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Dulce Maria Saviñon

A falta de Christopher estava me matando de saudades. As crianças já estavam agitadas, choravam à toa e faziam birra na hora das refeições. Era compreensível que se sentissem assim, já que fazia quase uma semana desde que ele partiu. As ligações não eram suficientes para acalmar as crianças. Eu segui com nossa rotina de sexo virtual, o que era bom, mas não se comparava a tê-lo aqui, tocando em mim.

Pedi a Giovanni que nos levasse ao parque que visitamos da última vez. Ele se recusou no início, dizendo que não era o momento de sair, mas no fim o convenci. Seria apenas uma horinha, e as crianças ficariam mais leves e menos irritadas. Minha irmã e Madá resolveram sair hoje à noite, dizendo que iriam "à caça", como elas costumavam chamar. Elas estavam aproveitando ao máximo antes de Anahí se afastar de mim. Sinto um aperto no coração só de pensar na sua partida.

No parque, tudo correu tranquilo, como sempre, com uma legião de soldados ao redor. As crianças não se importaram, e para ser sincera, eu também não me importo mais. Elas correram, pularam, rimos e brincamos ao máximo. Voltamos para casa, e notei uma movimentação estranha dos soldados, além de vários carros que, em vez de entrar, seguiram viagem.

— Algum problema, Giovanni? ― perguntei, segurando as perninhas das crianças, uma de cada lado.

— Não, Dul, apenas um contratempo em uma boate. Vamos resolver, já volto para casa, ok? ― respondeu Giovanni, mas não senti segurança em sua resposta.

Meu sexto sentido estava me alertando sobre algo.

— Você sabe se Christopher volta neste fim de semana? ― perguntei.

Ele nunca me dá uma data certa para voltar para casa, "nossa casa", como ele diz. Sinto um aperto no coração só de lembrar.

— Quando você menos esperar, ele estará ao seu lado. Não se preocupe — respondeu Giovanni seriamente, sem fazer piadas nem brincadeiras.

Alguma coisa estava errada. Talvez tenha sido coisa da minha cabeça.

Ele me deu um sorriso sem humor pelo retrovisor e desceu para abrir a porta do carro na entrada de casa. Nem percebi quando entramos.

Levei as crianças para o quarto. Elas estavam cansadas das brincadeiras, mas não queriam ceder ao sono. dei banho, troquei as roupas e assistimos a um filme no quarto deles mesmo.

Desci para arrumar um lanche, já que não queriam jantar. Estranhei o silêncio na casa. Margô não apareceu desde que cheguei com as crianças. Não havia ninguém na cozinha. Devem estar descansando nos aposentos.

Levei o lanche para as crianças, não era muito tarde, mas a energia deles já estava se esgotando. Contei histórias e os deixei dormindo juntos, como sempre fazia. Desci para tomar um banho no meu quarto e aproveitar para pegar os fones, pois queria estudar um pouco, já que meu italiano estava muito bom, mas sempre há espaço para melhorias.

Vesti um pijama de cetim de mangas compridas, confortável e comportado. Não estava com sono ainda, queria esperar Giovanni chegar.

Estava subindo para o quarto de Christopher, que agora também é meu, quando ouvi Carmem, de costas para mim, encostada na ilha da cozinha, olhando pela janela.

— Já está feito, todos adormeceram com o sonífero que coloquei no café. ― Como assim? Eu devia estar ouvindo errado. Será que meu italiano está uma droga? — Reuni todas as informações que estudei e, sim, estava ouvindo corretamente. Me abaixei atrás da ilha da cozinha e continuei ouvindo atentamente.

— Sim, eu sei. Eu amarrei todos para evitar o risco de acordarem e voltarem para casa antes de nos livrarmos desses insuportáveis aqui. Já temos os carros preparados. ― Meu Deus!

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