Capítulo 8: O Peso da Vergonha

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Gabriel Barbosa pov's

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Gabriel Barbosa pov's

A luz da manhã invadia o quarto de Lis, entrando pelas frestas da cortina e fazendo meu cérebro latejar. Eu estava deitado em sua cama, coberto apenas por um lençol fino, sem saber como havia chegado ali. O cheiro dela ainda pairava no ar, uma mistura de shampoo floral e algo que era exclusivamente Lis. Ao me mexer, um cansaço profundo se instalou em mim, um lembrete de que a noite anterior tinha sido intensa — para mim, e, provavelmente, para ela também.

A lembrança das palavras que trocamos na noite anterior começou a fluir na minha mente. A expressão de Lis, a intensidade do seu olhar, tudo se misturava em um turbilhão de emoções. Eu lembrava de ter admitido que nunca amaria outra mulher, de ter falado sobre como a sentia como minha casa. E, no entanto, ao acordar, uma onda de vergonha e confusão tomou conta de mim.

— Que merda eu fiz? — murmurei para mim mesmo, segurando a cabeça entre as mãos. O peso da noite anterior pressionava minha consciência como uma âncora, e eu sabia que não podia simplesmente deixar que isso ficasse entre nós.

Levantei-me devagar, tentando evitar fazer barulho e, ao mesmo tempo, a sensação de que precisava sair dali crescia em meu peito. Olhei ao redor e percebi a desordem que a noite de festa havia deixado — copos vazios, uma jaqueta jogada sobre uma cadeira, e o rastro de um momento que parecia agora um sonho distante.

Decidi me vestir antes que Lis acordasse. Era melhor assim. Eu precisava de um tempo para pensar, para processar tudo que tinha acontecido. O medo de como eu me comportei e o que isso significava para nós me deixava inquieto.

Assim que coloquei minha camisa, a porta do quarto se abriu. Lis entrou, ainda com um olhar sonolento, os cabelos bagunçados e uma expressão que eu não sabia como interpretar. O sol batia em seu rosto, e por um instante, pensei que era linda. Mas então, a lembrança do que eu havia dito voltou com força, e o peso da culpa me fez desviar o olhar.

— Bom dia... — ela disse, hesitante, como se estivesse tentando decifrar o clima entre nós.

— É... bom dia. — Respondi, tentando parecer casual, embora a tensão estivesse palpável.

O silêncio se instalou, e eu sabia que o que acontecera na noite anterior estava pairando entre nós, uma sombra que não poderíamos ignorar. Eu não queria encarar isso. Não queria que minha vulnerabilidade se tornasse uma verdade a ser debatida.

— Você... você lembra do que aconteceu? — Lis perguntou, seus olhos fixos em mim, buscando uma resposta que eu não sabia como dar.

Respirei fundo, procurando as palavras certas, mas tudo que consegui foi um manto de incerteza.

— Olha, sobre isso... eu não sei... eu realmente não lembro de muito. Eu... estava bêbado, e...

Ela me interrompeu, sua voz carregada de emoção.

— Gabriel, você não pode simplesmente... —

— Por favor, Lis, eu não quero falar sobre isso agora. — A pressa nas minhas palavras saiu mais brusca do que eu pretendia, mas eu precisava de um tempo para colocar a cabeça no lugar. O que eu havia dito poderia ter significado muito para ela, mas, para mim, estava cercado por dúvidas e inseguranças.

Ela olhou para baixo, a decepção evidente em seu rosto. Eu me senti como um canalha. Como alguém que havia usado a vulnerabilidade dela e depois a deixado na estante, como um livro que não se lê mais.

— Então você está dizendo que eu não significo nada para você? — O olhar dela estava agora misturado com raiva e dor. — É isso que você quer dizer?

— Não, não... não é isso que eu quero dizer! — Eu sabia que precisava encontrar as palavras certas, mas a pressão me deixava cada vez mais nervoso. — Olha, eu... eu não sou bom em falar sobre sentimentos, mas você sabe que eu me importo com você. Só que... é complicado.

— Complicado? — Ela cruzou os braços, olhando diretamente para mim. — É só complicado quando você não quer encarar a verdade, Gabriel.

Eu sentia que a situação estava escapando do meu controle. A tensão no ar era quase palpável, e eu não conseguia pensar com clareza. A única coisa que eu queria era sair daquela conversa e lidar com as consequências mais tarde.

— Por favor, Lis, vamos deixar isso pra depois. Eu só preciso... preciso de um tempo para pensar — disse, a voz falhando.

— Você sempre precisa de tempo. Sempre se afasta. — A frustração era clara em sua voz, e o olhar dela parecia penetrar em minha alma.

— Não é isso, eu... eu só preciso que você esqueça o que aconteceu. Pode fazer isso? — A pergunta saiu sem que eu pudesse pensar. Uma tentativa de apagar a noite anterior, de evitar que ela se tornasse uma pedra no nosso relacionamento que já era tão complicado.

Ela me encarou por um longo momento, e eu vi a dor refletida em seus olhos. Finalmente, ela deu um passo para trás, quebrando o contato visual.

— Tudo bem, Gabriel. Se é isso que você quer, então vou respeitar. Mas não posso prometer que será fácil. — Sua voz estava mais baixa, quase um sussurro.

Eu assisti enquanto ela se afastava, uma parte de mim desejando que pudesse voltar atrás e corrigir o que havia dito. Mas outra parte de mim, aquela parte que sempre tinha medo de se abrir, me dizia que era mais seguro assim. Que poderia proteger a mim e a ela dessa dor crescente.

A verdade é que eu sabia que não poderia esquecer o que havia dito. Aquilo estava gravado em mim de forma indelével. O que era amor? E eu realmente estava preparado para enfrentá-lo?

Mas agora não havia mais volta. O que eu queria e o que eu realmente sentia estavam distantes, como a luz da manhã que entrava pela janela. E enquanto Lis se afastava, o peso da decisão que eu tomei me esmagava, uma lembrança constante de que o amor não é algo que pode ser simplesmente ignorado ou esquecido.

Entre Cicatrizes e Silêncios-GabigolOnde histórias criam vida. Descubra agora