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Dulce Maria Saviñon

Quando Christian me deixou na porta do prédio já era meia-noite. Ele não mora mais com as meninas desde o ano passado, pois queria mais liberdade e não queria incomodar as meninas, já que sempre chegava tarde por causa do restaurante. As meninas não concordam e dizem que é para ele levar seus parceiros sem ter que fazer apresentações. Minha irmã diz que ele tem um "P.A" fixo (pau amigo) e o nomeou de Lombard. Segundo ela, todo mundo sabe que ele existe, mas ninguém nunca o viu. Ele nunca apresentou o cara, mas alguém está lá, e elas sempre brincam com ele por isso.

Madá e Annie ainda estavam acordadas me esperando para saber as novidades. Contei como conheci Paula e sobre a proposta de emprego. Colocamos os prós e contras na balança, pois a opinião delas era muito importante para mim. Elas concordam que é um emprego muito bom para arriscar, apesar de ficarem receosas por eu passar a semana toda fora de casa. O medo me domina de uma forma estranha, um medo de não dar conta.

Minha irmã disse que esse poderia ser o início de uma nova fase na vida.

Ela pode estar certa, preciso acreditar em mim e seguir em frente.

Maite e Marta me disseram que está tudo muito tranquilo. Pablo anda pelo prédio como se nada tivesse acontecido. Maite me contou que ele me procurou na casa dela, fez acampamento na porta da faculdade e até na casa da mãe dela. Ele agiu como um cachorro abandonado, dizendo que eu o abandonei e que está inconsolável.

Maite ainda disse que teve que se segurar para não dizer a ele que sabia de tudo e que ela me ajudou a fugir. Ele nem imagina que estou em outro país e que tive a ajuda dela. Como imaginamos, ele não procurou a polícia e não tem nenhum sinal meu, pois nem tranquei a faculdade. Ele sabe que não estive por lá. Estou satisfeita assim. Espero que ele esqueça que eu existo.

Deixo esses pensamentos guardados no fundo da minha mente e em um canto bem protegido do meu coração. Não posso simplesmente esquecer o que me machucou tanto. Ainda não estou preparada para isso. É melhor deixar guardado e não mexer em lembranças que machucam.

Pensando em coisas boas, relembro os conselhos de Maite e Marta para seguir em frente e não remoer o passado. Tenho tido pesadelos ruins com Pablo me sufocando, mas não me abalo. Antes de dormir, penso em coisas boas e peço a Deus para que seja apenas uma fase ruim, que isso vai passar.

[...]

— Chegamos, Dul. ― Paula avisou animada, apontando para o grande portão de aço preto à nossa frente.

Acordei muito cedo, queria ter tudo organizado e passei muito tempo pensando em como abordar as crianças para não repetir os erros das outras babás.

— Nossa, é muito grande, né? Sabia que era uma mansão pelas coisas que as meninas me disseram, mas não imaginava que fosse tão grande. ― Comentei, olhando em volta pelo vidro do carro de Paula. Os muros da mansão ocupavam um quarteirão inteiro. Não sei o que tem dentro, mas daria para construir um condomínio inteiro aqui. Por que alguém precisa de uma casa tão grande?

— Pois é, garota bonita, essa é a mansão mais bem avaliada de Lisboa. O cara tem dinheiro para comprar o que quiser. ― Ela disse, apertando o botão do interfone.

O portão se abriu para que pudéssemos entrar com o carro. Paula disse seu nome e paramos em uma guarita enquanto um segurança pegava nossos documentos. Mais dois seguranças cercavam o carro, segurando umas varas compridas com espelhos quadrados na ponta, semelhantes aos usados por equipes antibombas. Pediram para que não saíssemos do carro e revistaram o interior, passando um aparelho que apita como nos aeroportos. Eles estavam muito armados, nunca estive perto de armas, só vi pela televisão, e posso garantir que é assustador.

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