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Mariana

Minha visão foi voltando devagar. A primeira coisa que vi foi o Furacão, encostado na parede, com aquele sorriso cínico. Ele segurava um telefone na mão e me encarava como se eu fosse um troféu.

-Tá na hora de dar um recado pro seu querido Trovão, princesa-  ele disse, com um sorriso de lado, e jogou o telefone no meu colo, sem se preocupar com o jeito que eu tava ali, toda amarrada.

-Fala logo com ele, pra ele saber que você tá em boas mãos- ele continuou, rindo daquele jeito nojento.

Tentei me segurar, mas quando ouvi a voz do Trovão do outro lado, minha voz saiu tremendo.

-Trovão, me tira daqui, por favor!- Eu tava apavorada, sentindo as lágrimas descerem. Mas antes que ele pudesse responder, Furacão arrancou o telefone de perto de mim e aproximou o aparelho do rosto.

-Ó, Trovão, tua princesinha tá chorando de saudade! Vem cá, vamos ver se tem coragem de pisar aqui pra buscar ela, ou se vai deixar ela nas minhas mãos.- Ele deu uma risada cínica e me empurrou de leve, só pra ver meu desespero.

Do outro lado, ouvi Trovão gritando, furioso

-Se encosta nela, vai se arrepender seu filho da puta! Vou te balear todo seu bosta!

Mas Furacão só riu mais.

- Eu vou fazer o que eu quiser, parceiro. E sabe o que mais? Vou até dar um gostinho pra você.- Ele apertou um botão, e, de novo, um choque atravessou meu corpo. Eu gritei, sem conseguir me segurar.

- para! Por favor!- gritei no desespero, o telefone quase escorregando da mão do Furacão enquanto ele ria.

- ouviu, né? Tá tudo bem aqui. Só depende de você, Trovão. Chega aqui ou vê ela sofrer- ele falou, desligando antes que Trovão pudesse responder.

Assim que Furacão desligou o telefone, ele se virou pra mim com aquele olhar debochado, escorando as mãos nos joelhos e se inclinando pra ficar bem perto do meu rosto.

-Olha só, princesinha, tá achando que o Trovão vai mesmo vir aqui pra te salvar, né?- Ele deu uma risada seca. - Ele não liga pra você, quantas mulheres ele ja comeu em toda sua vida... você nem sabe. O que ele ia querer com alguém que tá com os dias contados? É isso mesmo que você ouviu, sei muito bem o que tá rolando com você.

Eu fiquei sem reação. Meu peito apertou, minha cabeça rodava, e antes que eu pudesse processar, ele já continuava, jogando tudo na minha cara.

-Pois é, cancerzinha... tá difícil engolir essa, né? Mas não é só isso que eu sei. Esse seu papinho de família perfeita, de pai bonzinho tudo caô! Eduardo nunca foi teu pai de verdade. Ele só quis fazer um teatrinho porque tua mãe pediu!

Meus olhos estavam arregalados, o chão parecia sumir embaixo de mim.

- mentiroso!- eu sussurrei, mas a verdade era que algo dentro de mim já duvidava disso fazia um tempo. Sempre teve alguma coisa estranha, um vazio que eu nunca consegui explicar, e agora tudo estava jogado ali, como uma bomba que ele explodia bem na minha frente.

-Não gostou da novidade, né? A princesinha aqui sempre achando que tava segura, que tinha tudo. E agora? Vai fazer o quê?- Ele deu um sorriso cínico, sabendo que tinha me destruído com aquelas palavras. Eu tremia, engolia em seco, sentia o gosto amargo na boca.

-Você...é um monstro!- consegui dizer, minha voz saindo como um sussurro fraco.

Mas aí, bem na hora, a dor voltou, uma pontada forte no estômago, que me fez dobrar de leve, me contorcendo. Era como se o câncer estivesse rindo de mim também, como se me lembrasse que ele estava lá, que tudo aquilo era real, e que eu não tinha mais controle sobre nada.

A dor era insuportável, parecia que alguém tava me rasgando por dentro. Eu tentava segurar o grito, mas não tinha mais força.

As lágrimas desciam sem parar, misturadas com meu suor. A respiração tava pesada, e toda vez que eu tentava puxar o ar, parecia que o peito não aguentava.

-Por favor… me deixa sair daqui- eu consegui sussurrar, nem acreditando que eu tava implorando pra ele. Meu orgulho, minha dignidade, tudo tinha sido jogado fora naquele momento. Eu só queria que aquela dor parasse, só queria sair daquele lugar.

Furacão olhou pra mim, e eu não sabia se ele ia rir de novo ou se ele ia finalmente ter um pingo de compaixão. Mas ele só cruzou os braços e me olhou de cima, como se eu fosse um nada.

-Ah, não aguenta, princesa? Achei que fosse mais forte que isso- ele debochou. -Tá chorando de dor? Isso é só o começo.

Eu tentava tapar os ouvidos, queria que ele parasse de falar, mas eu tava amarrada, sem ter pra onde correr. A dor ia aumentando, e com ela, o desespero também.

A respiração dele tava cada vez mais perto, como se ele quisesse ver cada lágrima que escorria do meu rosto.
Eu só queria acordar desse pesadelo, mas tudo aquilo era real demais. E mesmo no meio do meu choro, da dor, e da humilhação, uma parte de mim ainda gritava pra eu não desistir.

- filho da puta!- escuto um barulho de tiro e me assusto. Abro os olhos vendo o Furacão ensanguentado no chão com um tiro e atravessou sua cabeça.

O sangue jorrando no chão com sua cabeça furada, dei um grito de susto, meu coração estava acelerado vendo essa cena.

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