Capítulo 7: Promessas Vazias

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Lis Alcantra pov's

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Lis Alcantra pov's

A noite estava estranhamente silenciosa, e o vazio da minha casa parecia ainda mais intenso do que o normal. Depois daquela discussão com Gabriel na faculdade, eu me sentia exausta. Não era uma exaustão física, mas emocional, como se todo o peso dos últimos meses estivesse finalmente caindo sobre mim. Eu sabia que aquele confronto tinha sido necessário, mas isso não tornava as coisas mais fáceis. Ainda havia uma parte de mim que desejava que as coisas pudessem ser diferentes, que Gabriel fosse capaz de me dar o que eu sempre quis: amor, atenção, reciprocidade.

Eu me joguei no sofá, tentando me distrair com qualquer coisa. Liguei a televisão, mas nem prestei atenção no que estava passando. Meu celular estava ao lado, silencioso. Nenhuma mensagem de Gabriel. Eu não esperava que ele fosse me procurar tão cedo. Ele nunca era o tipo de homem que admitia seus erros logo após uma briga. Sempre levava tempo para ele perceber que tinha exagerado — se é que ele realmente percebia. Normalmente, ele apenas fingia que nada havia acontecido e seguia em frente, como se nossos conflitos fossem irrelevantes.

O que eu não esperava era o som insistente da campainha naquela noite.

Levantei-me, surpresa, com o coração acelerado de antecipação. Já era tarde, e não estava esperando ninguém. Quando abri a porta, a visão de Gabriel me atingiu como um soco no estômago.

Ele estava lá, encostado na porta, o corpo instável, o cheiro forte de álcool enchendo o ar. Seus olhos estavam vermelhos e desfocados, e ele parecia lutar para se manter de pé.

— Lis... — ele murmurou, a voz arrastada. — Eu precisava te ver...

Eu não sabia o que dizer. A imagem dele ali, completamente vulnerável, me trouxe uma mistura de sentimentos conflitantes. Raiva, tristeza, e, o pior de tudo, aquele desejo estúpido de protegê-lo, de cuidar dele, mesmo sabendo que ele nunca fazia o mesmo por mim.

— O que você está fazendo aqui, Gabriel? — perguntei, tentando manter a voz firme, mas sem muito sucesso. Havia algo no estado dele que me abalava profundamente.

Ele riu, um riso amargo, tropeçando ligeiramente enquanto tentava se equilibrar.

— Eu... eu não sei. Eu só... eu só precisava ver você. Não conseguia parar de pensar em você, Lis.

Minha raiva crescia a cada palavra. Não era a primeira vez que ele aparecia desse jeito, perdido em suas próprias emoções e expectativas, vindo até mim como se eu fosse o porto seguro que ele tanto evitava, mas que, de alguma forma, sempre acabava procurando.

— Gabriel, você está bêbado — eu disse, cruzando os braços, tentando manter algum controle da situação. — Volta pra casa, a gente conversa amanhã.

Mas ele balançou a cabeça, como se rejeitasse qualquer possibilidade de ir embora.

— Não... não, eu não vou embora, Lis — ele disse, seus olhos presos nos meus, intensos apesar da embriaguez. — Eu não posso. Você não entende... eu não consigo ficar longe de você. Eu preciso de você.

Eu sentia meu coração bater mais rápido, um misto de frustração e compaixão. Aquelas palavras podiam ter soado como um pedido desesperado, mas eu sabia que eram só vazias promessas, um eco do que ele sempre dizia quando se sentia perdido.

— Gabriel, você não pode simplesmente aparecer na minha porta assim, bêbado e confuso. Isso não é justo comigo — eu respondi, tentando manter a voz calma, apesar do tumulto que se formava dentro de mim.

Ele fez uma pausa, seu olhar agora mais sério, como se tentasse encontrar as palavras certas em meio ao turbilhão de sentimentos.

— Eu sei que fiz merda, Lis. Eu sempre faço. Mas você... você é a única que eu quero. A única que eu posso ver na minha vida. — Ele se aproximou, sua expressão misturando sinceridade e desespero. — Eu nunca iria amar outra mulher como eu amo você.

