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Dulce Maria Saviñon

Ouvia uma conversa distante, uma voz conhecida, mas tudo estava escuro. Minha cabeça doía tanto que latejava. Uma dor atrás dos meus olhos não me permitia abri-los. Eu queria mover meu corpo, mas não conseguia. Tudo estava fora do meu alcance. Sentia-me presa no meu próprio corpo. Como isso era possível?

As crianças, meu Deus, as crianças precisam sair do esconderijo. Preciso avisar alguém. Tentei me mover, mas apenas os meus dedos das mãos se levantaram. Tentei novamente e consegui abrir os olhos. Como uma tarefa tão simples não podia ser realizada pelo meu próprio corpo?

Minha cabeça se moveu em direção à voz que eu conhecia de algum lugar. Consegui abrir os olhos apenas o suficiente para ver minha irmã e Madá, estáticas ao meu lado. A claridade da lâmpada acesa em meus olhos me fez choramingar. Fiquei agitada, ouvindo um bip constante em meus ouvidos. Madá segurou minha mão e ouvi a voz distante de Anahí.

Queria gritar, queria que eles me ouvissem. As crianças estavam em perigo. Não precisavam perder tempo comigo. Eu estava bem. Me agitei de um lado para o outro, mas as palavras não saíam. Fiquei muito nervosa, mas me forcei a falar.

— As crianças... Christo...pher — consegui dizer com muito esforço.

— Estou aqui, meu amor, me perdoe ― ele respondeu. Perdoar o quê?

Eu não estava entendendo. Queria dizer que não fiz barulho, que não assustei as crianças, mas ninguém me ouvia. Só choravam. Por que estavam chorando tanto?

— Você tem que salvar as crianças... elas... eu não fiz barulho, eu juro, não fiz ― eu queria que eles entendessem.

Esse bip não parava, e eu já estava nervosa. Queria sair daqui.

— Elas estão bem, pequena. Você as salvou, elas estão bem, e agora você também está. Fica calma e respira, ok? ― Christopher tentou me acalmar.

Como as crianças estavam bem? Eles as encontraram? Meu Deus, será verdade ou estão apenas tentando me acalmar?

— Jura pra mim? ― perguntei, porque sabia que Christopher nunca mentia.

— Juro, meu amor, juro de dedinho ― agora sim, acredito nele. Um juramento desse nível não pode ser mentira.

— Eu te amo tanto ― queria dizer isso a ele, e nunca mais ficaria um dia sem dizer.

— Eu te amo tanto, pequena guerreira ― ele me beijou, um beijo carinhoso, cheio de saudade.

Eu também estava sentindo falta dele. Essa viagem para Las Vegas foi um tormento. Não quero mais ficar longe dele.

O bip ficou mais forte novamente, e o médico afastou Christopher, que chorava e sorria ao mesmo tempo. Meu coração estava disparado. Todos estavam no quarto, até Margô apareceu pela porta, com a mão no coração. Eu não entendia essa comoção.

Alfonso saiu com o telefone no ouvido, enxugando as lágrimas. O médico me examinou. Creio que as dores sejam consequência da luta que tive com Carmem e seus comparsas. Tinha muito para contar a Christopher, mas preferia esperar até que o médico saísse.

— Vai ser um caminho longo para sua recuperação, Dulce Maria, mas o mais importante você já fez, que é acordar. Agora, com muita fisioterapia, logo vai estar nova em folha ― disse o médico.

— Como assim acordar? ― perguntei, confusa.

Christopher e Anahí vieram para o meu lado da cama. Olhando agora com atenção, não lembrava de estar no quarto de Christopher e nem desses aparelhos em mim.

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