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Dulce Maria Saviñon

Acordei sentindo vergonha pelo que aconteceu na noite passada, não pelo prazer que senti, mas por pensar no meu chefe para isso.

Levantei, tomei um banho e fui verificar as crianças, que ainda estavam dormindo. Desci para fazer café e encontrei Christopher na cozinha, preparando café e ovos.

— Bom dia ― ele falou com uma expressão relaxada. ― Parece que você dormiu bem.

―Bom dia ― respondi, apenas.

— Café? Não sei fazer waffles, mas fiz ovos para você ― Ele informou, oferecendo-me uma xícara de café e colocando os ovos em um prato para mim.

— Não sei se o senhor sabe, mas eu deveria estar fazendo isso, não o contrário ― comentei.

— Hoje você não é minha funcionária, hoje é supostamente seu dia de folga, e é uma forma de agradecimento. Você faz nosso café todos os dias, por que eu não posso retribuir? ― Ele respondeu.

— Sim, seria... Aliás, vou embora daqui a pouco. Só vou esperar as crianças acordarem. Não vou cometer o mesmo erro de ontem ― falei, sentindo-me envergonhada diante dele.

— Nós já conversamos sobre isso ontem. Você não teve culpa, e você me fez muito feliz ontem à noite ― ele falou, pegando minha mão que estava sobre o balcão.

Senti uma corrente elétrica percorrer meu corpo até a nuca.

— Obrigada pelo café ― murmurei, sentindo-me idiota por não conseguir dizer mais nada. ― Vou apenas pegar minhas coisas e voltar mais tarde, é melhor do que voltar amanhã ― tentei mudar de assunto para que ele parasse de me encarar com esses intensos olhos castanhos.

Ele é tão bonito!

— Coma antes que esfrie, e não se preocupe, vou mandar o motorista te buscar quando você quiser voltar ― Ele me informou, pegando uma xícara de café e sentando-se ao meu lado. ― Aliás, você estava linda ontem ― completou, e o silêncio tomou conta da cozinha.

Não consegui responder.

Após o café, subi, conversei com as crianças e expliquei sobre minhas folgas. Fiz um calendário para que eles pudessem marcar os dias da semana com azul e os sábados e domingos com rosa, para que entendessem os dias de folga sem problemas.

Brinquei um pouco com eles e fui para casa, pois tinha levado minhas roupas para lavar lá já que a mansão, não havia muitas coisas minhas.

[...]

Cheguei em casa e todos ainda estavam dormindo, o que indicava que a noite tinha sido boa. Aproveitei para ligar para Maite.

— Estou morrendo de saudades de você! Deve ser do tamanho de todo o Brasil, sua malandra. Você deveria me ligar mais ― ela já atendeu brincando comigo.

— Desculpa amiga, lá na mansão estava uma correria essa semana, mais prometo que ligarei mais, como estão as coisas por aí? Aliás a minha saudade também é do tamanho do Brasil.

— Amiga, não quero te assustar, mas teve um cara, parecia um detetive, fazendo perguntas sobre você lá no campus essa semana ― disse Maite, preocupada.

Eu já comecei a me apavorar pois no fundo, sabia que esse dia chegaria.

— Ele te perguntou algo?

— Não, ele sabe que eu não falaria nada, mas nem a tia Tereza da cantina escapou dos questionamentos dele, a essa altura, seu ex já deve saber que você lavava pratos ― disse ela, rindo, e eu me permiti rir também.

— Já esperava por isso, amiga. Meu medo é você e Marta. Me prometam que vão ficar longe dele?

— Prometo. Agora me conta como você está lidando com essa mudança em sua vida?

— Estou bem, estou feliz. Os gêmeos me fazem bem e eu até fiz amizade com Alfonso e Giovanni na mansão, e meu patrão é o "Hugostoso", né amiga? Não tenho do que reclamar ― caímos na gargalhada.

— E o coração?

— Amiga, você acha que seria errado eu me envolver com alguém?Tipo, você acha que é muito cedo? ― Isso martelava na minha cabeça. Será que eu seria considerada uma safada por querer um homem?

— Claro que não, amiga. Você está seguindo a sua vida e não está morta, não foi você quem errou, você foi uma vítima ― comecei a chorar, esse assunto ainda me magoava muito ― Não chora, e me conta por que dessa pergunta? As brincadeiras com o chefe gostoso pararam de ser apenas brincadeira?

— Amiga, eu sinto tesão só de olhar para o cara, o cheiro dele, o toque, tudo me atrai.

— Espera aí, o toque? Vocês se pegaram? Me conta!

— Não, mas ele me abraçou aquele dia do susto, e hoje fez café pra mim e segurou minha mão. Eu sei que foi porque eu ajudei com as crianças ontem, mas sei lá... não quero me iludir, sabe? Só por ser tratada bem.

— Você só vai saber se tentar, se experimentar. Não estou falando para se jogar no cara, mas se permita, se rolar, beleza; se não, tudo bem também.

— Sim, vou me permitir, abrir minha mente. Nós nos despedimos.

É sempre bom conversar com Maite. Não posso negar que fiquei apreensiva com a revelação sobre o detetive, mas também não posso me render ao medo.

Acabei dormindo novamente e, ao acordar, chamei Madá para irmos ao supermercado comprar coisas gostosas para o jantar. No entanto, resolvemos esperar Annie para irmos ao restaurante do Christian comer o meu risoto que não comi ontem.

No caminho para o restaurante, contei o que aconteceu com os gêmeos e elas ficaram tristes com a situação das crianças, também contei para elas sobre Pablo ter mandado o detetive para o campus. Christian ficou apreensivo e minha irmã não gostou, mas decidimos esperar antes de tentar agir.

Passamos o resto do domingo juntos, de noite voltei para mansão, que estava silenciosa, e eu pude dormir tranquilamente.

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