As palavras dele me cortaram como uma lâmina. Eu sabia que ele se importava de alguma forma, mas o que ele chamava de amor era tão superficial que eu duvidava que algum dia ele fosse capaz de entender o que realmente significava amar alguém. As promessas que fazíamos um ao outro nas noites passadas estavam agora à mercê de seus próprios demônios.

— Gabriel, não faça isso. Não me diga isso só porque você está se sentindo mal. Você não pode me deixar esperar por algo que talvez você nunca possa dar. — Minha voz estava embargada, e a mágoa era palpável. — Você não pode me usar como um consolo em momentos de crise e depois me deixar sozinha quando as coisas ficam difíceis.

Ele deu um passo à frente, suas mãos agora em meu rosto, acariciando meu queixo, os olhos fixos nos meus, tentando me convencer com um olhar que carregava um misto de dor e desejo.

— Eu não estou usando você. Eu estou sendo sincero, Lis. Cada vez que estou com você, sinto que estou em casa. E quando você não está por perto, tudo parece vazio. — Sua voz tinha um tom de desespero que me fazia sentir mal por ele, mas eu não podia deixar que isso me enganasse novamente.

— E quando você vai entender que amor não é apenas uma palavra jogada ao vento? — eu disse, tentando me libertar da sua pegada. — Você precisa parar de pensar apenas em si mesmo. Não é justo me envolver nesse ciclo, Gabriel.

Ele ficou em silêncio, a expressão de seu rosto mudando conforme suas emoções se desenrolavam. Havia um conflito interno que eu podia ver claramente, mas era difícil saber se ele realmente estava ouvindo ou se era apenas o álcool falando por ele.

— Eu não sou perfeito, Lis. Eu cometi erros, e sei que você não merece isso. Mas eu nunca vou amar outra mulher. Você precisa acreditar em mim. — Ele passou a mão pelo cabelo, um gesto de frustração que só confirmava a luta que travava dentro de si.

Tentei manter a firmeza, mas a dor nas palavras dele começava a romper as defesas que eu havia construído ao longo do tempo. Parte de mim queria acreditar que ele estava sendo sincero, que havia algo genuíno naquelas declarações. Mas outra parte, a parte que tinha se machucado tantas vezes, gritava para que eu fosse cautelosa.

— E se eu não puder mais esperar? E se você continuar se afastando, como sempre faz? — perguntei, minha voz mais suave, mas ainda carregada de insegurança. — O que acontece quando o brilho das suas promessas se apaga?

Gabriel fechou os olhos por um momento, respirando fundo, como se estivesse tentando processar tudo o que eu disse. Quando ele finalmente abriu os olhos, havia uma determinação que eu não tinha visto antes.

— Lis, eu não sei como vou fazer isso, mas vou tentar. Não posso prometer que serei perfeito, mas prometo que vou lutar por nós. Você merece isso.

Minhas esperanças e medos se entrelaçaram em uma dança estranha dentro de mim. Era um convite para acreditar, mas também um chamado à cautela. E ali, com ele em pé na minha porta, sua vulnerabilidade nua exposta, eu sabia que não poderia ignorar a verdade que se escondia atrás de suas palavras.

— Você só precisa saber que não posso mais ser sua tábua de salvação. Não quero ser alguém que você procura apenas quando precisa de conforto. Eu também preciso de você, Gabriel. Preciso de um amor que seja real, que não seja apenas uma sombra de promessas vazias.

A expressão de Gabriel mudou, e a intensidade do momento se aprofundou. Ele estava ali, vulnerável, e por um momento, tudo parecia possível. Mas eu sabia que só o tempo diria se ele seria capaz de cumprir a promessa que estava fazendo.

— Então, vamos começar de novo — ele disse, o tom da sua voz cheio de uma mistura de esperança e incerteza. — Vamos tentar. E, por favor, não desista de mim.

Eu me perguntei se esse "começo" significava algo mais do que apenas palavras. Havia um desejo profundo dentro de mim, uma vontade de acreditar que poderia haver algo genuíno entre nós. Mas ao mesmo tempo, uma parte de mim se perguntava se ele realmente estava preparado para o que isso significava.

E enquanto observava seu rosto, suas emoções cruas expostas, eu sabia que o caminho à frente seria complicado. Mas talvez, apenas talvez, o amor valesse a pena o risco.

Entre Cicatrizes e Silêncios-GabigolOnde histórias criam vida. Descubra agora