Dulce Maria Saviñon
A água morna caía pelo meu corpo, e eu fui sentindo exatamente os lugares onde ardia e doía. Mas nenhum lugar doía mais do que o meu coração. Como o homem que um dia amei pôde apenas me trazer dor e medo? Como eu seguiria com minha vida carregando a lembrança dessa noite?
Se eu conseguisse sair desse maldito prédio que só me trouxe sofrimento seria um alívio.
— Dul, você está bem? Precisa de ajuda? ― Marta, cujo nome só soube depois de um tempo, me chamou do outro lado da porta. Nem percebi o tempo passar; já deve estar de madrugada.
— Não, Marta, obrigada. Já estou indo ― Respondi, só querendo deitar e dormir. Mas só farei isso quando estiver longe e segura.
— Desculpe, não percebi o tempo passar. Seu chuveiro é maravilhoso ― elogiei, tentando ser agradável, afinal, ela me ajudou até agora.
Marta sentou-se ao meu lado na cama e se aproximou.
— Vamos fazer esse curativo. Parece que não será preciso dar pontos, mas ficará uma pequena marca na sua testa.
— Para que eu nunca esqueça dessa noite ― disse tristemente.
— Não, Dulce Maria. Essa marca será para te lembrar o quão forte você é e de como superou isso de cabeça erguida. Sempre admirei sua coragem, minha filha. Não é de hoje que ouço as brigas, os insultos dele contra você. Eu sabia que essa força dentro de você um dia te libertaria. Estou muito orgulhosa de você. Apesar de não concordar, você deveria ir à polícia e fazer um boletim de ocorrência. Ele não pode sair impune.
— Obrigada, Marta. Nunca poderei agradecer o suficiente pelo que fez por mim, sem nem me conhecer. Mas realmente, não será bom para mim ir à polícia. A vida se encarregará de puni-lo, eu não duvido.
— Você não precisa me agradecer. Se todas as mulheres se ajudassem em vez de julgar e rir da desgraça uma da outra, a vida seria muito mais leve, e esses indivíduos desprezíveis que acham que podem mandar em nós não existiriam.
— Marta, você já passou pelo que estou passando? ― Perguntei, com medo da resposta. Como podemos sofrer tanto, meu Deus?
— Sim, passei e consegui me libertar. E você também conseguirá. Agora, vamos vestir uma roupa... ― ela foi interrompida pela campainha, e o medo e o pavor tomaram conta do meu corpo novamente.
— Calma, vou ver quem é. Não estou esperando ninguém. Vá para o banheiro e se esconda lá ― Ela falou e eu saí correndo para o banheiro e me tranquei.
Ouvi uma conversa ao longe, mas não me arrisquei a chegar perto para ouvir o que estavam falando. Um tempo depois, Marta voltou e eu estava paralisada de pânico.
— Dul, sou eu, Marta. Pode abrir a porta. Era o porteiro, ele já foi ― disse Marta.
Saí do meu estado de transe e abri a porta, tremendo.
— O que ele queria, Marta?
— Ele veio conversar, queria saber se eu não tinha visto você passar pela porta. Disse que o Sr. Pablo estava procurando por você, preocupado porque você teve uma crise de pânico e fugiu de casa. Ele está indo de porta em porta perguntando.
— Meu Deus, ele está dizendo que eu fugi por causa de uma crise de pânico? ― Eu não conseguia acreditar.
— Sim, querida, infelizmente. E o idiota do porteiro é tão desprezível quanto ele. Todos sabem que ele não é um bom namorado para você, e o porteiro está protegendo esse canalha.
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Passione
RomanceChristopher Uckermann, um imponente empresário do setor de exportação marítima, é também um temido e implacável mafioso, ocupando o segundo posto na hierarquia da Máfia Italiana. Viúvo e pai dedicado de gêmeos de 4 anos, ele concentra sua vida em to...