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Mariana

Terminei de arrumar as últimas coisas, colocando na mochila, aquela sensação estranha de estar voltando para a casa da minha mãe. Talvez fosse a decisão certa, ela está sofrendo também, só esses dias que passei aqui, tem umas 100 ligações perdidas dela.

Antes de sair, fui até meu pai. Nos abraçamos, e senti o peso daquele adeus no aperto dele.

- Te amo minha garota- ele diz baixo- o pai vai está te esperando aqui semana que vem.

- Vou acalmar a fera da minha mãe, prometo que volto.

Saí lá fora e vi Isa vindo em minha direção, acompanhada de um cara que eu não conhecia.

Ele tinha um sorriso malandro no rosto, e os olhos cheios de curiosidade. Isa parou ao meu lado e, com um toque divertido, me apresentou.

- Esse é o Falcão - ela disse, e ele abriu um sorriso ainda maior.

- Então essa é a famosa loira? - ele soltou, com uma risada.

Famosa? Franzi a testa, surpresa, sem entender a que ele se referia.

- Famosa?- Isa olha pra ele sem entender.- então você é o famoso Falcão que a Isa apostou...- solto para sair esse clima estranho.

- Sério?- ele sorrir olhando pra ela- você foi lá e não me avisou? É perigoso Isa.

- fica tranquilo- Isa diz- trovão apareceu lá quando a Mari passou mal. Não aconteceu nada com a gente- ela sorrir.

- Trovão falou com você?- Falcão me olha curioso.

- Nada demais- digo e o Falcão ainda tinha curiosidade no olhar.

- Você devia conversar com ele- ele dar de ombros e a Isa olha confusa pro Falcão- oque foi? Só falo verdades.

- Vamos filha!- escuto a voz do meu pai dentro do carro.

Isa se aproximou de mim e me deu um abraço apertado, daquele jeito carinhoso e protetor que só ela tem. Antes de me soltar, deu um beijo na minha testa, e sua voz baixou, suave.

- Volta logo, tá? - ela pediu, e eu sorri, tentando esconder a saudade que já sentia.

- Prometo, tchau Falcão, manda um abraço para seu amigo trovão- digo brincando e ele arregala os olhos

- Eu vou mandar mesmo em- ele sorrir- tchau garota.

Enquanto o carro se afastava, olhei para trás e vi Isa e Falcão parados, me observando. Talvez eu voltasse logo, talvez não. Mas algo naquela despedida, e no jeito que Falcão falou "famosa loira", me deixca curiosa, isso ficaria na minha cabeça por um bom tempo.

...

Assim que abri a porta, minha mãe apareceu na minha frente, e o rosto dela já dizia tudo. Nem deu tempo de dar um "oi"; ela já começou a falar, atropelando as palavras.

- Mariana! Quantas vezes eu liguei? Você nem ao menos responde! Eu fiquei desesperada! Sabe como fico preocupada quando você some assim! - A voz dela tinha aquele tom que já era bem familiar pra mim, uma mistura de medo e irritação.

Suspirei, tentando me manter calma, mas sabia que ela não ia parar tão cedo. Com a mão no peito e os olhos ansiosos, continuou, a voz acelerada.

- Eu tô dizendo, Mariana, eu não consegui nem dormi filha, fiquei pensando nesse tratamento, é por isso que você precisa levar o tratamento a sério. Não dá mais pra brincar com a sua saúde desse jeito, você entende? Eu fico sem saber o que fazer, sem dormir, sem ter paz! Você me entende, filha?

Revirei os olhos, sentindo a paciência se esgotando. A última coisa que eu precisava era ouvir sobre "tratamento" de novo.

- Mãe, pelo amor de Deus! Eu já te falei que tô bem! Eu não preciso de tratamento nenhum, nem de você me lembrando disso toda hora! - soltei, minha voz saindo mais alta do que eu queria.

Mas ela não parou. Seus olhos se encheram de lágrimas, e ela parecia tão assustada que eu mal conseguia olhar para ela sem sentir a culpa crescendo.

Só que eu também estava exausta dessa pressão toda. Ela deu um passo em minha direção, a voz agora suplicante.

- Mariana, por favor, eu só quero o melhor pra você. Esse tratamento é importante! Você precisa... precisa entender que eu não quero te perder! -

Meu peito apertou, mas o cansaço e o estresse falaram mais alto.

- Mãe, será que dá pra você parar com isso? Eu não sou uma criança! Eu tô cansada de ouvir essa história como se fosse minha única opção! Será que você consegue, só uma vez, me escutar sem tentar me enfiar num tratamento que eu não pedi? - gritei, as palavras saindo com toda a frustração acumulada.

Ela ficou em silêncio, um silêncio que pesava no ar. Por um momento, ela parecia prestes a chorar, e parte de mim queria pedir desculpas, mas outra parte sentia uma necessidade desesperada de sair dali, de escapar de tudo isso.

Sem dizer mais nada, me virei e fui para o quarto, batendo a porta com força. Era por isso que eu queria passar mais tempo no morro.

ATÉ UM DIA Onde histórias criam vida. Descubra agora