Prólogo

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Christopher Uckermann

Itália, 5 anos atrás

A cadeira de espera do hospital estava fria e desconfortável. O clima era sombrio e, após duas horas aguardando notícias e ameaçando pessoalmente o médico responsável e o diretor do hospital, minha paciência havia se esgotado. Todos sabiam que contrariar o chefe da máfia mais temida do mundo não era bom para a saúde, mas, surpreendentemente, todos pareciam brincar com a morte naquele dia.

Giovanni e Alfonso estavam ao meu lado, não saíram de perto nem por um segundo. Minha mãe não saía da capela do hospital e meu pai estava parado no corredor, aguardando o primeiro médico passar pela porta de emergência. Poucas pessoas sabiam que éramos uma família atípica dentro da máfia. Amávamos, apoiávamos uns aos outros e éramos unidos e leais.

— Responsável pela paciente Belinda Uckermann? ― um senhor careca com óculos na ponta do nariz falou alto.

Caminhei rapidamente em sua direção.

— Sou eu, o marido dela ― respondi, ansioso por não ter controle da situação e não gostar de me sentir assim.

Todos se aproximaram de mim, exceto os soldados responsáveis por nossa segurança, Afinal, tínhamos no hospital um Don, um subchefe e um futuro sucessor, alvos fáceis para os inimigos.

— Vamos ter que fazer uma cesárea de emergência ― Falou o médico, sério. ― A situação é grave, mas faremos tudo o que for possível para salvá-los.

— Mas é muito cedo para um parto, minha nora está apenas com sete meses de gestação, doutor ― minha mãe expressou o que eu queria dizer, mas não conseguia pronunciar.

— Sim, é cedo, mas dentro do quadro médico é o melhor a ser feito agora.

— Ela está bem? ― perguntei receoso.

Estava no escritório de meu pai quando minha governanta ligou, dizendo que Belinda tinha desmaiado. Desde então, estávamos agoniados sem notícias concretas.

— A pressão arterial da paciente está muito elevada, o que indica pré- eclâmpsia, por isso a necessidade de uma cesárea de emergência. O senhor vai assistir ao parto? ― O mundo deu uma volta e parou bruscamente em minha cabeça.

Senti as mãos dos meus amigos em meus ombros. Respirei fundo, precisava ser forte por eles.

— Claro que sim. —  Respondi, por fim.

Com o tempo, nos tornamos mais amigos do que marido e mulher. Éramos companheiros. Belinda era incrível, o tipo de mulher com quem eu poderia conversar sobre tudo. Passávamos horas pensando no futuro. Nosso casamento não foi por amor, mas mantinha-se por respeito. Fui obrigado a me casar com ela por contrato, mas fiz tudo o que pude para que ela tivesse uma vida feliz. Só não podia lhe dar o amor de homem e mulher. No mundo em que vivemos, onde homens espancam mulheres e as tratam como meras incubadoras para reproduzir herdeiros, eu tratava Belinda com respeito e amizade. Para ela, isso era muito mais do que poderia esperar.

Tivemos relações apenas uma vez, na lua de mel, para consumar o casamento e cumprir o terrível e machista ritual dos lençóis de sangue. Uma das coisas que quero mudar nas leis da máfia quando assumir a posição de meu pai. Um ato tão arcaico como esse.

Entrei na sala de cirurgia e ela estava sendo preparada. Sentei-me em um banco ao seu lado. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, mas ela ainda sorria.

— Oi ― ela se virou para olhar em meu rosto.

— Oi ― respondi com a voz embargada.

— Christopher? ― ela me chamou, apertando minha mão. ― Sinto que algo não está certo, então, prometa-me uma coisa.

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