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Eu estava na sala de espera da clínica sozinha, pedi gentilmente para que minha mãe, Verônica, ficasse lá fora na minha esperar.

O lugar era claro, mas meu coração estava pesado. O médico entrou, e ao ver seu rosto sério, uma sensação ruim tomou conta de mim.

Ele começou a falar devagar.

-Mariana, precisamos conversar sobre os resultados dos seus exames.- Ele parecia nervoso, e eu já sabia que algo não estava certo.

-Os resultados mostraram... que você tem câncer...- ele disse, e as palavras caíram como uma bomba. Eu fiquei em choque. O mundo ao meu redor parecia parar.

Ele continuou falando, mas eu mal escutava.

-É um tipo raro chamado câncer de pâncreas.

As palavras ecoaram na minha cabeça. Câncer de pâncreas. Eu já tinha ouvido falar dele antes, mas não sabia muito. A sensação de pânico começou a crescer dentro de mim.

-Esse câncer é agressivo e pode progredir rapidamente- o médico continuou, como se estivesse me preparando para o que viria a seguir. -Infelizmente, temos que ser sinceros, a taxa de sobrevivência não é alta, e, no seu caso, temos um prognóstico de cerca de seis meses.

Eu olhei para ele, paralisada. Seis meses? Era isso que eu tinha? A ideia de tempo me deixou sem palavras.

- Mas... como isso é possível? Eu me sentia bem até recentemente!"

-Câncer de pâncreas muitas vezes não apresenta sintomas até que esteja em um estágio avançado -ele explicou. - Por isso, é importante procurar um médico assim que notar algo fora do normal, como você fez. Mas, dado o seu estado, precisamos agir rapidamente.

-Quais são as opções de tratamento?" perguntei, minha voz tremendo. Queria saber se havia algo que pudesse fazer, algo que pudesse mudar o que estava ouvindo.

-Podemos tentar quimioterapia, mas o tratamento pode ser duro e os efeitos colaterais são significativos. No entanto, a eficácia é limitada em casos como o seu, onde o câncer já se espalhou - ele disse, olhando para mim com uma expressão de compaixão.

A notícia era avassaladora. Eu não queria pensar em quimioterapia, em hospitais, em dor.

-Então, é isso? Seis meses, e tudo que eu posso fazer é lutar contra isso?

O médico assentiu lentamente.

-Entendo que isso é difícil de ouvir. É uma decisão pessoal. Algumas pessoas escolhem lutar com todos os recursos que têm, enquanto outras preferem focar em viver o tempo que resta da maneira que acham melhor.

As lágrimas começaram a escorregar pelo meu rosto. A realidade estava se instalando, e eu sentia que o chão estava se abrindo sob meus pés.

-E se eu decidir não fazer o tratamento?- perguntei, minha voz quase um sussurro.

-Essa é uma escolha válida, Mariana- ele respondeu suavemente. -Você tem o direito de decidir como deseja passar o tempo que lhe resta. A única coisa que posso garantir é que você não está sozinha, e sempre estaremos aqui para te apoiar, não importa a decisão que tomar.

Respirei fundo, tentando absorver tudo. Eu sabia que tinha que decidir o que queria fazer. Mas, naquele momento, tudo que eu sentia era confusão e medo. Seis meses. Era tão pouco tempo.

Depois que o médico explicou tudo, a sala parecia ter encolhido. O silêncio era opressivo, quebrado apenas pela batida nervosa do meu coração.

Eu ainda tentava processar tudo quando ouvi a porta abrir abruptamente.

Verônica entrou, sua expressão ansiosa logo se transformando em desespero ao ver o médico.

-O que está acontecendo? O que você disse para minha filha?- Ela olhou para mim, sua voz tremendo de preocupação.

-Verônica, acalme-se- o médico disse com um tom firme. - Precisamos conversar sobre o diagnóstico da Mariana.

Ela não quis ouvir.

-Diagnóstico? Que diagnóstico? O que você está falando?- A raiva e a preocupação transbordavam de suas palavras. Ela se virou para mim, os olhos cheios de lágrimas. -Mariana, o que está acontecendo?

Eu queria responder, mas a verdade era difícil de engolir.

-Mãe, eu... estou com câncer.

-Não, não!- Verônica gritou, sua voz ecoando na sala. -Como você pôde deixar isso acontecer? O que você fez? Você está doente e não me disse nada? Você me fez passar por isso?- As lágrimas começavam a escorrer pelo seu rosto, e ela parecia quase descontrolada.

O médico tentou intervir.

-Verônica, é importante que todos nós mantenhamos a calma. Mariana foi corajosa em buscar ajuda, e agora precisamos discutir as opções de tratamento.

Ela segura o diagnóstico.

-Opções de tratamento?!- Verônica interrompeu, sua voz alta e cheia de raiva. - Isso não é o que importa agora! O que importa é que minha filha está morrendo! é isso que você está dizendo? Como isso é possível? Ela é tão jovem!"

Eu olhei para minha mãe, tentando entender sua dor. Mas, naquele momento, tudo que eu sentia era a pressão da realidade se afunilando.

-Mãe...- tento chama-lá, mas ela não era do tipo que me escutava.

Verônica começou a andar de um lado para o outro, as mãos nos cabelos.

-Isso não pode estar acontecendo! Eu não posso perder você, Mariana! Não posso! O que eu vou fazer sem você?

As palavras dela eram como facadas. Eu sabia que ela estava sofrendo, mas, ao mesmo tempo, eu precisava de espaço para respirar.

- Não vou fazer o tratamento, eu só... não quero passar meus últimos meses em um hospital, mãe. Quero viver do meu jeito- eu disse, tentando fazer com que ela me entendesse.

Ela parou, olhando para mim como se eu tivesse acabado de dizer algo inaceitável.

-Do seu jeito? Você acha que é assim que as coisas funcionam? Você precisa lutar! Você precisa fazer tudo que puder para ficar bem!

-Mas e se eu não conseguir?- a frustração saiu como um sussurro, mas suas lágrimas não paravam. -O tratamento pode ser pior que a própria doença!

-Você está sendo egoísta!- Verônica gritou, a dor transbordando em sua voz. -Você não está pensando em mim, nos seus amigos, em tudo que ainda pode ter! Pense em tudo que você vai deixar para trás!

A sala ficou em silêncio, exceto pelo som do choro de Verônica, que agora estava em pé, as mãos no rosto. O médico olhou para nós duas, a expressão serena, mas com um leve toque de tristeza nos olhos.

Eu não sabia como fazer minha mãe entender que não queria viver da maneira que ela estava pensando. O desespero dela me cortava, mas eu também me sentia perdida em meus próprios sentimentos.

Não havia uma resposta certa, apenas um abismo entre nós, e eu não sabia como atravessá-lo.

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