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Agatha

Meus joelhos estão doloridos, quase em carne viva, e minha coluna está curvada há pelo menos uma hora. Meu celular está no modo silencioso, com o brilho no mínimo. Preciso ir ao banheiro, mas não posso sair daqui. O segurança está parado como uma estátua, bloqueando a porta. Estou escondida dentro do armário no escritório do Roberto. Eu estava instalando um microfone e uma câmera quando o segurança chegou de surpresa. Não tive tempo para mais nada, apenas me escondi.

Fiz um acordo com Christopher. Preciso encontrar algo concreto contra o Roberto, para libertar minha mãe dessa vida de tormento. Eu sou jovem e posso aguentar os golpes que ele me dá, mas ela não merece passar por isso. Não posso permitir que minha mãe continue sofrendo, assim como a ex- esposa desse maldito.

Tentei entrar em contato com Alfonso, meu meio-irmão, segundo o Roberto, mas nunca obtive resposta. Pensei que ele poderia me ajudar, já que passou por situações semelhantes. Ele recebeu ajuda do irmão de Roberto e sua esposa. Apesar de serem irmãos, Dom não apoia a violência. Por isso, naquela noite terrível em que seria meu noivado, eu estava pronta para pedir a ajuda de Alfonso, no entanto, ele não estava lá. Arrisquei tudo pedindo a Christopher, mesmo tendo minhas dúvidas sobre ele, pois na máfia nem tudo é o que parece ser. Christopher prometeu me ajudar, mas eu preciso de provas para convencê-lo.

Não tenho medo de ser pega tentando obter essas provas. Meu medo é o que pode acontecer comigo e minha mãe se descobrirem que Roberto está traindo a organização com os russos. Na máfia, as mulheres sofrem simplesmente por serem mulheres. Somos criadas para sermos boas esposas, dar à luz filhos homens para herdar cargos, suportar os abusos dos maridos estressados e nos casar por contratos. Somos tratadas como meros objetos, bonitas o suficiente para agradar, caladas o suficiente para não questionar. Somos praticamente bonecas infláveis.

Claro, nem todos são assim. Existem casamentos por contrato que se tornam por amor, outros casamentos por contrato onde nunca realmente se olham, e há também aqueles que morrem por amor. Quando alguém trai a organização, toda a família sofre. Os homens são mortos e as mulheres se tornam servas ou são enviadas para os bordéis, onde são usadas até o último dia de suas vidas, tornando-se a escória da máfia.

Eu não quero esse destino para minha mãe, nem para mim. Eu quero estudar, fazer a diferença. O casamento por amor não é tão importante para mim, desde que eu possa ser uma mulher independente. Será pedir demais? Christopher vai me ajudar, e eu não me importo em me machucar no processo, se isso significar salvar minha mãe, então estarei bem.

Ouvi um barulho e tentei ficar o mais imóvel possível. Pela fresta do armário, consegui ver Roberto se sentar em sua cadeira e pegar alguns papéis de uma gaveta que eu havia tentado abrir mais cedo sem sucesso, estava trancada. Ele passou um tempo lendo, totalmente concentrado.

Meu pai era um chefe respeitado na máfia, muito próximo do Don, e minha mãe e Alexandra sempre foram amigas, quando meu pai foi morto em uma emboscada planejada pelos russos, eu tinha apenas 10 anos. Roberto propôs casamento à minha mãe, e ela aceitou por ser um pedido do Don e porque não poderia cuidar sozinha da herança de meu pai.

Na máfia, uma mulher não é nada sem um marido. Achávamos que as coisas melhorariam, mas estávamos enganados, ao contrário do meu pai, que sempre foi cavalheiro com minha mãe, Roberto se tornou rude e agressivo depois de apenas dois meses de casamento. Ele bateu em minha mãe quando ela estava grávida de cinco meses e, após um ano de casamento, começou a me agredir. Eu tinha tanto medo dele quando ele bebia que trancava a porta do meu quarto e colocava um sofá na frente dela, e faço isso até hoje.

Fui interrompida pelo som de um telefone tocando, percebi que era o telefone de Roberto. Liguei o gravador do meu celular, já que não consegui instalar as escutas. Quem sabe hoje era o meu dia de sorte?

— Já disse para você não me ligar assim, sem me avisar antes, porra! ― Roberto atendeu a ligação irritado.

— Não me importo. Se ele te pegar e você abrir a boca, eu te mato antes dele. ― Quem será?

— Como assim? Apaixonado? ― Roberto perguntou ao ouvir o que a outra pessoa dizia. ― Aquela vadia brasileira? ― Concluiu. Meu Deus, ajude Dulce Maria.

— Deve ser uma boceta muito boa para ele fazer dela uma amante. Agora entendi. A hora está chegando, estou quase conseguindo o que quero, nem vou precisar que Christopher se case com a inútil da Agatha para unir os territórios, será ainda mais fácil. Vou eliminar meu irmão, minha cunhada e depois o Christopher, junto com aquelas crianças irritantes. O casamento será secundário, e ainda ficarei com a amante brasileira para torturá-la e fazer o que quiser. ― Meu Deus, esse homem é um demônio em forma de gente.

— Essa parte vai ser boa, depois eu a eliminarei e me casarei com Agatha. Uma boceta nova será muito melhor do que a velha da mãe dela. ― Não, minha mãezinha, não. Não vou permitir.

— Está tudo pronto. Fique de olhos e ouvidos abertos, ter os russos como aliados será excelente para quando eu assumir a posição do Don. O evento beneficente é hoje e Nikolai quer tudo resolvido. Vou adiantar as coisas e o plano segue o mesmo. ― Roberto concluiu e finalizou a ligação.

Rapidamente salvei a gravação. Deus, por favor, que o áudio tenha saído limpo, Christopher não precisará de mais nada para provar que há uma traição contra o Don depois dessa gravação.

Agora, finalmente, estarei livre. Só preciso que Christopher me tire viva daqui.

Bateram na porta e Roberto mandou a pessoa entrar. Era um soldado, avisando que havia alguém o esperando no galpão de treinamento da nossa casa. Roberto guardou os papéis, trancou a gaveta e se levantou, saindo do escritório.

Esperei um pouco, certificando-me de que não havia mais ninguém, e saí do armário ainda agachada. Consegui sair sem ser vista e, no meu quarto, fechei a porta imediatamente. Enviei a gravação para Christopher e, assim que vi que ele visualizou, apaguei-a do meu celular. Não podia correr o risco de ser descoberta com aquilo ali. Mandei uma mensagem.

"Por favor, ouça com atenção e salve essa gravação. Não tenho outra cópia. Improvisei o que pude. Espero que ajude."

Então finalmente pude respirar aliviada. Minha carta de liberdade estava sendo escrita e eu estava cheia de esperança.

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