Lis Alcantra pov's
As luzes do hospital eram frias, impessoais. O branco estéril das paredes parecia refletir a confusão dentro de mim. Eu estava cansada. Não só fisicamente, mas de uma maneira que ia muito além do que o corpo podia suportar. Era uma exaustão da alma, uma sensação de peso constante no peito que me fazia questionar tudo.
O acidente tinha sido a gota d'água. Não foi grave, nada que deixasse marcas profundas no corpo, mas a dor que eu sentia não vinha dos cortes ou do braço enfaixado. Era algo mais profundo, uma dor que havia crescido com o tempo, entre promessas quebradas e expectativas não correspondidas. Uma dor que eu vinha carregando há muito, desde o momento em que Gabriel começou a se afastar, mesmo sem perceber.
Deitada naquela cama, eu revivia todas as escolhas que me trouxeram até ali. Amar Gabriel tinha sido a decisão mais fácil que eu já havia tomado, mas manter esse amor vivo era o que me despedaçava. Cada sorriso falso, cada silêncio sufocante, era como uma faca que se cravava em mim aos poucos, tornando impossível ignorar o óbvio: eu estava perdendo ele. Ou talvez, mais doloroso ainda, eu já o tivesse perdido há muito tempo, mas me recusava a aceitar.
Quando ele entrou no quarto, meu coração reagiu antes de qualquer pensamento racional. Ver o pânico em seu olhar me fez sentir algo próximo ao alívio, como se, finalmente, eu estivesse vendo uma reação genuína. Mas logo a dor voltou, a dúvida corroeu a frágil paz que aquele olhar poderia trazer. Eu sabia que ele se importava, mas será que isso era suficiente? Será que ele sabia, realmente, o que eu estava sentindo?
Por muito tempo, eu esperei que Gabriel entendesse sem que eu precisasse falar. Achei que ele veria o quanto estava me machucando ao se prender ao passado, ao manter Rafaella sempre presente de alguma forma. Achei que o amor que ele dizia sentir por mim seria forte o suficiente para afastar as sombras que ela lançava sobre nós. Mas não foi. E agora, eu estava ali, na cama de um hospital, refletindo sobre o que deveria fazer.
Eu não podia mais viver assim. Essa era a verdade que me assustava. Amar Gabriel estava me consumindo, e eu não sabia se estava disposta a pagar esse preço. As lágrimas vieram sem que eu pudesse controlá-las, quentes e silenciosas. Elas rolavam pelo meu rosto, e cada uma parecia carregar consigo um pedaço de tudo que eu tinha segurado até agora. Eu estava me esvaindo, me desfazendo em lembranças e em dores que eu nunca soube como expressar.
Ele se aproximou e segurou minha mão, e por um momento, o toque dele me deu um resquício de conforto. Mas logo o vazio voltou. Era como se, mesmo ao meu lado, Gabriel estivesse longe demais. Talvez fosse culpa minha, por não ter falado antes, por ter guardado tudo até explodir. Talvez, se eu tivesse sido mais clara sobre o que me feriu, as coisas teriam sido diferentes. Mas a realidade é que nunca soube como fazer isso. Como explicar a ele que, cada vez que ele falava de Rafaella, eu me sentia menos importante? Como dizer que, por mais que ele dissesse que eu era o presente, eu sempre me sentia à sombra de um passado que ele se recusava a deixar ir?
— Eu devia ter lutado por você antes — ele sussurrou, quebrando o silêncio.
Aquelas palavras, ditas em meio ao som das máquinas e ao cheiro de desinfetante, eram como uma faca de dois gumes. Sim, ele estava ali, dizendo que queria lutar. Mas por quanto tempo? Até quando duraria essa promessa? Eu não sabia se podia confiar nisso, e essa incerteza era o que mais me machucava.
— Você está aqui agora — respondi, porque era a única coisa que conseguia dizer. Mas a verdade é que eu estava me protegendo, levantando um escudo contra uma dor que eu sabia que ele poderia causar de novo.
Eu precisava ser forte. Precisava decidir se estava disposta a continuar, se realmente podia acreditar que Gabriel estava pronto para deixar o passado para trás. Mas naquele momento, a única coisa que eu sabia com certeza era que eu não poderia mais ser a única a lutar por nós. Eu precisava que ele mostrasse, com ações, não apenas palavras, que eu era sua escolha. Não a escolha conveniente, não a escolha fácil, mas a escolha certa, aquela pela qual ele lutaria, sem hesitar.
Enquanto o silêncio nos envolvia, percebi que essa seria minha maior batalha. Não contra ele, mas dentro de mim. A batalha de decidir se ainda havia espaço para a esperança ou se era hora de me deixar ir.
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Entre Cicatrizes e Silêncios-Gabigol
FanfictionSinopse: "Você não vê que está me destruindo?" "Então, por que não me deixa aqui de uma vez?" "Porque eu me importo com você, mais do que deveria." Gabriel Barbosa, ex-camisa 10 do Flamengo, agora carrega o número 99, que simboliza o infinito - assi...