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-oque foi?- Lucas me pergunta.

A gente estava sentado na pedra olhando a cachoeira depois de ter ido uns 6 rouds seguidos. Foi dentro do rio, fora do rio, na pedra, na areia. O Lucas ficou até carinhoso depois disso.

-nada- digo virando o rosto para o Lucas que deixa um selinho na minha boca.

-eu aguento mais um- ele sorrir.

-deixa de ser bobo- ele se levanta e estende as mãos para me levantar.- vamos embora, minha mãe vai come meu couro.

-só não voltar pra casa hoje- ele da de ombros me entregando minha roupa.- dorme em casa, ou na minha mãe...

-você tem casa?- pergunto vestindo o short e a camiseta seca.

-moro sozinho, achou que com 26 anos eu morava com minha mãe?- balança a cabeça afirmando.- eu tenho minha casa, só que gosto de ficar com minha família.

-que lindo! Já eu...odeio ficar com a minha - dou uma risada irônica. Ele se estende para que eu suba nas suas costas.

-e seu pai? Vocês parece ser próximo- subo nas suas costas abraçando seu pescoço por trás.

Ele começa a caminhar, já está a escurecendo, e eu acabei perdendo meu chinelo por aí.

-meu pai foi meu primeiro amor. O único problema dele, é que minha mãe consegue manipulá-lo, ela me prende e ele vai na onda dela.

-mas porque eles te prendem tanto? Você tem dezenove anos...

-não sei, o engraçado é que eu nunca dei motivos para isso. Mas isso vai acabar, eles vão se arrepender. - respiro fundo encostando minha cabeça nas suas costas enquanto ele me levava.

-oque tu vai falar pra tua coroa?- com a cabeça ainda encostada na suas costas respondo bem devagar.

-fui na praia, sozinha- digo- ela tá vulnerável ultimamente. De todo jeito vai brigar e falar um monte, porém, eu não ligo mais!

Lucas ficou em silêncio e continuou caminhando, não sei se foi rápido, ou eu dormi nas suas costas. Quando abrir os olhos ele estava chegando perto da sua moto.

-chegamos- desço da suas costas. Já estava de noite.

-que horas são?- pergunto para ele que me olha.

-6 horas- Lucas sobe na moto- porque não respondeu minhas mensagens ontem?

-meu celular está fiscalizado- bufo.- mas ele tem senha, então sem problemas.

Subo na sua garupa.

-tu fala tudo isso com tanta tranquilidade. Isso não é normal Mariana!- me aconchego na moto atrás dele e abraço seu corpo segurando firme.

-eu já me acostumei Lucas, então para quem já passar por isso a muito tempo, acaba sendo normal.

-só não se acostumar, ninguém se acostuma com coisa ruim. Segura firme- ele diz e acelera.

Ele tinha razão por um lado, ninguém tem que se acostumar com coisas ruins, mas tanto tempo passando pela mesma coisa, isso acaba mexendo com o psicológico.

...

-porque parou aqui?- Lucas para na frente de uma lanchonete.

-já veio aqui?- nego- isso que eu imaginei. Aqui tem o melhor pastel e caldo de cana do Rio de Janeiro.

-ah é?- desço da moto.

Lucas segura na minha mão enquanto nos aproximamos do balcão, ele pediu o dele e eu escolhi um pastel de frango com queijo.

Em poucos minutos já ficou pronto, comemos olhando o mar, essa lanchonete era na esquina da praia, então daqui dava para ver tudo.

-nossa! É bom mesmo- digo séria e ele sorrir.

-confia no pai que é sucesso- antes que eu pudesse falar algo, o celular dele toca. Ele atende ali mesmo.

-manda- seu semblante mudou.- já falei que as entregas só vão se liberadas quando eles pagarem a porra do caminhão do mês passado!- seu tom é baixo.

Eu até tinha esquecido que ele era bandido, ou melhor, dono do morro.

-manda eles me esperarem na boca, já tô chegando pra resolver esse b.o- a pessoa do outro lado da linha fala algo- aqui é o trovão caralho! Quem você pensar que é? Tô chegando pra nós desenrolar como homem.

Lucas... na verdade agora ele era o trovão, desliga a ligação, seus olhos escureceram. Ele não me olhou depois disso, ele estava com ódio, muito ódio digamos. Terminando de comer olho para ele que estava pensativo.

-vamos embora- nesse momento ele voltou pra realidade, ele nem comeu depois daquela ligação.

-me espera na moto- ele se levanta e eu vou em direção a sua moto e fico ali até ele se aproxima. Ele sobe na moto calado, subo na garupa sem falar nada.

Lucas guia para minha casa, e ele vai até os fundos do condomínio e para a moto. Ele estava quieto, não tinha mais um sorriso no rosto como hoje cedo.

-obrigada- digo descendo da moto. Eu achei que ele só ia dar tchau e acelera a moto, mas dessa vez ele desligou a moto e desceu de frente para mim.

Suas mãos seguraram meu rosto e eu fiquei um pouco em choque, não esperava, Lucas me beijou e deixou um beijo na minha testa.

-até depois- ele de vira e sobe na moto acelerando com tudo.

Fico parada alí pensando enquanto ele vai embora.

ATÉ UM DIA Onde histórias criam vida. Descubra agora