Mariana
O som do tiro ainda ecoava na minha cabeça, e o mundo ao meu redor parecia ter desacelerado. Olhei para o corpo de Furacão, ensanguentado no chão, a expressão cínica congelada em seu rosto, agora irreconhecível. O sangue se espalhava rapidamente, uma cena de horror que eu nunca pensei presenciar.
Foi quando eu percebi, quase como um reflexo, três figuras parada na porta. Minha visão estava embaçada, mas foi o suficiente para ver minha mãe, Verônica, com a arma ainda na mão, a expressão vazia e em choque. Ela estava imóvel, como se o peso de tudo o que tinha acabado de acontecer estivesse ainda absorvendo cada segundo.
Ao seu lado, Trovão estava parado, os olhos arregalados em total surpresa. Seus olhos saltaram para mim, amarrada ali, em uma posição que mal conseguia me mexer. Ele estava tão surpreso quanto eu, e, por um momento, parecia ter perdido as palavras.
Eu podia ver a raiva e o desespero misturados em seu olhar, como se ele estivesse tentando processar o que estava acontecendo, mas não conseguindo.
-Mariana!- Trovão finalmente conseguiu gritar, correndo até mim com os passos largos, a expressão desesperada. Seus olhos estavam brilhando com um medo que eu nunca tinha visto antes. Ele queria me soltar, me tirar dali, mas parecia que a realidade tinha o atingido com força total.
Minha mãe, que ainda estava paralisada, me olhou com um olhar distante, como se ainda não estivesse completamente ali. Ela parecia ter disparado a arma sem realmente entender o que estava fazendo, ou talvez, já soubesse exatamente o que estava fazendo, mas nada no rosto dela dizia que ela estava ciente da gravidade do momento.
Eu finalmente consegui mexer os dedos, as cordas ainda apertadas ao redor dos meus pulsos, mas a dor era menos intensa do que antes. Estava mais preocupada com o que aconteceria a seguir, com o que isso significava.
Ao lado de minha mãe, Otto estava imóvel, observando a cena com olhos cautelosos. Ele olhou para minha mãe, depois para Trovão, e por último, para mim. Sua boca estava entreaberta, como se ele ainda tentasse entender a magnitude do que tinha acabado de acontecer.
Eu podia ver o conflito interno em Otto. Eu queria gritar, perguntar o que estava acontecendo, mas a dor e o choque me mantiveram em silêncio.
- Verônica...- Otto decidi abrir a boca.
Trovão finalmente me alcançou, seus olhos arregalados fixos em mim enquanto tentava desfazer as cordas que me prendiam. Ele estava tremendo.
-Mariana... está tudo bem agora. Você vai ficar bem. Eu vou tirar você daqui.- trovão estava tão desesperado quanto eu.
Mas eu não conseguia deixar de olhar para minha mãe. Ela estava ali, a arma ainda nas mãos, em choque. Eu não sabia o que pensar. Por um lado, ela me salvou, mas por outro, ela matou uma pessoa...
E trovão e verônica no mesmo lugar me causava espanto, meu coração estava acelerado vendo essa cena.
-Você... você fez isso, mãe?- Eu consegui perguntar, a voz falha, trêmula.
Minha mãe não respondeu de imediato. Ela apenas olhou para mim, ainda segurando a arma, como se não tivesse noção de como lidar com a situação. Finalmente, ela soltou um suspiro, e a arma caiu de suas mãos, fazendo um som metálico ao bater no chão.
Otto avançou para pegar a arma, mas seus olhos estavam cheios de dúvidas, como se ele estivesse questionando tudo o que acreditava saber sobre ela.
Trovão olhou para Otto, a tensão entre eles visível.
- como verônica conseguiu matar o furacão com um tiro na cabeça, otto?- trovão não conseguiu esconder o pânico em sua voz.
Otto se virou, com um olhar exausto e carregado de culpa.
-Não sei, Trovão... Eu não sei mais.
Eu ainda estava ali, tentando processar tudo, o peso das palavras e das ações pairando sobre nós. O que significava para minha mãe ter feito isso? O que significava para todos nós?
A verdade estava ali, nua e crua, e o silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.
Minha mãe se aproxima de mim em prantos, as lágrimas desciam sem parar, ela me abraça forte, e eu não consigo parar de chorar.
- eu... pensei que ia te perde filha, eu não posso te perder. Eu...
- eu estou bem mãe...- abro meus olhos ainda abraçada com ela.
E vi trovão e Otto conversando algo, eu sabia como trovão estava desesperado, e Otto, por incrível que pareça ele também estava, mas por algo que eu não sabia oque era.
Desfaço do abraço da minha mãe e ela me ajuda a ficar em pé, trovão tenta se aproxima, mas ele não consegue.
- porque você está com eles mãe?- pergunto ainda sem entender.
- fiquei sabendo do que aconteceu...eu não tive escolha eu tinha que ajudar a te procurar mariana!- sua voz estava trêmula.
O corpo ainda estava sangrando no chão.
- quero três vapores aqui no galpão para limpar essa sujeira!- Otto fala com um radinho na mão.
-mãe... como matou ele com apenas um tiro?- ela não me responde.
Olho para o trovão procurando reposta, ele apenas me encarava com preocupação.
- eu não quero perguntas mariana! Eu que tenho que fazer perguntas aqui, como conheceu o dono do vidigal? Como se envolveu nessa merda toda?- seus olhos estavam curiosos.
- pelo visto não é só eu que escondo segredos- digo percebendo o olhar do Otto para ela...
-Mariana...- trovão diz sério- você está sangrando!
Olho confusa procurando, e minhas pernas estavam cheias de sangue, era como uma hemorragia.
- aí meu Deus!- minha mãe grita- Otto ajuda a tira ela daqui, vou direto para o hospital!
- eu mando ela pro médico daqui verônica!- Otto vem na minha direção me carregar.
Eu acho que meu tempo havia chegado...
- ela tem que ir no médico que diagnósticou o câncer Otto! Ela não pode ir em qualquer um.- verônica diz séria com autoridade para Otto.
Sinto meu coração acelerar, o trovão estava aqui, ele não ouviu isso né? Ainda sentindo meu corpo suar, meus olhos encontram o dele em silêncio, ele estava tentando processar oque acabou de escutar.
Não era assim que eu queria que ele soubesse, meus olhos estavam embaçados pelas lágrimas, e eu não consegui falar mais nada.
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ATÉ UM DIA
FanfictionMariana descobre que está com câncer, e decide viver seus últimos meses como nunca. Ela passa um tempo na casa do seu pai que mora na favela, vivendo várias experiências, até que ela encontra ele... 23/10/24