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Christopher Uckermann

Sentado no sofá preferido de Dulce Maria no jardim, com meu fiel companheiro dos últimos tempos, meu copo de uísque, nos tornamos inseparáveis há exatos 15 dias, desde aquela noite em que o chão se abriu aos meus pés. Há exatos 15 dias não ouço a voz da minha pequena, não sinto seus abraços e beijos. Ela não reage, não há previsão de que acorde. Já pensei em matar pelo menos três médicos que estavam cuidando dela, todos especialistas renomados, mas nenhum foi capaz de despertar minha esposa. Todos têm a mesma resposta: depende unicamente dela sair de seu subconsciente.

Não vejo Roberto, Carmen e seus comparsas desde aquela noite. Eles estão presos no meu calabouço especial feito para traidores como eles, vivendo há 15 dias com pão e água em uma cela que possui apenas um balde e grades. Dormem no chão frio, sem aquecimento, sem claridade. Seu único companheiro é a umidade, a escuridão e o silêncio. Apenas Roberto recebeu atendimento médico por causa da mão decepada, pois não quero que ele morra antes da hora. Eu direi quando poderá ir conhecer o inferno.

As crianças estão tristes, agitadas e nervosas. Elas vão ao quarto todas as manhãs, dão um beijo de bom dia em Dulce Maria, contam histórias e, à noite, cantam a música que ela costumava cantar para elas dormirem. Às vezes, permito que durmam na cama com ela, pois os médicos dizem que seria bom, pois Dulce Maria poderia ouvir. Minha vida está em pausa e continuará assim até que minha mulher acorde. Meus negócios estão sendo comandados por Alfonso, as questões da máfia por Giovanni e Christian, que estão por dentro de tudo que possa ser útil. Minha única função é estar ao lado de Dulce Maria, pois ela não vai acordar sozinha. Anahí e Madalena estão me auxiliando nessa jornada.

— Você vai passar o resto dos seus dias dentro dessa casa? ― Alfonso perguntou, sentando-se ao meu lado e pegando a garrafa de uísque que estava aos meus pés.

— Se for preciso, sim. ― Respondi, decidido a não sair daqui até que minha esposa esteja bem.

— Estou preocupado com você, você está sendo negligente. ― Ele olhou para a frente, apoiando os cotovelos nos joelhos.

— Você e Giovanni são meus braços direito e esquerdo, tenho certeza de que estão se saindo bem. ― Respondi, tragando meu cigarro e vendo a fumaça se dissipar no céu.

— Não estou falando dos negócios, estou preocupado com você. ― Ele olhou nos meus olhos e pude ver a sinceridade neles. ― Estou aqui como seu primo, não como seu futuro Consigliere. Você está descuidando de si mesmo, está bebendo mais do que o normal, está fumando com frequência e Margô me contou que não está se alimentando adequadamente. ― Porra, eles acham que sou uma criança.

— Margô está se tornando uma fofoqueira como o Giovanni? ― Perguntei com um humor ácido que tem me acompanhado nos últimos dias.

— Ela está preocupada com você, todos nós estamos. Anahí tem te visto passar a noite acordado na poltrona ao lado da cama de Dulce Maria. Há quanto tempo você não dorme, irmão? ― Era a pergunta de um milhão de dólares, nem eu mesmo sabia há quanto tempo não dormia uma noite inteira.

— Não sei, só conseguirei ter uma noite de sono tranquila quando Dulce Maria acordar. ― Eu não me permitiria perder nenhum momento ao lado dela.

— E você acha que ela vai ficar feliz quando acordar e perceber que você não cuidou de si mesmo? Que você está magro, com olheiras, com um pé no alcoolismo, fumando como uma chaminé? ― Giovanni perguntou, me surpreendendo ao se sentar na minha frente. Esses idiotas queriam me encurralar? ― Aliás, pode continuar assim mesmo. Quando Dul acordar, eu estarei à disposição dela. Afinal, você estará feio, magro, alcoólatra. Ela não vai te querer, e aí vai vir para o papai aqui. ― Ele riu e apontou o dedo em sua direção.

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