras e promessas não conseguiam preencher. E quanto mais eu refletia, mais percebia que o problema talvez não fosse só ele. Talvez o problema fosse eu, as expectativas que eu criei, a forma como eu sempre esperei que o amor resolvesse tudo.
Amar Gabriel havia sido tão natural, quase inevitável. Mas ao longo do tempo, percebi que amar alguém nem sempre significa estar pronta para enfrentar os sacrifícios que o amor exige. Eu me deixei consumir por nós, por ele, e, de repente, percebi que estava vivendo a vida de acordo com o que Gabriel queria, com o que ele precisava. E onde isso me deixava?
Levantei-me da cama e fui até a janela, observando as gotas de chuva escorrerem pelo vidro. A cidade lá fora parecia distante, alheia à minha confusão interna. Havia uma tranquilidade na tempestade que eu não conseguia sentir dentro de mim. E, naquele momento, entendi que algo precisava mudar.
Peguei o celular e vi uma mensagem de Gabriel. Ele havia me perguntado como eu estava, se precisávamos conversar. Ele queria me ver, claro, mas eu não sabia se estava pronta para isso. Tudo parecia tão emaranhado dentro de mim que qualquer palavra que eu dissesse soaria confusa ou insuficiente.
"Precisamos de um tempo", pensei, mas não era a ele que eu precisava dizer isso. Eu precisava dizer isso a mim mesma.
Abri a janela, deixando o ar úmido da chuva invadir o quarto. Respirei fundo, sentindo a brisa fria bater no meu rosto, e por um instante, me permiti sentir o que eu tanto vinha evitando. Medo. Medo de que talvez o amor que eu sentia não fosse o suficiente para superar tudo. Medo de que, por mais que Gabriel tentasse, o dano já estivesse feito. Mas também medo de seguir em frente sem ele, de recomeçar sem aquele que, por tanto tempo, foi minha âncora, mesmo que fosse uma âncora que me prendia no lugar errado.
— Lis? — a voz de Gabriel ecoou na minha mente, mesmo à distância. Ele sempre parecia saber quando algo estava errado, mas desta vez era diferente. Ele não podia consertar o que estava quebrado dentro de mim.
Fechei a janela e voltei para a cama. Minha mente estava uma tempestade de pensamentos, mas havia uma pequena centelha de clareza que surgia. Eu precisava de tempo. Precisava descobrir quem eu era sem Gabriel. Por muito tempo, minha identidade havia se misturado com a dele, com as expectativas do que nosso relacionamento deveria ser. Agora, eu queria me encontrar de novo.
Peguei o celular, abri a mensagem dele e comecei a digitar. As palavras saíram hesitantes no começo, mas logo começaram a fluir.
"Gabriel, acho que precisamos de um tempo. Não quero que isso soe como um fim, porque eu ainda te amo. Mas eu preciso me redescobrir, entender o que eu realmente quero para mim, antes de decidir o que podemos ser juntos. Não quero tomar decisões precipitadas, nem me apressar a te dar uma resposta que eu mesma ainda não sei. Espero que você entenda."
Enviei a mensagem antes que a coragem me faltasse. Meu coração batia acelerado, e a ansiedade crescia conforme eu aguardava uma resposta, mas ao mesmo tempo, uma paz inesperada começou a surgir dentro de mim. Eu estava tomando controle da minha vida novamente.
Eu amava Gabriel, isso nunca tinha mudado. Mas agora, mais do que nunca, eu precisava me amar também.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre Cicatrizes e Silêncios-Gabigol
FanfictionSinopse: "Você não vê que está me destruindo?" "Então, por que não me deixa aqui de uma vez?" "Porque eu me importo com você, mais do que deveria." Gabriel Barbosa, ex-camisa 10 do Flamengo, agora carrega o número 99, que simboliza o infinito - assi...