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Mariana

- oi pai, bom dia- digo sentando na mesa.

Ele me olha desconfiado.

-onde foi ontem com a Isabela?- o seu olhar analisava minha expressão para ver se eu ia mentir.

E eu já estava treinada nesse aspecto. A mentira virou rotina, para quem sempre precisou fugir e mentir, acaba se acostumando. Minha mãe me prende muito em casa, então eu tive que sempre dar meu jeito.

- a gente estava assistindo filme na casa dela- ele me olha desconfiado- pode ligar para os pais delas e perguntar- dou de ombros.

A mãe da Isa sempre me acobertou.

-só quero que tenha cuidado Mariana, eu gosto muito da Isabela, mas ultimamente ela tem andando com pessoas que não são influências boas. - ele dá um gole de café.

- mas não se deve julgar pai- comento- a Isa nunca me levaria para o mal caminho. E o senhor tem clientes que são envolvidos no tráfico, nem por isso se corrompeu.

-é diferente, quando assunto é trabalho, tem que ter profissionalismo. Meus clientes me respeitam como advogado deles Mariana. Agora como eles veem as mulheres, não é com respeito. - ele se levanta- estou indo para meu escritório, volto a noite.

Ele se aproxima deixando um beijo na minha testa.

- vou estar na casa da isa- digo e ele não me responde.

Ele não poderia me prender, sou maior de idade.

...

- então você está me dizendo que conversa com o braço direito do dono do tráfico, e que eles vão lutar hoje no galpão?- ele afirma animada.

- loucura não é?- Isa dar leves pulinhos- queria ir vê-lo lutar. Mas não tenho coragem de ir sozinha, aquele lugar é cheio de assassino e donos de boca de tráficos de todo Rio de Janeiro.

- se quiser, podemos ir- digo dando de ombros e ela me olha surpresa.

- oque aconteceu com você amiga? Antes você era medrosa e fugia de casa pra gente sair depois que eu implorava muito.

Não queria que ela soubesse sobre meu câncer. Queria poder viver esses últimos meses como nunca, e respira cada ar diferente.

- as coisas mudam. Vamos? Que horas começa?- pergunto.

- Depois que as crianças dormem, é proibido entrada de menor de idade.- ela fala o óbvio- e acho melhor quando a gente for, você ir de calça e capuz.

-porque?- franzo a sombrancelha.

- é o óbvio amiga, seu pai é advogado criminalista, e todos os bandidos que vão estar lá, praticamente todos são clientes do seu pai. Se algum bandido daquele lugar cisma com sua cara, eles puxam sua ficha e descobre de quem você é filha, se seu pai sonhar que você pisou naquele lugar...

Realmente fazia sentido.

-você estudou tudo isso?- ela afirma e eu dou risada- nossa amiga, se você fizesse uma faculdade e fosse para uma área de investigação iria ser top.

Ela dá risada.

- que faculdade mana? Vou ser esposa troféu.

- de bandido?- dou risada e ela dá um tapa no meu ombro.

-para vei.

...

E lá estava eu e a Isa, nós duas de moletom com o capuz escondendo nossos cabelos, calça jeans e tênis.

- a gente tá parecendo penetras- digo.

-quase isso.

A Isa tinha uma moto, ela era doidinha da cabeça. Subo na moto junto com ela e segura firme e ela acelera.

Chegamos na frente do galpão, já passei várias vezes aqui na frente quando era criança. O lado de fora estava cheio de carros, era cada um mais bonito que o outro.

- vamos?- Isa segura minha mão e eu arrumo o capuz.

Se aproximamos da entrada, não dava pra escutar nada que estava acontecendo lá dentro.

- documento - o homem armado me olha sério.

Dou meu documento e ele libera a entrada, logo libera da Isa também.

- tremi toda- digo e a Isa da risada arrumando o capuz dela.

Andamos de mãos dadas naquele corredor, até que chegamos em um lugar cheio, a música estava alta e várias luzes piscando. Na frente bem no alto, tinha um ringue vazio.

- nossa- penso alto olhando aquilo.

Uma mesa com pó encima e várias pessoas cheirando aquilo. Outras fumando ao lado.

- aqui é tudo liberado pelo visto- Isa diz baixo me segurando ainda mais forte quando um homem se aproxima.

- vão apostar em quem?- um homem pergunta, ele sorria animado, certeza que estava drogado.

- apostar?- olho de lado pra Isa que me devolver o olhar.

- vamos apostar no Falcão - Isa diz rápido e eu fico confusa.

- boa aposta garota, mas hoje o trovão vai lutar contra o tempestade.- o homem olha para direção do ringue.

Que? Trovão e tempestade? Conta outra.

-tempestade é dono da favela vizinha- Isa diz baixo no meu ouvido. - eles se falam por respeito, mas tem boatos que eles se odeiam. Tempestade saiu da cadeia esses dias, disseram que ele está mais forte que o normal.

- Isa, eu estou sem palavras- falo baixo até que a luz apaga. Outra luz se fixou no ringue.- oque está acontecendo?

-vai começa a luta- o homem diz animado - primeira luta é do trovão e tempestade.

Onde eu fui me meter meu Deus!

O homem forte entra no ringue, ele estava sem camiseta com várias tatuagens amostra, ele se vira para olhar para as pessoas, e era ele, o "famoso" trovão.

Inexplicavelmente o olhar dele se encontrou com o meu no meio daquela escuridão.

-não é possivel!- digo baixo enquanto ele me encarava.

Sentia toda minha pele se arrepiar, era como se ele fosse lutar comigo...

ATÉ UM DIA Onde histórias criam vida. Descubra agora