♦ Capítulo 42 - O fruto do nosso amor. ♦

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Estávamos na estrada. Nosso primeiro show seria numa cidadezinha perto daqui.
Cambridge era o nosso destino. Bem, seria até um telefonema assustador. Estou fazendo o que um bom viciado em música e violão faz: Brinca com o seu brinquedo. Melhora o som, dedilha.

— Enzo? Você está sentado? — Sou pego de surpresa por uma voz feminina que insistia em não mostrar o quanto a sua dona estava desesperada e aflita.

—  Sim, eu estou afinando o violão. Aconteceu algo? — Essa é aquela estranha sensação quando algo de muito ruim aconteceu. Seu coração dá um nó daqueles de lhe deixar sem ar e sem o piso nos pés. Os outros caras estavam deitados naquelas camas do ônibus enquanto eu, acariciava o corpo do meu instrumento. 

—  É a Katherine, não é?

Ouço um suspiro do outro lado da linha. Annie demora um pouco para juntar as palavras e falar comigo.

— Eu encontrei a Biskath desmaiada na cozinha. Estamos na ambulância e ela ainda não acordou.

Essa sensação, eu não desejo para ninguém. Você perde o chão, ou no meu caso, você perde a poltrona. Eu me sentia sem um pingo de oxigênio no cérebro e precisei de muita força para poder voltar e ser o que aquela ruiva esperava de mim.

—  Olhe, vai ficar tudo bem. — Digo, firme e cauteloso. Preciso afirmar algo que nem eu mesmo sei se realmente aconteceria. — Eu vou voltar. Me passa o endereço do hospital e te encontro lá.

— Tudo bem, Enzo. Obrigada. — Seu choro baixinho fez o meu peito doer. Além de querer confortar a minha mulher, eu queria confortar a sua melhor amiga. Aquela ali realmente era o tipo de pessoa verdadeira e que merece o seu devido valor.

—  O que foi, cara? — O que dormia do outro lado era o Joe, baterista. Quando olho para ele, é que deparo com a sua cara assustada e um amigo saltando e vindo até mim.

Eu devo estar com uma péssima e fodida expressão.

—  Porra, Enzo. O que foi? Você tá mais branco que o normal. Respira, mano. Pelo amor de Deus, não vai me ter um troço agora.

— A, A... Ela... — Eu sou um bosta quando as emoções resolvem tomar conta de mim. Me viro um porre de homem. Aquele conhecido medo vem rindo de mim. Perdi meu pai. O medo estava lá. Agora, aqui de novo.

Eu não posso perder a minha lady. Ela estava bem quando sai de casa, não estava?

Porra, mil vezes porra! Ela disse que sim, mas eu achei que ela estava estranha além da "gripe" que dizia ter. Katherine é muito orgulhosa, sempre foi. Nunca foi de aceitar ajuda de ninguém, mesmo que estivesse prestes a ficar mofada numa cama por causa de uma doença qualquer. Se eu tivesse ficado com ela...

—  É a Katherine? — Eles perguntam, já estão todos ao meu redor. Até o nosso motorista estava ali, depois de ter estacionado o ônibus da banda no encostamento. Concordo com a cabeça, apontando o meu aparelho celular para eles. Eu estava em choque.

Eu sei. Estou sendo um covarde. Nesse momento eu preciso juntar forças e ir correndo para ela. Seja o que for, eu estarei do seu lado.

—  Preciso ir até esse endereço. — Por fim, digo. A voz carregada de pavor, medo e um choro muito bem contido, mas que denunciava quando eu tentei falar. Preciso ser forte. Por nós dois.

— Você precisa uma ova. Nós vamos com você.

Eu vejo todos eles, os meus parceiros de banda e os melhores amigos que um homem pode ter na vida. O Joe pega meu celular e lê a nova mensagem recebida, comenta algo a respeito da "linda ruiva" e depois passa o endereço para o motorista que está indo para o seu lugar e nos levar de volta.

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