Trovão
Falcão estava ali, com o rosto sério e o olhar fixo no adversário, um olhar que só quem está pronto para destruir conhece.
Grego era forte e carregava um sorriso desafiador que me irritava mais do que qualquer provocação barata.
A plateia gritava, mas eu só conseguia ouvir minha própria respiração. A adrenalina corria nas veias, e por mais que eu tentasse focar na luta, a presença de Mariana ao meu lado era quase insuportável.
Ela não parava de olhar para o ringue com aquele brilho no olhar e, vez ou outra, desviava para mim, como se tentasse entender alguma coisa que nem ela conseguia explicar.
Falcão lançou o primeiro golpe, um cruzado rápido e preciso. Ele sempre foi bom nisso. Mariana apertou meu braço, e eu senti o calor da mão dela, como se me ancorasse ali no meio do caos. Tentei me concentrar de novo no ringue.
-Aguenta firme, Falcão. Só mais um pouco - murmurei para mim mesmo, mas Mariana ouviu e olhou para mim com curiosidade, como se eu estivesse entregando algo mais do que simples torcida.
- ele é bom...- ela fala mais fico quieto.
- você consegue vida!- Isabela grita e eu olho feio pra ela, na mesma hora ela abaixa a guarda dando sorriso meio constrangida.
Quando Grego recuou, senti um alívio. Mas logo ele voltou, agressivo, e acertou um golpe no queixo de Falcão. Meu sangue ferveu. Um erro. Não pode errar agora, cara, pensei.
Mariana respirou fundo ao meu lado, como se estivesse vendo um filme de ação e não a realidade dura e crua que era aquilo.
Ela não entende o que está em jogo aqui. A luta não é só entre Falcão e Grego, é uma guerra entre dois mundos. Ela não vê isso.
-Ele vai conseguir ganhar?- perguntou, com a voz baixa, quase inocente.Sem tirar os olhos do ringue, respondi.
-Se ele se lembrar de quem é e de onde veio… sim.
Então, Falcão se recuperou, firme. Ele me lembrou o motivo pelo qual eu apostava tanto nele. Ele desferiu um gancho perfeito, e Grego cambaleou, claramente abalado.
Mariana me olhou, surpresa.
- aí meu Deus!- Mariana grita quando Grego cão no chão do ringue.
- puta que pariu!- dou um sorriso animado. Percebo o olhar da garota.
- pra que falar palavrão em uma situação dessa?- ela cruza os braços.
Fingi nem escutar e procuro o Falcão com o olhar.
- rapunzel... vou te levar pra em um lugar- digo baixo e seus olhos azuis ou verdes sei lá, me olham brilhando.
- vai? Mas tipo... agora?- afirmo e ela sorrir- aí vamos logo então, eu mando uma mensagem pra Isa. Vamos!- acho graça desse jeitinho ela e dou risada.
Seguro sua mão no meio daquelas pessoas e guio até a saída dos fundos, onde estava minha moto. Dou meu capacete para ela.
- e o seu capacete?- ela pergunta colocando.
- não preciso- digo subindo na moto. Faço sinal para ela subir, mas ela sobe toda desengonçada.
- aí esse vestido fica subindo, vou ficar pelada desse jeito- ela reclama mais pra ela mesma. Nem dou bola.
- segura firme loirinha- suas mãos apertam meu abdômen, ela literalmente segurou firme.
Enquanto saía do morro, subi a velocidade da moto, o vento gelado causava impacto com nossa pele. Pelo retrovisor, consigo ver os olhos curiosos da Mariana, ela olhava cada detalha aonde passávamos.
Paro de frente a praia do vidigal, ela desce da moto toda desajeitada.
- me diz que você está de short- digo ao sem querer ver a calcinha dela.
- eu não- ela abaixa a saia sem dar a mínima. Essa garota não tem jeito.
- seu eu fosse um tarado e sequestrador? Tu ia fazer a mesma coisa?- falo sério- não é todo mundo que é bom não Mariana, para de ser ingênua.
- mas eu estou aqui com você não é? E eu sei que nunca me faria mal- desço da moto e fico de com ela.
- quem disse?- afronto centímetros de distância- você nem me conhece.
- nem você- ela retruca- e me trouxe pra fora do morro, sendo que você é foragido. Quem está ganhando agora?
Ela sorrir e se vira andando pela areia.
- maldita- bufo tirando a chave da moto.
A garota ia correndo até o mar, a praia estava vazia, não tinha um ser vivo. Ela jogou o tênis em algum lugar e agora tá correndo igual criança.
Me aproximo dela sentindo a areia entrar no meu tênis.
- é lindo, nossa muito incrível!- ela sorrir e me olha- muito obrigada trovão! Eu sempre quis sentir a sensação de pisar na areia.
- não quero agradecimentos por coisas mínimas- digo sentando naquela areia mesmo.
Ela senta ao meu lado meio sem jeito por causa do vestido. Seu sorriso era enorme.
- se meu pai descobrir, eu tô ferrada- ela sorrir com sua própria fala - que horas são?
Olho o relógio.
- três da manhã.- ela se cala olhando o mar, ela respira, fecha os olhos, sorrir e voltar a me olhar.
- qual seu nome?- ignoro sua pergunta- somos amigos agora, preciso saber seu nome cara.
- não tenho amigos Mariana!- digo e ela faz um bico enorme.
- mentiroso- ela começa a falas algumas coisa bem baixo que não consegui entender, deve está me xingando ou brava.
Continuei quieto sentindo aquele cheiro da brisa do mar. Eu amava a praia, mas depois que entrei pra essa vida, nunca mas pude vim a esse lugar. Tudo mudou.
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ATÉ UM DIA
FanfictionMariana descobre que está com câncer, e decide viver seus últimos meses como nunca. Ela passa um tempo na casa do seu pai que mora na favela, vivendo várias experiências, até que ela encontra ele... 23/10/24